As agressões aconteceram no momento em que Lígia aguardava uma amiga na frente do shopping. "Foi tudo muito rápido no que se refere ao momento da agressão. Eu tinha acabado de sair do trabalho e estava na porta do shopping esperando uma amiga. Minha cunhada, que mora na Região dos Lagos, me ligou e disse que meu sobrinho perdeu um documento. Em determinado momento, eu gritei: "poxa, caraca, meu Deus, que trabalho". Aí essa cidadã passou por mim e me encarou. Eu fiz sinal que não estava falando com ela e a mesma começou a gritar e me xingar de 'macaca'", relata a vítima.
"Eu não tive reação, não respondi ela, não finalizei a ligação, eu fiquei paralisada. As pessoas que estavam ao nosso redor começaram a se incomodar e chamaram ela de racista. Foi aí que ela entrou no shopping e eu, em um momento de lucidez, fui atrás de um policial". Lígia conta que foi até a uma cabine policial e, sem sucesso, voltou ao shopping. "Na cabine eu disse "acabei de ser vítima de um racismo" e o policial disse que eu tinha que ligar pro 190. Voltei para o shopping e encontrei a Nathália, que é a testemunha. Ela contou que a agressora estava escondida no banheiro e que tinha chamado os seguranças. Após cerca de 40 minutos ela saiu do banheiro, foi levada pelos seguranças e agrediu a Nathália que estava filmando".
Os envolvidos foram encaminhados para a 23ª DP (Méier) e, no local, Lígia contou que um dos agentes reconheceu a agressora. "Ele olhou pra ela disse: 'você aqui de novo?'. Eu não sei em qual circunstância, mas ela já esteve ali. Por conta do horário, tivemos que seguir para a 21ª DP (Bonsucesso) para realizar o registro da ocorrência".
Já na 21ª DP, a vítima conta que foi desencorajada a todo momento a não realizar o registro da ocorrência. "Chegando na delegacia, eles falavam que não ia dar em nada. Ela começou a falar sozinha e eles falavam que ela era tão vítima quanto eu. Eu sofri o racismo, a vítima sou eu, ela precisa de tratamento se for constatado, mas isso não abona uma pessoa passar na rua, cometer um crime e seguir. Desencorajam a realizar uma ação que é direito nosso como cidadão. Isso precisa ser freado. Se ela realmente tem algum distúrbio, agora ela pode ser tratada e outras pessoas não vão passar por isso".
Questionada sobre a situação, a consultora de relacionamento finaliza: "Eu acordei vazia, a gente se sente muito diminuída. Falta gentileza nas pessoas, falta amor. Não julgue meu caráter pela cor da minha pele. A sociedade é sem cor e nós negros fingimos que não temos e vamos levando na raça. É preciso denunciar".
ALERTA RACISMO
— Nath (@nathhybner) March 5, 2020
Racismo no norte shopping, a autora chamou a vítima de macaca DIVERSAS VEZES, gritando, entrou no shop e se escondeu no banheiro, eu como testemunha fui atrás da criminosa e entrei em contato com os seguranças pra conduzi-la até a polícia pic.twitter.com/QhbcWGJ4ij