Copacabana: princesinha do mar vazia por causa do isolamento social - Fabio Costa/Agencia O Dia
Copacabana: princesinha do mar vazia por causa do isolamento socialFabio Costa/Agencia O Dia
Por Juliana Pimenta
Rio - Um dos setores mais importantes da economia do Rio, o turismo, tem sofrido com os efeitos da expansão do coronavírus. Agências de viagens, funcionários de pontos de interesse, como museus e áreas de visitação, e os 8 mil guias de turismo cadastrados no estado perderam suas rendas de uma hora para outra.

Arnaldo Bichucher, presidente da Liga Independente de Guias de Turismo (Liguia), conta que a situação tem assustado aos empregados da área. "O turismo foi o primeiro a parar e vai ser o último a ser retomado. Até que as pessoas tenham confiança para sair de casa e viajar, isso vai demorar muito tempo", explica o guia de turismo, que tem uma preocupação especial com os trabalhadores independentes.

"No momento, os guias que são autônomos estão passando por grandes dificuldades. Principalmente os guias que fazem todo dia a mesma excursão, com grupos que compram a passagem na hora. Esse guia ganha hoje para comer amanhã. Ele é menos remunerado e situação é muito mais frágil", destaca Bichucher que questiona, inclusive, o auxílio oferecido para a categoria.

"O governo do Estado, através da Secretaria de Turismo, está tentando ajudar através de linhas de crédito emergenciais. O primeiro valor que tinha na AG Rio já foi esgotado: são linhas de crédito com carência de pelo menos um ano para começar a pagar, com juros muito baixos. Mas na nossa opinião, isso não resolve o problema. O empréstimo nada mais é do que criar uma dívida sem a certeza de que vamos conseguir pagar no futuro", argumenta o presidente da associação que defende que é o melhor caminho ainda é a transferência de renda, que depende de aprovação em instância federal.

Retomada

Responsável por pensar na agenda do estado no meio da crise, o secretário de Turismo Otávio Leite enfatiza a gravidade do problema enfrentado. "Depois da saúde pública, o setor mais atingido pelo coronavírus é o setor do turismo, que impacta pelo menos 52 atividades. Desde o Galeão que tem 15 mil funcionários, até as pelo meno três mil agências de viagens. Com a ausência do cliente, todo esse circuito fica paralisado", explica o secretário que lembra que a atividade é o carro-chefe do estado.

"O Rio estava em uma retomada muito interessante. Acabei de sair de uma reunião e o governador pediu para focarmos em alternativas para ajudar. Em linhas gerais, é uma realidade de profunda preocupação e estamos trabalhando para a amenizar isso. No que diz respeito à esfera estadual, com abertura de linhas de crédito para a agência e para os guias de turismo", conta.

Rotina das agências

Dona de uma agência de viagens em Nova Iguaçu, Anne Cerqueira Gomes também já sentiu os impactos da pandemia. "Nós perdemos muitos pacotes. A maioria simplesmente cancelou, sem nenhum pagamento ou acerto de uma nova data", conta a empresária que foi obrigada a tomar novas medidas.

"Isso fez com que eu dispensasse minha funcionária, cancelasse com guias e colaboradores freelance e fechasse a agência por tempo indeterminado. Continuamos com postagens nas redes sociais, mas não temos solicitações de orçamentos", relata Anne que tem como carro-chefe o turismo pedagógico e espera que, a partir de agosto, os passeios voltem a ocorrer normalmente.

Portas fechadas

Sandro Fernandes é CEO do Bondinho Pão de Açúcar, que está com as atividades suspensas desde o dia 17 de março, conforme recomendação do governo. Apesar de destacar a importância da medida em meio à crise, o executivo não deixa de expressar um receio com a situação vivida pelo setor. "A nossa preocupação não é apenas com o Bondinho Pão de Açúcar, mas com toda a indústria do turismo no Rio de Janeiro e no Brasil. Acreditamos que, mesmo quando o país começar a superar esta fase e retomar suas atividades, a cadeia do turismo será uma das últimas a sentir a melhora do cenário", explica o executivo que tenta mensurar o prejuízo do fechamento temporário das portas.

"O Bondinho recebe uma média de um milhão e meio de visitantes por ano, e o impacto da crise certamente será expressivo. Acreditamos que todo o mercado de turismo e entretenimento deve se unir neste momento para avaliar como podemos superar essa crise de escala global. Para isso, também é urgente que as esferas municipais, estaduais e federais nos apoiem e tragam medidas concretas para encontrarmos a melhor solução", reivindica Sandro Fernandes.

'Não cancele, adie'

Desde o início da crise, foi lançada a campanha “não cancele, adie”, ou seja, pedia-se para que pacotes de turismo que já foram comprados, não fossem cancelados, mas adiados. “Não resolve o problema, mas dá um alento no futuro. Fora que nesse momento, é muito difícil convencer alguém a comprar uma viagem, um pacote ou um passeio para fazer lá na frente. Eu sei que o meu trabalho só vai aquecer de verdade em dezembro. Eu tenho dois ou três trabalhos adiados, mas o resto foi cancelado”, destaca o guia Arnaldo Bichucher.

Otávio Leite faz coro. “É um movimento necessário neste momento e nós apoiamos Remarcar às vezes é mais barato do que cancelar e a pessoa mantém vivo o sonho da viagem. Eu gosto muito dessa ideia, do cliente poder comprar algo agora e para usar depois”, afirma o secretário.