Faixas de conscientização na Rua Itararé, em uma das entradas do Complexo do Alemão, alertam a população das favelas sobre a prevenção contra o coronavírus - Ricardo Cassiano
Faixas de conscientização na Rua Itararé, em uma das entradas do Complexo do Alemão, alertam a população das favelas sobre a prevenção contra o coronavírusRicardo Cassiano
Por HUGO PERRUSO
Rio - Parcela da população menos assistida pelo poder público, os moradores de várias comunidades do Rio se mobilizam por conta própria para combater o coronavírus. A luta já começou, com o primeiro caso confirmado de um paciente com Covid-19 na Cidade de Deus. Enquanto isso, grupos do Complexo do Alemão, da Maré, Cidade de Deus, Acari, Baixada Fluminense e outras áreas estão fazendo campanhas de conscientização e de arrecadação de produtos de higiene.
No Alemão, o coletivo "Juntos pelo Complexo" produziu oito faixas, colocadas nas principais vias de acesso, com avisos à população para lavar as mãos frequentemente ou doar água a quem não tem. Também foi desenvolvido um texto de aviso sobre o coronavírus que vem sendo repetido na Rádio Poste da Nova Brasília. Até mesmo um funk educativo foi criado por MC Willian da Canitá e DJ Marlon.
Publicidade
Entre as ações, o coletivo se organiza para cobrar das autoridades a falta de água em algumas localidades. E também busca arrecadar dinheiro ou doações de produtos de limpeza. Esse tem sido o principal foco nos últimos dias do Juntos pelo Complexo, que inclusive doou recentemente 7 litros de sabonete líquido para algumas clínicas do local que estavam sem o produto.
Publicidade
"Na favela, infelizmente, falta muita coisa básica. Ficar em casa de quarentena não é fácil pra quem vive numa casa insalubre com mais de 5 pessoas. As doações vão ajudar a gente a providenciar o básico, desde produtos de limpeza a até um possível transporte de mantimentos", afirmou Thainã de Medeiros, do coletivo Papo Reto, um dos grupos de apoio.
Doação para o Alemão - divulgação twitter
Publicidade
Para fazer o trabalho, os integrantes do Juntos pelo Complexo têm se revezado nas tarefas, tentando seguir os cuidados para evitar a contaminação." Buscamos distribuir cartazes e trocar ideia ao vivo pedindo aos moradores para irem para casa. Tudo isso com o desafio de cuidarmos da própria saúde para não sermos nós os vetores de transmissão. Estamos nos revezando, evitando ficar muita gente junto no mesmo espaço. Muitos têm parentes em grupo de risco em casa e têm medo de passar qualquer coisa para eles", completa Thainã.
Na Maré, foi organizado um plano de comunicação que conta com doações de água e itens de higiene. A ideia é produzir cartazes e faixas com avisos pela comunidade, e materiais de conscientização para redes sociais e rádio.
Publicidade
Por parte do poder público, até o momento não há muitas ações efetivas para essa parcela da população. No Governo do Estado, não há plano específico além das recomendações já realizadas, como o apelo às lideranças comunitárias para que evitem bailes funk e que suspendam visitas de turistas. Segundo a assessoria da secretaria estadual de saúde, a conscientização nas comunidades cabe às unidades básicas de saúde que acompanham de perto dos moradores.
Já o prefeito Marcelo Crivella, em entrevista ao DIA, também reforçou o pedido para não haver aglomerações."Hoje, o que a gente aconselha para quem mora nas comunidades é não aglomerar. E se tiver febre alta com dificuldades de respirar procure a clínica de saúde da família que ali vai ser examinado".
Publicidade
A sugestão de Crivella é justamente o que o infectologista Edimilson Migowiski diz que deve ser evitado. Ele reforça os principais cuidados que devem ser tomados pelo poder público nas comunidades. "O primeiro ponto é a educação de saúde. Sempre. O segundo é o incremento obrigatório da estratégia da saúde da família, para que esses moradores possam ser tratados em casa, evitando que transitem e transmitam para outras pessoas. Isso é fundamental", afirmou.
Campanha de doações para o Jacarezinho - divulgação