Em tempo de isolamento social, nem todo mundo leva na esportiva um vizinho mais barulhento. Som alto depois das 22h, o cachorro latindo sem parar, um músico empolgado ou festa sem hora para acabar podem tirar a paciência — e o sono — de qualquer um.
Mas a criatividade e o bom humor transformaram um barulho, que para muitos seria incômodo, ou até constrangedor, em motivo de piada. Um Youtuber de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, ganhou seguidores e likes extras ao narrar, nas suas redes sociais, o sexo no apartamento vizinho em plena quarentena. Não foi a primeira vez que Thomas Santana, de 25 anos, registrou as estripulias da dupla animada, mas o caso ajudou a fazer rir muitos que estavam em isolamento social, e o assunto chegou a ser um dos mais comentados no Twitter.
Mas isso é uma exceção no meio de uma enxurrada de reclamações entre vizinhos, que vêm aumentando durante a pandemia. Para o advogado Roberto Bigler, dono de uma empresa que gerencia cerca de 200 condomínios na Baixada Fluminense, Grande Rio e parte da Zona Oeste, isso está bem claro.
"Nos meus cálculos, as reclamações sobre vizinhos aumentaram em 20%", avalia Bigler, que afirma, porém, que 'reclamar do sexo barulhento do vizinho não é tão comum assim. Isso geralmente não aparece nos livros de reclamação. As pessoas, às vezes, se sentem constrangidas de colocar algo do gênero, mas esse tipo de incômodo existe sim", conta ele.
"Aqui, na Zona Sul, está tendo muita bagunça. Tem uns jovens que fazem festa até altas horas, devem se encher de álcool, ficam gritando, xingando. Um domingo deu até polícia. A festa começou de tarde e até uma hora da manhã estavam com música alta, gritando e xingando as pessoas que pediam para diminuir o som", reclama Juliana Pinto, moradora do Leblon.
Bigler, que é presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB de Nova Iguaçu e diretor jurídico adjunto da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), lembra uma situação recente e inusitada.
"Vizinhos fizeram bingo na varanda e convidaram todas as outras varandas. Isso causou uma discussão violenta nos grupos de WhatsApp do condomínio, que não é um dos que eu administro", lembra ele, aos risos.
"As queixas são para o que antes as pessoas nem se incomodavam. Já que elas estão trabalhando em casa, as crianças estão em casa, confinadas, o grau de tolerância diminui, e isso naturalmente influencia (no aumento das reclamações)", explica Bigler.