Em pronunciamento, Bolsonaro minimiza efeitos do novo coronavírus no Brasil - Reprodução
Em pronunciamento, Bolsonaro minimiza efeitos do novo coronavírus no BrasilReprodução
Por Yuri Eiras
Rio - O pronunciamento em cadeia nacional do presidente Jair Bolsonaro, na noite de terça-feira, repercutiu mal entre associações de medicina e especialistas em saúde pública. Ao tentar tranquilizar a população para que siga a rotina mesmo com os aumentos de casos do novo coronavírus no Brasil, Bolsonaro disse que "raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade". Ele ainda comentou que "nada sentiria, quando muito seria acometido de uma gripezinha" por ter "histórico de atleta".
Professora da UFRJ e médica especialista em saúde pública, Ligia Bahia tratou como "desserviço" o pronunciamento do presidente. "Não faz nenhum sentido. Essa fala é de uma pessoa que não frequentou as aulas de Biologia. Nós, que tivemos aulas de Biologia nos nossos cursos de ensino fundamental, sabemos que os agentes biológicos estão na natureza. E, se estão na natureza, nós todos temos contato. O fato de 86% das pessoas não apresentarem sintomas não quer dizer que o agente biológico vai escolher quem ficará doente ou não. Essa preferência social, que é o que ele está propondo, que atletas são imunes, jovens são imunes, não existe para o agente biológico. O que ele está falando é um absurdo do ponto de vista científico. Atletas, pessoas jovens podem ter problemas com o coronavírus", explicou Ligia.
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Presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (SIERJ), Tânia Vergara afirma que Bolsonaro vai na contramão do que é a recomendação mundial dos infectologistas. "Quando todas as autoridades de infectologia do mundo recomendam o isolamento social, o afastamento, mesmo com todo mundo sabendo as implicações econômicas e sociais disso, não pode uma pessoa ir contra a recomendação da comunidade científica mundial".

Associações se manifestam contra

Em nota pública, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) chamou de "incoerente" e "criminosa" a fala do presidente. "Nossas entidades representativas da comunidade brasileira de sanitaristas, epidemiologistas, planejadores e gestores de saúde, cientistas sociais e outros profissionais da área de saúde pública vêm a público denunciar os efeitos nocivos das posições do presidente da República sobre a grave situação epidemiológica que estamos vivendo. Seu pronunciamento perverso pode resultar em mais sofrimento e mortes na já tão sofrida população brasileira, particularmente entre os segmentos vulneráveis da sociedade". 
A Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (SIERJ) tratou com preocupação o discurso. "Tais mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção social são inadequadas e que a Covid-19 é semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doença com baixa letalidade. É também temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é grave, pois até hoje já foram registrado mais de 420 mil casos confirmados no mundo e quase 19 mil óbitos".