Cemitério de Irajá cria novas gavetas para ampliação dos sepultamentos com o aumento de óbitos durante a pandemia - Cléber Mendes
Cemitério de Irajá cria novas gavetas para ampliação dos sepultamentos com o aumento de óbitos durante a pandemiaCléber Mendes
Por Yuri Eiras
Rio - A subnotificação é o principal obstáculo que impede o Rio de Janeiro de medir o tamanho da catástofe que a pandemia causa. O Portal da Transparência de Registro Civil, que reúne dados dos cartórios de todo o país, aponta que as declarações de óbito "ligadas a doenças respiratórias, mas inconclusivas" aumentaram 5.600% em relação ao ano passado: foram 342 mortes no estado de 1º de março até ontem. Esse número era de apenas seis óbitos no mesmo período em 2019.
O aumento também foi grande nos registros de causa da morte por Síndrome Respiratória Aguda Grave. Foram nove óbitos entre março e abril de 2019 no Rio de Janeiro e 247 no mesmo período de 2020, um aumento de 2.644%. As mortes por doenças respiratórias diversas podem engrossar as estatísticas da subnotificação de covid-19, já que poucas vítimas internadas fazem o teste para confirmar a contaminação.
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"Na verdade, os estudos mostram que os nossos números são de 8 a 15 vezes maiores do que estão sendo divulgados. Eu acho que se a gente tivesse uma notificação mais adequada, talvez as pessoas tivessem mais responsabilidade. É uma coisa exclusivamente brasileira", afirma a médica geriatra Roberta França.
O Portal da Transparência de Registro Civil também aponta, no Rio de Janeiro, cinco óbitos por coronavírus entre crianças com menos de nove anos - três do sexo masculino e dois do feminino. Esses também são casos em que a Covid-19 foi mencionada como causa da morte, mas não necessariamente foi confirmada.
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Com o aumento da demanda, os cemitérios da cidade fazem obras de expansão para dar conta de uma provável escalada de corpos. Funcionários trabalham no Cemitério de Irajá para construir mais 4.208 gavetas. Outras 7.251 serão construídas no Cemitério de Inhaúma - ambos são administrados pela empresa Rio Pax. A construção das quase 12 mil gavetas, segundo a concessionária, já estavam previstas desde o início da concessão. Na semana passada, o Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, administrado Reviver, já havia iniciado a construção de 12 mil novas gavetas.
Prefeitura autoriza que funerárias façam registros de óbitos
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A Prefeitura do Rio autorizou, em medida publicada no Diário Oficial, que as empresas funerárias façam os registros de óbito após os sepultamentos. Antes, a morte precisava ser registrada em cartório para só então o corpo ser sepultado. O processo causava dificuldade, já que os cartórios têm trabalhado em horário reduzido. "A gente estava percebendo que os sepultamentos ocorriam no horário da tarde, em função dos horários do cartórios terem reduzido. Para a gente fazer o sepultamento, precisamos passar no cartório antes. A gente dependia muito dos horários deles, o que direcionava os sepultamentos para a tarde. Tava causando o início de uma confusão", explica Leonardo Martins, presidente do Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do Rio de Janeiro. A medida que é opcional, deve agilizar o processo.
"Se a pessoa, por exemplo, ligou para a funerária às 15h50. Eu tenho horário na parte da manhã, mas precisaria ainda passar no cartório para registrar o óbito. Então, não conseguiria sepultar na manhã do dia seguinte. Com essa medida, consigo sepultar pela manhã e depois vou ao cartório", exemplifica Leonardo.
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Associação do setor funerário reclama de falta de ajuda do governo
A Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif) diz que o governo federal negou apoio logístico para amenizar o caos do setor funerário em Manaus (AM), onde o aumento no número de óbitos foi de 300%. A associação pediu que fosse disponibilizado um meio de transporte aéreo para fazer o transporte de 2 mil urnas para a capital amazonense, mas o pedido foi rejeitado.
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"A situação se agrava a cada minuto. O setor tem vários caminhões carregados de urnas a caminho de Manaus. Contudo, esta viagem, que ocorre parte por via terrestre, parte por balsa, demanda vários dias", reclama o presidente da Abredif, Lourival Panhozzi. "O pedido da Abredif era para que, neste momento, fosse disponibilizado transporte aéreo, o que possibilitaria uma pronta reposição das urnas, até que as cargas vias terrestres chegassem", completa. O Amazonas tem 320 óbitos confirmados.