Coveiros do Cemitério São João Batista tiveram que mudar a vestimenta, as luvas simples e uniformes comuns deram lugar a trajes especiais - Daniel Castelo Branco
Coveiros do Cemitério São João Batista tiveram que mudar a vestimenta, as luvas simples e uniformes comuns deram lugar a trajes especiaisDaniel Castelo Branco
Por Yuri Eiras
Rio - A curva de mortes por contaminação do coronavírus cresce a cada dia. São 20 vítimas confirmadas na capital, oito no interior e outras 49 suspeitas em investigação. A contagem dos cemitérios, no entanto, já ultrapassa os números oficiais. A Coordenadoria de Cemitérios do município afirma que já ocorreram "21 sepultamentos ou cremações com óbitos atestando a doença", e outros 174 sepultamentos de "casos suspeitos e devidamente atestados" nos 21 cemitérios da cidade, no mês de março.
Os funcionários dos cemitérios, na linha de frente do risco de contaminação, se protegem como podem. Todos corpos que chegam com dignóstico de alguma insuficiência respiratória na certidão de óbito são enterrados sob o procedimento de segurança: botas, luvas, máscara, óculos e roupa de proteção.  "A gente toma precaução quando tem sepultamento de via respiratória. Todos que têm problema respiratório são enterrados com segurança, por via das dúvidas, seja pneumonia, Covid-19 ou qualquer outro", afirma Alan Ramiro, gerente administrativo da Rio Pax no cemitério São João Batista, em Botafogo.
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Assim foi realizado o enterro de Magna Soares Almeida, de 40 anos, no São João Batista. O caixão permaneceu o tempo todo fechado e a despedida dos familiares foi rápida. A causa da morte na declaração de óbito veio Covid-19. A família contesta. "Ela não tinha nenhum sintoma. Nem tosse, nem nada. O (hospital) Miguel Couto colocou coronavírus, mas acho que não foi", afirma o marido, Otávio de Araújo. Ele reclamou do atendimento da UPA da Rocinha.
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Mortes suspeitas na Rocinha aumentam
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"Na terça-feira ela sentiu uma forte dor na coluna. Foi na UPA da Rocinha, mas foi muito ruim o atendimento e ela voltou para casa. Mas se batia na cama, dizendo que ia morrer. Ia e voltava da UPA e não era internada. Foi levada para o Miguel Couto no sábado e foi operada. Disseram que ela estava com bactéria no fígado, pus no abdômen e água no pulmão, que não são sintomas de coronavírus. Ela não resistiu". Otávio disse que a esposa chegou a fazer teste para o coronavírus, mas a confirmação não saiu. A morte é mais uma suspeita na Rocinha, maior e mais populosa favela do Rio de Janeiro: na terça-feira, a idosa Maria Luiza Santana, 70, morreu na UPA com suspeitas da doença.
Rio Pax garante cemitérios com estruturas
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O provável aumento no número de casos não preocupa a Rio Pax, concessionária que administra seis dos 13 cemitérios municipais do Rio: Piabas (Recreio), Campo Grande, Irajá, São João Batista (Botafogo), Pechincha (Jacarepaguá) e Inhaúma. A administradora garante que "já realiza massivos investimentos em todas as necrópoles que administra" e que a quantidade de túmulos "é adequada para atender aos sepultamentos que nos forem direcionados".
'Ganha pouco e corre risco'
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Pouco citados entre os profissionais que correm mais risco de contaminação pelo coronavírus, os coveiros seguem no árduo trabalho, que aumenta a cada atualização de mortes suspeitas pela Covid-19. Considerado um dos serviços essenciais, eles estão diariamente em contato com corpos que podem estar infectados. Por via das dúvidas, utilizam equipamentos de proteção desde a chegada dos corpos até o último adeus da família. "A gente fica aflito pelo risco de pegar o vírus. O problema é a família que fica em casa. Moro em cima da minha mãe, idosa. Meu medo é mais por ela e pela minha esposa do que por mim mesmo", afirma um coveiro de um cemitério da Zona Norte. "A gente ganha pouco e corre risco."