Edson Senna, Sergio Lyra e David Sousa, funcionários do restaurante popular de Bangu - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Edson Senna, Sergio Lyra e David Sousa, funcionários do restaurante popular de BanguRicardo Cassiano/Agencia O Dia
Por Yuri Eiras

Rio - A pandemia do novo coronavírus engrossou a já imensa multidão de desempregados do Rio de Janeiro. Sem dinheiro para a alimentação básica, muitos agora recorrem aos restaurantes populares da cidade - em Bangu, Campo Grande e Bonsucesso -, onde a comida é boa e o preço é baixo: R$ 0,50 o café da manhã, R$ 2 o almoço ou jantar. Na quarta-feira, 2.812 pessoas almoçaram nas três unidades. Para servir à população, cozinheiros, auxiliares e nutricionistas, heróis anônimos, acordam antes do amanhecer para preparar as refeições. A fome dói e não espera.

O café da manhã começa às 6h, o almoço às 10h e o jantar - o novo horário dos restaurantes populares -, às 17h. Amor e dedicação estão no tempero de quem elabora os pratos e cozinha. "O nosso trabalho é de suma importância. O objetivo sempre foi auxiliar na erradicação da pobreza extrema. Mas, hoje, a gente está atendendo a um público novo, que antes não vinha porque tinha condições de comprar comida", explica a nutricionista Flávia Costa, responsável pelo cardápio balanceado na unidade de Bangu.

Sergio Lyra é, há nove anos, o chef de cozinha do restaurante popular. Morador da Taquara, ele demora quase duas horas no trajeto até a unidade, próxima da estação de trem de Bangu. A carga de trabalho aumentou por conta do novo serviço de jantar - inclusive nos fins de semana -, mas nada que abale o orgulho pelo ofício, fundamental para as mais de mil pessoas que fazem suas refeições ali, todos os dias - são 800 no almoço e 200 no jantar, em média. "Eu saio de casa às 4h, chego por volta de 5h45 e deixo tudo organizado para a janta", conta.

O cuidado com a higiene, que já era grande por conta da manipulação dos alimentos, foi redobrado. David Sousa, auxiliar na cozinha, nem cumprimenta os colegas antes de lavar as mãos. "A higienização está em primeiro lugar. Estão em cima mesmo, cobrando a gente, e estão certos. Eu chego 6h e entro direto no banheiro, higienizo as mãos para atender os clientes", diz David. Em casa, na Cidade de Deus, a bronca também rola se não houver higienização. "Moro com a minha tia e ela é a que mais cobra".

Edson Senna, também ajudante na cozinha, observa a importância dos restaurantes populares para quem tem fome. "É um trabalho muito importante porque as pessoas que vêm aqui são de baixa renda. É um trabalho com amor, carinho e dedicação, para que eles saiam satisfeitos e bem alimentados. Muitos agradecem pela boa comida, pelo bom atendimento. Isso dá orgulho", afirma.

 

Serviço de quentinha nos fins de semana para quem está em grupo de risco
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Os restaurantes populares adotaram uma medida importante para não faltar alimento a quem precisa: agora oferecem quentinhas aos sábados e domingos, durante o período da quarentena. No último fim de semana, 11 e 12 de abril, foram 2.241 vendidas a R$ 2. 
O objetivo da iniciativa é também ajudar quem faz parte do grupo de risco do novo coronavírus, que não podem sair de casa. Por isso, a administração dos restaurantes populares iniciou parceria com as associações de moradores.
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"Os representantes das associações de moradores poderão comprar até 100 quentinhas para entregar nas residências dessas pessoas", explica o secretário municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação (SMDEI), Cláudio Souza. Para isso, deve fazer o pedido até 48h antes do dia em que for retirar no restaurante de preferência.
"Muitas pessoas acabam comprando para os filhos que estão em casa e que não podem sair", explica Flávia Costa, nutricionista do restaurante de Bangu.
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