Claudia ainda fica no quarto e vê o filho, João, pela porta de vidro
 - Arquivo Pessoal
Claudia ainda fica no quarto e vê o filho, João, pela porta de vidro Arquivo Pessoal
Por ANA CARLA GOMES
Prestes a completar 56 anos, no dia 31, a professora Claudia Maria Vasconcelos Lopes se apresenta: "Sou Maria porque nasci em maio e minha mãe é muito católica". E não faltaram orações, de muitas crenças, pela sua recuperação desde sua internação por covid-19. Ela recebeu alta na última terça-feira, com recomendações para ficar sozinha no quarto, usar utensílios separados e fazer exercícios respiratórios. Mesmo ainda vendo o filho, João Carlos, de 18 anos, pela porta de vidro da varanda do apartamento na Ilha do Governador, Claudia é só alegria por ter passado o Dia das Mães em casa: "O coração? Está flutuando!".
Após ter os primeiros sintomas no dia 17, Claudia chegou a ir ao hospital duas vezes, tendo sido diagnosticada com pneumonia por covid-19 e seguindo prescrição com dois antibióticos até ser internada em 24 de abril. "Ficava sozinha no quarto e todos que entravam usavam os equipamentos exigidos e uma roupa que rasgavam e jogavam fora. Eram breves, mas muito humanos. O que mexeu comigo. Um dia, no auge do desespero, uma copeira deixou minha comida e um papelzinho. Foi nesse momento que eu olhei para minha fé". Nele, estava escrito: "Deus é o médico dos médicos e vás te curar".
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A falta de apetite era um complicador. "Não comia nada, tudo ia para o lixo. Um enfermeiro conversou comigo e disse: 'Diga o que você quer que eu peço!' Assim, comi um pequeno pedaço de maçã!", conta ela, que teve dificuldades respiratórias. "O oxigênio era a minha vida! Cheguei a utilizar quatro litros e, mesmo assim, a saturação era baixa."
Claudia lembra que nem sua irmã médica podia ir até a ala dos pacientes de covid. Seu WhatsApp estava lotado de mensagens, mas ela não tinha nem ânimo para respondê-las. Amigos de várias religiões se uniam em oração. Dessa forma e ouvindo músicas, passou a se fortalecer. "Senti uma luz em minha alma e mandei mensagem para pessoas que julgava e/ou não mais falava. Apenas dizia: 'Te amo!' Foi libertador!", lembra.
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De longe, um 'visitante' era especial: "Meu companheiro, Allan Pedro, ia diariamente ao hospital rezar no jardim". O filho não saía dos seus pensamentos: "Levei 12 anos para tê-lo, pois tinha problemas e sempre lutei para ser mãe. Pensava: 'Preciso ficar boa para acabar de criá-lo'". A mãe, Dona Fernanda, descrita como uma fortaleza, fez 87 anos no dia 26, durante a internação da caçula — Rita e Eliane são as filhas mais velhas.
No dia 5 de maio, veio a alta: "O meu coração batia muito quando a médica me falou: 'Moça, de alta!' Queria abraçá-la. O meu coração se encheu de alegria e me fortaleceu ainda mais para manter a corrente de oração pelos necessitados". Na cadeira de rodas, chorou entre aplausos. "Quando fui descendo, parecia que estava saindo no aeroporto. Na minha cabeça a cidade que eu estava não tinha luz! O céu azul me agraciou quando vi meu filho de longe e meu companheiro. Ainda não pude abraçá-los, mas farei isso em breve".
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Depois que os abraços voltarem e a vida voltar aos trilhos, Claudia já sabe os planos que deseja seguir:  "Quero manter meus projetos de extensão no Cefet para ajudar no futuro de nossos jovens tão sedentos e necessitados. Retornar à igreja para fazer um trabalho que fazia antes, organização das missas e acolher os que perderam seus entes queridos. Levar a vida mais amena, e compreender o tempo de Deus, que não é o nosso".