Rio, 08/04/2020, Irmaos da Toca de Assis doam comidas a moradores de rua no Centro, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia - Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Rio, 08/04/2020, Irmaos da Toca de Assis doam comidas a moradores de rua no Centro, foto de Gilvan de Souza / Agencia O DiaGilvan de Souza / Agencia O Dia
Por ANA CARLA GOMES
Rio - O tradicional vaivém de pessoas voltando para casa após mais um dia de trabalho, de ônibus ou carro, não existe mais como antes nas noites do centro do Rio. Mas os irmãos da Toca de Assis, uma congregação religiosa, seguem percorrendo esse e outros bairros da cidade, quando as luzes dos escritórios já se apagaram, com os olhos voltados para outra direção. No momento em que o mundo luta contra a pandemia do novo coranavírus, que já infectou mais de 1,5 milhão de pessoas, eles intensificam o tradicional trabalho com moradores de rua.
“Em meio a tempos difíceis desta pandemia do vírus da Covid -19, estando todos os dias nas ruas com os pobres, sempre me pego a refletir sobre o sofrimento daqueles que estão esquecidos nas calçadas. Sei que são tempos difíceis, mas essas pessoas em situação de rua são hoje os mais vulneráveis. Além de todo o sofrimento da história pessoal de cada um, agora vivem este momento”, afirma o irmão Cordeiro Humilis.
Ele e mais três irmãos - Miguel, Samaritano e Felipe - foram escolhidos para ficar mais isolados na casa de Benfica da Toca de Assis (a outra fica no Cosme Velho).
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“Para que não houvesse riscos de disseminação da Covid-19 entre nossos acolhidos, sendo alguns do grupo de risco, tivemos que colocar quatro irmãos para realizar este trabalho mais intenso nas ruas e deixá-los mais isolados, na casa onde atendemos, em Benfica”, explica o irmão Francisco da Cruz.
“Lá, eles vivem a sua rotina religiosa de oração e adoração e estão disponíveis para a retirada das doações que chegam para a Pastoral de Rua, bem como preparam a comida, embalam e fazem a entrega aos moradores de rua”, completa.
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Ele explica que o trabalho foi intensificado porque eles começaram a receber relatos de necessidade de comida e água por conta do isolamento social e pelo fechamento do comércio e lugares onde os moradores de rua conseguiam ajuda.
Irmão Francisco ainda detalha os cuidados que estão sendo tomados: “Para evitar aglomeração, a saída é um pouco mais tarde que o comum. Assim, os irmãos os encontram já recolhidos e tranquilos e vão dando individualmente as marmitas e água sem agrupamento de pessoas. Como proteção, usam máscaras, luvas e álcool gel constantemente”.
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Um dos responsáveis por estar em contato direto nas ruas, o irmão Cordeiro diz que não sabe viver sua vocação longe dos pobres. “Pensar minha vida sem estar com eles é como pensar em não existir. Eles nos conhecem pelo nome. São como pequenos luzeiros que iluminam as noites do Rio de Janeiro, muitas vezes imperceptíveis à sociedade, mas, para nós, que temos a oportunidade de sentar e partilhar com cada um, é como encontrar um membro de nossa família. São nossa família”, diz.
Para os religiosos, mais do que nunca é preciso pensar no coletivo, seja qual for a crença. “É preciso união neste momento. Independentemente do credo, da condição social e etc, é preciso a unidade no cumprimento das normativas que as autoridade competentes têm nos dado e, ao, mesmo tempo, sem deixar de cuidar do outro, dos que mais precisam, especialmente os idosos e vulneráveis”, defende irmão Francisco.