Menino foi morto a tiros durante operação policial. Estava dentro da casa da tia, no Complexo do Salgueiro, com os primos 
 - Arquivo Pessoal
Menino foi morto a tiros durante operação policial. Estava dentro da casa da tia, no Complexo do Salgueiro, com os primos Arquivo Pessoal
Por Thuany Dossares

Foram 17 horas de procura e aflição, até a família do estudante João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, descobrir o seu paradeiro, na manhã de terça-feira. Ele estava morto, no Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. O adolescente ficou desaparecido após ser baleado dentro de casa e socorrido pelo helicóptero da Polícia Civil, durante uma operação conjunta com a Polícia Federal, no Complexo do Salgueiro, no mesmo município, na tarde de segunda-feira.

O corpo de João Pedro foi sepultado no final da tarde desta terça, no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. Parentes contam, que o sonho dele era ser advogado. "Meu sobrinho teve o sonho interrompido. Era um menino estudioso, engraçado, muito divertido. Queremos justiça", desabafou Denise Roza, tia do adolescente.

João Pedro cursava o 9º ano do ensino fundamental no Centro Educacional Pereira Rocha, no bairro Porto do Rosa, e a escola suspendeu as aulas online no dia 19, por solidariedade à família e aos amigos do adolescente.

De acordo com o professor de Ciências Leandro Gouveia, João Pedro sempre foi um ótimo aluno e muito querido por todos na escola.

"Eu dava aula para ele há dois anos. Sempre foi bom aluno, participativo e tinha vários amigos. Sempre respeitou muito todos os professores e funcionários da escola, era um garoto religioso, de família. Mesmo durante a pandemia, ele estava presente em todas as aulas online. Muito triste isso que aconteceu com ele, lamentável", disse.

Família ficou 17 horas sem notícias 

Familiares afirmam que o estudante foi socorrido pelos agentes de segurança por volta das 14h de segunda, e que os policiais não deram informações sobre onde estavam o levando. Na manhã de ontem, foi divulgado que o João Pedro foi atendido por médicos bombeiros, que apenas constataram seu óbito, por volta das 15h15, no Grupamento de Operações Aéreas (GOA) do Corpo de Bombeiros, na Lagoa, Zona Sul do Rio.

"Os policiais pularam o muro da nossa casa atrás dos traficantes e entraram atirando. Todo mundo se jogou no chão, mas o João foi atingido na barriga. Os policiais rapidamente pegaram ele e o colocaram dentro do helicóptero. O pessoal foi tentar ir atrás, mas o policiais não deixaram e ainda o ameaçaram, dizendo que se eles saíssem iriam atirar", informou um primo, que preferiu não se identificar.

 

Jovem foi levado para o bairro da Lagoa, no Rio
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Na cidade de São Gonçalo, há o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), unidade de saúde que conta com heliponto e fica a cerca de 15 quilômetros da Praia da Luz, no Complexo do Salgueiro, onde João Pedro foi baleado. O local estava liberado para o pouso de aeronaves. Questionada se os policiais acionaram o Heat, a assessoria de imprensa do governo estadual não se pronunciou.
A base militar onde João Pedro foi levado fica a 43 quilômetros de distância do local da ocorrência.
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Questionadas sobre o local de socorro do adolescente, a Polícia Federal respondeu que "a Polícia Civil já abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte e do socorro". Já a Polícia Civil se limitou a informar que a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) instaurou inquérito para apurar o caso.
A corporação garantiu ainda que a própria especializada fez a perícia no local e que duas testemunhas prestaram depoimento na delegacia: "Os policiais foram ouvidos e as armas apreendidas para confronto balístico".
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Autoridades políticas cobram respostas
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O caso gerou grande repercussão entre as autoridades. A assessoria do governador Wilson Witzel, que vem sendo criticado por suas políticas de segurança pública, informou que "o governador lamenta profundamente a morte do adolescente e presta sua solidariedade à família neste momento de dor", além de "ter determinado rigorosa investigação sobre as condições da morte do jovem".
Em nota, a Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Alerj classificou a tragédia como "consequência da falta de uma política pública calcada em inteligência, prevenção e investigação". A presidente da comissão, Renata Souza, reforçou ainda que repudia a política do governador Wilson Witzel, "é cruel que o governo destine à morte nossa juventude negra, que deixe uma mãe virar uma noite sem saber pra onde levaram seu filho, provavelmente morto", concluiu.
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