Por Juliana Pimenta

A pandemia do novo coronavírus expõe o drama da falta de leitos na rede pública do Rio. Segundo Alexandre Telles, diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (SinMed-RJ), há, em todo o estado, 1.300 leitos inativos nas redes municipal, estadual e federal de saúde. Ele aponta motivos diversos, como falta de profissionais, equipamentos danificados ou cancelamento de cirurgias eletivas. De acordo com Telles, existem, só no município do Rio, 300 pessoas à espera de vaga em CTI.

"Nós estamos em meio a uma pandemia, com leitos sem uso que poderiam ser adaptados para receber pacientes de covid-19", diz Telles.

Um dos pacientes que aguardam leito é Aidano Jacinto de Melo, de 84 anos. Com febre, dores no corpo e baixa saturação de oxigênio, ele deu entrada no Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, onde ficou deitado sobre cadeiras aguardando atendimento.

"Tivemos que levar travesseiro e lençol para o hospital, porque ele ia dormir sem nada. Ele não fez o teste para coronavírus, mas está em uma sala com oito pessoas com suspeitas da covid-19", conta Rosângela Melo, nora do paciente, que desabafa: "Pagamos nossas contas em dia, mas quando precisamos do estado, somos tratados como lixo".

A reportagem enviou questionamentos às três esferas da rede pública de saúde. A Secretaria de Estado de Saúde não deu explicações sobre leitos ociosos, mas informou que foram abertos 724 novos leitos para covid-19 desde o início da crise. O Ministério da Saúde justificou que os leitos ociosos foram projetados para outras especialidades — mesma alegação da Prefeitura do Rio, que negou haver leitos para covid-19 inativos no Rio.

Vagas ociosas no hospital de Acari
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Unidade de saúde do município referenciada pela prefeitura para o atendimento aos casos de coronavírus na cidade, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, também tem problemas. A avaliação é do vereador Átila Nunes (DEM), que fez uma vistoria na unidade de saúde, na última sexta-feira, ao lado do deputado federal Pedro Paulo (DEM). Segundo Átila Nunes, foram verificados 151 leitos parados na unidade de saúde, a maioria deles por falta de técnicos de enfermagem.
"Encontramos leitos em perfeito estado que poderiam estar em uso neste momento em que os casos da doença avançam. O quarto andar, inclusive, está vazio, sem camas, mas com alguns aparelhos de oxigênio ligados de forma desnecessária", afirma o vereador.
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Questionada pela reportagem sobre as denúncias de Nunes, a Prefeitura do Rio não respondeu até o fechamento desta edição.
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