Isabella Magalhães fala sobre coronavírus - Arquivo pessoal
Isabella Magalhães fala sobre coronavírusArquivo pessoal
Por Waleska Borges
Rio - Curiosas, as crianças gostam de saber como as coisas acontecem. E diante da pandemia, não é diferente. Muitas questionam sobre o isolamento social, a doença e emendam um 'por que' atrás do outro. A busca dos pequenos pela compreensão do que está ocorrendo no mundo já causa reflexos, como medo da morte e a apreensão pelo que está por vir. Apesar da pouca idade, essa turminha já sabe sobre cuidados que devem seguir, os riscos de descumprir as recomendações dos especialistas e até sobre o sistema imunológico do corpo.
Moradora de Passos, em Minas Gerais, Laura Oliveira, de cinco anos, sabe na ponta da língua como lavar as mãos, passar álcool gel e que o cuidado é necessário. "Se você não fizer isso, o coronavírus pode entrar no seu corpo e te deixar dodói. Você vai ter que ir para o médico e tomar injeção". A técnica de edificações Ednéia Oliveira, mãe de Laura e de Miguel, conta que a filha mais velha consegue entender o motivo de ficar em casa, ao contrário do caçula, de dois anos. Para entreter as crianças, ela procura envolvê-las em várias atividades e brincadeiras.
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"A Laura fica sonhando em brincar fora de casa, ir para praça, mas ela tem medo de sair porque acha que o coronavírus vai pegá-la. Diz que está muito triste com a situação", relata Ednéia.
A bióloga Jamaican Magalhães, de 40, que mora com a família no Rio de Janeiro, acredita que o impacto é grande na vida de Isabella, de nove anos. A pequena tem demonstrado preocupação. "Há uma semana, começamos a descer com ela do apartamento para tomar um solzinho por causa da vitamina D. Ela estava com muito medo. Só descia de máscara e com o álcool gel na mão o tempo todo, tudo que ela encosta desinfeta", contou.
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Isabella, que tem feito os deveres online, quer muito voltar para a escola. "O coronavírus infecta as pessoas. Se seu sistema imunológico estiver forte, você conseguirá resistir. Mas, se não for tão forte assim, você poderá ter sérios danos", explica a menina, com propriedade sobre o assunto.
De acordo com o engenheiro Marcelo Aldaher, de 41, também do Rio de Janeiro, sua filha Lara, de cinco, já demonstrou preocupação com o futuro. A menina, que sente muitas saudades dos avós, costuma orar diariamente "para esse bichinho ir embora". Segundo o pai de Lara, ela também tem medo de sair na rua por causa da doença. "O coronavírus é um bichinho mau que faz algumas pessoas morrerem. Então, proteja-se. Tem que lavar a mão e passar o álcool gel. Só é necessário ir para a rua se você vai na farmácia ou hospital", orienta a pequena Lara.
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A dona de casa Fernanda Velozo, de 37, moradora de Volta Redonda, conta que teve a oportunidade de tirar a filha Laura, de sete, de um ambiente fechado para uma área verde. "Nesse ambiente, ela pode correr e brincar. Depois disso, parou bastante de ficar questionando o porquê de ficar em casa. Com as aulas online, tento encaixar o que tinha antes do coronavírus sem transgredir as regras. Vamos fazer isso até que essa curva da doença diminua e possamos voltar à rotina normal". E é Laura Morena que deixa o recado: "O coronavírus é um bichinho bem pequeno que não deixa a gente sair na rua. Faz mal para as pessoas. Se for sair, use máscara, passe álcool gel e lave suas mãos."
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Conversa franca ajuda o entendimento dos pequenos
Mas como lidar com as muitas dúvidas das crianças nessa pandemia? Nesta situação, a primeira atitude por parte do adulto, segundo a psicopedagoga e neuropsicóloga, Thais Monteiro, do Centro Universitário IBMR, é conversar com os pequenos. Segundo ela, não é possível esconder da criança algo que tanto desorganizou a vida da família. De acordo com a especialista, a serenidade e a honestidade com os meninos e meninas são fundamentais para passar a confiança de que eles precisam.
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"Existem coisas que, realmente, não cabem ao universo infantil. Levando em questão a idade, há situações inevitáveis. Estamos vivendo uma delas. Essas crianças, se têm escola, hoje, estão em casa tendo atividades remotas. Elas não estão vendo seus amigos, parentes. Estão deixando de fazer atividades físicas, de brincar de interagir", explica Thais. Ainda de acordo com a neuropsicóloga, as crianças estão vendo os pais na mesma situação delas: "Não tem como você esconder da criança algo que é tão concreto e que desorganizou tanto a vida daquela família".
Conforme a especialista, o fato de não conversar sobre o assunto com a criança pode ser complicado. "Elas podem começar a fantasiar coisas que não são fatos, principalmente, as pequenas. Com isso, podem sentir toda a ansiedade que a família está passando e apresentar sintomas", disse Thais. Ela explica que os adultos, ao falarem sobre a doença, podem lembrá-las que, provavelmente, elas ou seus parentes já passaram por uma situação de gripe ou outro problema de saúde que as levaram para o hospital.
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"O responsável pode dizer que coronavírus causa uma doença que está se espalhando rápido e que o objetivo é que fiquemos em casa, para impedir que ela se espalhe muito rápido e leve todo mundo ao hospital", orientou Thais. A neuropsicóloga lembrou ainda que as crianças maiores já podem entender o problema mais facilmente até por conta dos seus conteúdos escolares. Ela ressalta que é importante falar francamente.
"O que ela não perguntou não adiante, não passe além. Aquilo que ela tiver maturidade de entender vai perguntar". Um outro dado considerado importante pela especialista é a chance de ser adotado, durante a pandemia, o comportamento preventivo. "Temos a oportunidade de implantar nas crianças hábitos de higiene. como o de não levar as mãos a boca e em nada que está no chão. São condutas e comportamentos construtivos em relação a vida, a saúde e o alto cuidado", alertou.
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De acordo com Thais, se a criança está muito tempo no celular, com medo, ansiedade e dificuldade para dormir é preciso conversar com ela: "Você vai falar com naturalidade que também tem medo. Ela estará aprendendo que ninguém é super herói, que podemos ter nossos medos e superamos juntos se cuidando e se gostando".