Viagens para os países com transmissão sustentada de Covid-19 devem ser feitas somente em casos de extrema necessidade - Tânia Rêgo/Agência Brasil
Viagens para os países com transmissão sustentada de Covid-19 devem ser feitas somente em casos de extrema necessidadeTânia Rêgo/Agência Brasil
Por MARTHA iMENES*
O número de pessoas contaminadas com o novo coronavírus em todo o mundo assustam os brasileiros, que ouvem dicas das mais estranhas (e não verdadeiras) para evitar o contágio e, se acontecer, como se livrar do Covid-19. O DIA foi às ruas ouvir as principais dúvidas da população e ouviu especialistas para dar dicas e tranquilizar quem anda "de cabelo em pé" por conta de tanta informação errada que vêm pelas redes sociais.

As principais recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de saúde são para lavar as mãos com água e sabão com frequência até o antebraço, utilizar álcool gel, evitar aglomerações, eventos e locais fechados, cumprimento de mãos, beijos e abraços - muito comum no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, que usa os dois beijinhos no rosto -, até mesmo a praia deve ser evitada por alguns dias.
Um dos principais motivos de corrida às farmácias, a compra de máscaras cirúrgicas, que acabou virando "acessório" do vestuário para algumas pessoas, pode ser deixada de lado, pelo menos por enquanto.

Segundo a infectologista Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, o uso de máscaras somente é recomendado para quem tem febre, tosse, dor de garganta e para profissionais que trabalham na área da saúde.

A doutora em imunologia do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR), Fernanda Marques de Carvalho, recomenda o uso de álcool 70% no caso de faltar o álcool gel. "É recomendável evitar contato físico entre as pessoas, tomando as medidas necessárias ao espirrar ou tossir (como utilizar um lenço descartável), não colocar mão na boca, olhos, nariz. Assim que possível, realizar a lavagem das mãos com água e sabão ou proceder a higienização com álcool 70%", orienta.

Relembre
Na sexta-feira o governo do Estado do Rio de Janeiro fez novas recomendações para evitar a propagação do vírus. Nas redes sociais internautas reclamaram das restrições. Mas por que uma medida tão drástica de fechar escolas, proibir shows, cinemas e até praia? Segundo especialistas, como a transmissão comunitária - quando não se sabe onde foi contaminado - foi detectada no estado, neste primeiro momento é necessário evitar aglomerações para conter a propagação do vírus.
Cabe ressaltar que o Ministério da Saúde decretou estado de emergência no Brasil. Inclusive jogos de futebol, a paixão nacional, serão com portões fechados em todo país. A Conmebol, por exemplo, suspendeu as competições essa semana e não há data para retorno dos jogos.
Colaborou a estagiária Rachel Siston
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Veja as principais dúvidas e as respostas
Explicações da infectologista Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro
Bianca Souza, 18, estudante: Quem precisa usar máscara?
Tânia Vergara: Pessoas que estão com tosse, febre, dor de garganta devem usar máscara ao se deslocar para o serviço de saúde onde será atendido. A máscara deve cobrir boca e nariz e se molhada deve ser trocada. Profissionais que trabalham na saúde também devem usar máscara.

Madson Pacará, 34, dona de casa: Como acontece e como evitar o contágio?
Tânia Vergara: De pessoa a pessoa, por gotículas de saliva ou pelo contato com superfícies contaminadas com o vírus. Ao espirrar ou tossir é preciso proteger a boca com a parte interna dos cotovelos ou com um lenço de papel, que deve ser descartado após o uso. A lavagem das mãos é indispensável. Use água e sabonete líquido, lavando palma e dorso das mãos, até os punhos, entre os dedos, polegares e unhas. O processo deve durar no mínimo 20 segundos. Evite passar a mão na boca e olhos, não coma sem antes higienizar as mãos e não compartilhe comida ou bebida no mesmo recipiente.

Eralda Guedes, 82, aposentada: Por quanto tempo a doença deve durar no infectado?
Tânia Vergara: Em média 14 dias.
Ian Matos, 23, promotor de vendas: Como a doença se espalhou tão rápido?
Tânia Vergara: Primeiro a falta de conhecimento da presença do Corona2 no ambiente, depois aglomeração, falta de medidas adequadas de higiene das mãos e superfícies, exposição ao vírus. Nesta época do ano também é grande o movimento de pessoas viajando que levaram e trouxeram o vírus.

Carla Cristina, 23, estudante: O novo corona vírus realmente mata? Quem são os principais afetados?
Tânia Vergara: Sim. O corona vírus tem uma taxa de letalidade global estimada em torno de 2%, mas em idosos acima dos 60 anos. Varia de 3,5% a 15% nos acima de 80 anos.

Vitória Nunes, 18, comerciante: Se os sintomas são bem parecidos com os da gripe, por que o corona vírus mata?
Tânia Vergara: Mata porque a infecção provoca alterações inflamatórias, principalmente, nos pulmões, que impedem que cumpra as suas funções. Evolui para insuficiência respiratória grave que obriga o uso de ventilação mecânica. Muitos pacientes não resistem. Afeta também o coração em algumas pessoas e em outras a infecção se generaliza, o que chamamos de septicemia, levando a falência orgânica múltipla.

Marcos Aurélio Cardoso, 55, pastor evangélico: O que é esse novo corona vírus? Existem outros?
Tânia Vergara: Corona vírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo corona vírus foi descoberto em 31 de dezembro de 2019, quando pessoas adoeceram na China. Chamamos de doença de corona vírus 2019 (Covid-19). Os primeiros corona vírus humanos foram identificados em 1937. Em 1965, o vírus foi descrito como corona vírus, por sua aparência microscópica de uma coroa. Infecções por corona vírus são comuns ao longo da vida, principalmente em crianças pequenas. Os corona vírus que mais comumente infectam humanos são o alpha corona vírus 229E e NL63 e beta corona vírus OC43, HKU1.

Flávia Macedo, 33, dona de casa: Quando procurar um médico, se os sintomas da gripe e corona vírus são parecidos?

Tânia Vergara: Se tem sintomas gripais como dor de garganta, tosse, dor no corpo, dor de cabeça, corisa e, mais raramente, diarreia, deve procurar assistência médica. O cuidado deve ser ainda maior se veio do exterior nos últimos 14 dias ou se teve contato com alguém suspeito ou com diagnóstico de COVID-19.

Explicações da doutora em imunologia do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR), Fernanda Marques de Carvalho.

Renata Damasceno, 30, técnica em enfermagem: Os locais que têm ar-condicionado precisam fazer limpeza frequente do aparelho?
Fernanda de Carvalho: Sim. Esta é uma recomendação para evitar diversos tipos de doenças respiratórias.

Nathercia Xavier de Lima, 26, dona de casa: Por que o isolamento é necessário?
Fernanda de Carvalho: O isolamento tem como objetivo a separação das pessoas que apresentam sintomas ou não, as que estão sob investigação clínica e laboratorial para evitar a propagação do novo corona vírus. O isolamento deverá ser prescrito pelo médico ou por recomendação da vigilância epidemiológica que determinará o tempo necessário.

Rogério Conceição Melo, 28, auditor: Como as pessoas que não podem higienizar as mãos a todo momento podem se proteger?
Fernanda de Carvalho: Evitando o contato físico entre as pessoas, tomando as medidas necessárias ao espirrar ou tossir (como utilizar um lenço descartável), não colocar mão na boca, olhos, nariz. Assim que possível, realizar a lavagem das mãos com água e sabão ou proceder a higienização com álcool 70%.

Joana D’arc, 45, consultora executiva: Quem teve a doença e se curou pode voltar a contrair?
Fernanda de Carvalho: É possível que essas pessoas possam ter uma reinfecção. Por isso, é importante manter as medidas de proteção mesmo que a pessoa tenha sido curada.

Daiane Medeiros, 26, assistente administrativa: Como diferenciar uma doença crônica respiratória do corona vírus?
Fernanda de Carvalho: Doenças crônicas são aquelas de progressão lenta e de longa duração e normalmente o indivíduo possui um acompanhamento médico. Já na infecção causada pelo corona vírus é possível que dentro de 2 a 14 dias os sintomas possam surgir.

Renata Ferreira, 33, assistente administrativa: O que significa o vírus estar ativo no Rio?
Fernanda de Carvalho: Significa que já está sendo transmitido de pessoa para pessoa no Rio de Janeiro e não somente casos isolados de pessoas que retornaram de lugares que já tinham casos ativos, os chamados "casos importados”.

Larisse Henrique, 24, assistente administrativa: É possível pegar corona vírus através de alimentos?
Fernanda de Carvalho: Ainda não tempos comprovação científica sobre esse tipo de contágio, mas é possível que quando uma pessoa que estiver contaminada com o Covid-19 tossir ou espirrar em um alimento, por exemplo, e uma outra pessoa consumir, ao entrar em contato com a mucosa oral dessa pessoa, ela também se torne infectada.
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Medidas de precaução nos transportes
Rio, 20/02/2020 - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS/PARCEIRO - Movimentação após VLT parar na manhã desta quinta-feira (20), no Centro do Rio de Janeiro. Foto: Onofre Veras/Parceiro/Agência O Dia
Rio, 20/02/2020 - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS/PARCEIRO - Movimentação após VLT parar na manhã desta quinta-feira (20), no Centro do Rio de Janeiro. Foto: Onofre Veras/Parceiro/Agência O DiaOnofre Veras/Parceiro/Agência O Dia
A recomendação do Ministério da Saúde de evitar locais com aglomeração de pessoas aumentou o receio dos passageiros em utilizar os transportes coletivos, já que são a principal forma de deslocamento para milhares de pessoas, diariamente. Por conta disso, as concessionárias que operam no Estado do Rio adotaram medidas de precaução.

A SuperVia vai contratar equipes especiais para executar trabalhos de desinfecção interna dos trens e está desenvolvendo materiais de comunicação sobre a prevenção da doença. Seguindo as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o MetrôRio divulga campanhas educativas de prevenção realizadas pelos órgãos de saúde.

Os funcionários da concessionária são orientados sobre a prevenção da doença. O BRT passou a divulgar informações das autoridades de saúde desde a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país e colocou cartazes nas estações para orientar usuários. Já a Federação das Empresas de Transporte do Rio (Fetranspor) aguarda orientações técnicas das autoridades de saúde para colaborar em ações de esclarecimento e prevenção da doença.

Os usuários das barcas podem contar com dispensers de álcool em gel 70% nas estações e informa, por meio de locuções, sobre ações preventivas contra o novo corona vírus. Os funcionários estão sendo treinados pelo Departamento Médico da Empresa.
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No Veículo Leve sob Trilhos (VLT), um dos principais transportes usados por turistas, o serviço de portas será liberado automaticamente, para evitar que os passageiros toquem no botão que abre as portas. As ações diárias de limpeza serão intensificadas, incluindo a desinfecção dos balaústres, e haverá redução no tempo de limpeza dos aparelhos de ar-condicionado. Os fiscais vão receber frascos de álcool gel para higienização constante das mãos.