A vontade de sair à rua, confraternizar com amigos e familiares tende a aumentar. Mas a hora é de enfrentar essa falta de liberdade - Reprodução/Eric Antunes
A vontade de sair à rua, confraternizar com amigos e familiares tende a aumentar. Mas a hora é de enfrentar essa falta de liberdadeReprodução/Eric Antunes
Por Yuri Eiras

Rio - O confinamento recomendado pelo governo por conta da disseminação do novo coronavírus pode trazer problemas a quem sofre de ansiedade e depressão. Para esse grupo, até termos com forte carga emocional, como 'pandemia' e 'isolamento', podem afligir. Por isso, outras palavras serão fundamentais a partir de agora: cautela, atenção e amor serão os remédios dos psicólogos para os pacientes que precisarão lidar com a solidão. 

Presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Pedro Paulo Bicalho alerta que, além dos que precisam lidar com os quadros de ansiedade e depressão, há outro grupo que pode ter o confinamento como um obstáculo difícil de ser superado: os idosos, um dos principais grupo de risco.

"Você já vê no Brasil relatos que está sendo difícil manter a mãe de 80 anos em casa porque é uma pessoa saudável, que gosta de andar na rua. Esse processo de estar isolado, em especial em uma cidade como o Rio de Janeiro, que nós experimentamos a rua como um lugar dos encontros, é difícil. É preciso construir estratégias para lidar com esse aspecto emocional", explica. Bicalho acredita que a tendência é que a quantidade de pessoas com crise de pânico e ansiedade nas emergências aumente proporcionalmente ao número de casos. A solução, para o psicólogo, é informar pelos meios corretos e agir com cautela, seguindo todas as recomendações sanitárias. 

"É importante que as pessoas saibam que não é no primeiro espirro que devem procurar o sistema de saúde. É um protocolo que todo mundo deve aprender: em que momento devo ficar em casa, quando eu devo ir à urgência. Estejamos tranquilos do modo como lidamos com os protocolos, para que a gente não construa um pânico e um desmantelamento de saúde". 

Tamara Menezes, psicóloga, já teve que lidar na última semana com pacientes com crise de ansiedade pela pandemia. "É preciso dizer a verdade, sem aumentar nem diminuir a gravidade da situação. A serenidade pode evitar que surja outros problemas além do próprio coronavírus. O pânico é um gatilho frágil que pode ser ativado a qualquer momento, em qualquer pessoa".

 Atendimento online é possível

O Conselho Regional de Psicologia lembra que desde 2018 há um protocolo de atendimento psicológico pela Internet. "É importante apontar que os atendimentos clínicos a população podem continuar sendo feitos, não estão sendo suspensos. Todos os cuidados estão sendo tomados, guardando a distância entre o psicólogo e o paciente. Mas desde 2018 está autorizado o atendimento online", afirma Bicalho.
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Cabeça ocupada afasta maus pensamentos
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Diego Lima,diagnosticado há anos com ansiedade e depressão, optou por ocupar a mente com livros e filmes para não se sentir sufocado pelo confinamento. "Pensar em não sobrecarregar o nosso sistema de saúde é primordial. Em casa, eu retomei algumas leituras, estou ouvindo podcasts (programas em formato de áudio), vendo filmes".
Para ele, pensar que está ajudando para um bem maior também ajuda. "Isolamentos tendem a disparar gatilhos para quem tem ansiedade e depressão. Mas o pensamento na coletividade tem sido a chave para segurar minhas próprias fragilidades. Mas isso é um detalhe perto dos riscos que corremos".
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Dicas de ouro para lidar bem com a quarentena
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Beatriz Moüra, psicóloga clínica
"Procure questionar seus pensamentos. Com as informações de Whatsapp, é preciso ver a fonte. Se você é ansioso, quanto mais informações obter do coronavírus, mais ansioso ficará, já que a ansiedade é um ciclo. Busque fonte confiáveis"
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"Crie uma rotina. Isso irá diminuir a ansiedade, o estresse e o desânimo. O que você tem para fazer que não fez? Ponha a leitura em dia, arrume o guarda-roupa, reveja o que precise de roupas, organize e convide a família para essa organização"
"Momento de trabalho em família. Divida as tarefas de casa com os demais, crianças e adolescentes. Marido também pode fazer parte. Pode e será divertido"
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George OliSan, mestre em avaliação psicológica e hipnólogo
"Vou ficar isolado. Isso necessariamente será ruim? Necessariamente tem que ser um período de sofrimento? Já que existe Whatsapp, Instagram, Facebook, Skype e outras tantas possibilidades de contato social em telecomunicação, vamos aproveitar. É necessário que as pessoas avaliem isso"
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"É tão ruim assim você estar em sua casa e não poder ler um livro, organizar suas coisas? Ou cumprir deveres como limpar o quintal para não ter dengue, cuidar do seu velhinho para ele não ficar doente?"
"Por mais cuidado que a pessoa tenha, ela não vai conseguir controlar todas as variáveis possíveis de uma contaminação. Essa paranoia pode ser prejudicial na medida que pode gerar estresse e ansiedade. Você pode passar álcool gel 500 vezes na sua mão, mas não vai adiantar se você for na rua comer no self-service, onde a comida fica exposta. Você toma cuidado de um lado, mas pode se contaminar do outro. É preciso ser racional"
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