Edgard dos Santos - fotos ARQUIVO PESSOAL
Edgard dos Santosfotos ARQUIVO PESSOAL
Por Yuri Eiras

Funcionários da agência do Catete do Banco do Brasil, zona sul do Rio, lidam com a tristeza e o medo. Edgard Pereira dos Santos, que trabalhava no banco, morreu no último fim de semana com sintomas da Covid-19, aos 66 anos - fazia parte do grupo de risco por ser idoso. Ele precisou dar expediente na agência mesmo durante o decreto da quarentena, e os colegas de trabalho agora temem a disseminação do vírus.

Querido na agência e nos bairros do Catete e Flamengo, Edgard chegou a mandar mensagens aos amigos quando foi internado. "Sou mais um na estatística do coronavírus. Nesse momento, estou internado no Copa D'or. Cuidem-se! Não vão na onda do Bolsonaro. A coisa é séria, não é um resfriadinho. Fiquem em casa!", escreveu aos colegas. Segundo relatos, ele trabalhou normalmente até o dia 13, sexta-feira. Na segunda seguinte, apresentou um quadro de gripe e recebeu afastamento de uma semana.

No dia 27, sexta-feira, os médicos diagnosticaram que Edgard não melhorou e passou a apresentar falta de ar. "Ele foi internado imediatamente no Copa D'or e uma radiografia no pulmão mostrou pneumonia dupla. Os médicos disseram aparentar sintomas de Covid-19", diz a mensagem de um colega nas redes sociais. Ele morreu antes de o resultado sair. "Os funcionários da agência estão em estado de choque. Ele teve contato com vários desses colegas", diz o relato.

Apaixonado pelo Rio, Edgard já faz falta nas rodas de amigos. E eram várias. O economista e fisioterapeuta era também praticante de capoeira e tai chi chuan, além de figura carimbada nas rodas de choro e samba - tocava cuíca e clarinete. "O Edgard foi um ativo militante do movimento estudantil na década de 1970. Tinha uma atividade participativa em termos políticos, mas era um amante da cultura. Participava de rodas de choro, de samba, fazia poesias. Era uma figura da região do Catete, Flamengo. Ele fez aniversário esses dias e comemorou sozinho com a esposa porque não tinha como receber pessoas", disse o jornalista Luiz Carlos Azêdo, amigo de juventude.

Já a atriz e diretora de teatro na companhia 'Agromelados', Erika Ferreira morreu no último sábado, aos 39 anos, com suspeita de coronavírus. Erika, que tinha diabetes, foi internada na terça-feira no Hospital de Clínicas Alameda, em Niterói. Por sua comorbidade, o quadro se agravou e ela morreu antes da confirmação do resultado por Covid-19. A atriz, que participou do espetáculo musical 'É Samba na Veia, É Candeia', deixou uma legião de amigos e fãs de seu trabalho. 

"Ela me deu muito carinho. Não teve filhos, então ela meio que me adotou. Erika vinha almoçar aqui em casa às vezes, me chamava para espetáculos com a minha mãe, me tratava muito bem, respeitava muito. Na época, eu era uma criança de 13, 14 anos e fiquei encantado por ela", disse Alcindo Batista, amigo íntimo de Erika, a quem chamava de 'mãe'. "Ela tinha um sorriso lindo, uma aura muito boa. Sorria, cantava, sambava. Mas, apesar de simpática, ela era uma mulher séria e guerreira no que se propunha a fazer. Tinha voz ativa". 

 

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