Rubem Fonseca: autor teve obras adaptadas para a TV e o cinema - ZECA FONSECA/DIVULGAÇÃO
Rubem Fonseca: autor teve obras adaptadas para a TV e o cinemaZECA FONSECA/DIVULGAÇÃO
Por O Dia
Rio - O escritor e jornalista Rubem Fonseca morreu, no início da tarde desta quarta-feira (15), aos 94 anos, vítima de um infarto fulminante. Autor de romances como 'Agosto' e 'Feliz Ano Novo', Fonseca foi vencedor do prêmio Camões em 2003 e é considerado um dos principais nomes da literatura policial brasileira.

Seu mais recente trabalho foi o livro Carne Crua, de 2018, que reuniu contos inéditos. Sua obra é publicada no Brasil pela Nova Fronteira, selo da Ediouro. Ainda não há informações sobre a data e local de enterro de Rubem Fonseca.
Grande incentivador do romance urbano
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Uma das anedotas preferidas da escritora Lygia Fagundes Telles envolvia Rubem Fonseca: quando ela venceu o Prêmio Camões, em 2005, eles almoçaram em comemoração e ele a pediu em casamento, pois o vencedor fatura 100 mil euros. O engraçado é que o próprio Fonseca vencera dois anos antes, para gargalhadas de Lygia. O autor de 'Os Prisioneiros' (1963) era, sim, um mestre tanto na escrita policial como na ironia, que o tornaram no grande incentivador da escola do romance urbano brasileiro.

A começar pela obsessão pela privacidade e aversão a fotos e entrevistas, que o tornavam um cidadão comum em qualquer lugar, apesar da fama. Dele, sabia-se ainda que foi um camelô que vendia gravatas no centro do Rio e também delegado de polícia, nos anos 1950 e 60. A experiência policial foi decisiva na definição do estilo seco e direto com que retratou o mundo do crime em seus contos mais famosos, como os que figuram em 'Os Prisioneiros', 'A Coleira do Cão' (1965), 'Lúcia McCartney' (1967) e 'Feliz Ano Novo' (1975), um dos livros proibidos pelo governo militar por fazer "apologia da violência" e conter cenas e expressões atentatórias "à moral e aos bons costumes".

Com essas histórias, Fonseca inaugurou a moderna literatura urbana no Brasil, ao revelar as entranhas da sociedade e antecipar a escalada de violência no País. O que o destaca sempre foi sua habilidade em conduzir uma história, fornecendo aos poucos os detalhes para o leitor, prendendo-o à narrativa.

Apesar de ser mestre da prosa curta, que marcou o início de sua carreira literária, Fonseca também se destacou nos romances, que constituem a segunda fase de sua ficção. Como bem observou o crítico Silviano Santiago, nas obras que vão de 'A Grande Arte' (1983) a 'Vastas Emoções' e 'Pensamentos Imperfeitos' (1988), há um requinte, uma aspereza e uma depreciação no manuseio do saber armazenado pelas enciclopédias, pelos tratados das ciências exatas e humanas. "Esse saber assegura certa soberania para o trato da erudição na terceira fase, em que o ficcionista acossado se sai com coragem e brilhantismo invulgares - ou seja, com deliciosos, arrebicados, injuriosos, luxuriosos e libidinosos nonsenses", observa.

Trata-se do momento em que Fonseca aposta novamente nas narrativas de linguagem enxuta mas mais provocativa - em 'Diário de um Fescenino' (2003), ele aproveitou a estrutura de diário para, com fina ironia, revelar suas apreensões e confissões. Era como se conseguisse uma estranha remissão às obras passadas, especialmente quando se aventurou de forma delicada e precisa no terreno amoroso (é o caso de 'Secreções, Excreções e Desatinos'). Se não gostava de aparecer fisicamente, Fonseca revela-se por inteiro em sua escrita.