Menino foi morto a tiros durante operação policial. Estava dentro da casa da tia, no Complexo do Salgueiro, com os primos 
 - Arquivo Pessoal
Menino foi morto a tiros durante operação policial. Estava dentro da casa da tia, no Complexo do Salgueiro, com os primos Arquivo Pessoal
Por Thuany Dossares
Rio - O Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública solicitou que o Ministério Público Estadual (MP-RJ) conduza a investigação da morte de João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, para garantir a imparcialidade na elucidação dos fatos. O caso está sendo investigado, atualmente, pela Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG). O MP-RJ já confirmou que o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP) irá acompanhar o andamento do caso.
O adolescente foi atingido, dentro de casa, por um tiro de fuzil durante uma operação conjunta entre as polícias Civil e Federal, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na última segunda. Segundo as instituições, os agentes foram até a comunidade da Região Metropolitana para cumprir dois mandados de busca e apreensão contra traficantes e houve troca de tiros com os criminosos.
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"Como o fato envolve policiais civis, a gente entende que pode não ter imparcialidade na investigação. Não é suspeita alguma sobre delegado, é pela questão de que o crime envolve a própria corporação. Não existe independência. Demos entrada com este pedido, na quinta-feira, e o MP já deu retorno confirmando que instaurou Procedimento Investigatório Criminal (PIC), que é um procedimento do MP, como o inquérito, só que conduzido por promotor de justiça ao invés de delegado de polícia ", explicou a defensora pública Lívia Casseres.
Familiares e sobreviventes devem prestar depoimento na próxima semana 
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O órgão de defesa está prestando assistência jurídica à família de João Pedro para acompanhar o andamento das investigações. Segundo Lívia Casseres, os familiares do estudante e os primos e amigos, que estavam com ele na casa no momento do tiroteio, devem começar a prestar depoimento no Ministério Público na próxima semana.
"Já estamos articulando com os promotores e com os familiares e sobreviventes para que eles prestem depoimento no MP. Isso já deve começar a acontecer nesta próxima semana, pelo menos por parte dos jovens sobreviventes. O delegado Allan Duarte queria marcar ontem os depoimentos dos pais, mas eles estão em período de luto. A ideia também é de que os esclarecimentos deles não sejam feitos na DH, porque o MP oferece um ambiente mais acolhedor e seguro, isso são regras internacionais de direitos humanos", explicou a defensora pública.
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O Núcleo de Direitos Humanos informou ainda que solicitou formalmente, na quinta-feira, o acesso ao inquérito para a Delegacia de Homicídios. Lívia Casseres conta que o foco principal da família é na elucidação do caso.
"A família ainda está muito mal com a perda do João Pedro. O foco nesse momento é que a investigação ande, estamos focados da responsabilização do crime. Não temos menor a duvida que o Estado tem responsabilidade, nem que seja a responsabilidade civil, mas o foco inicial não é no processo", finalizou Casseres.
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Delegado se coloca à disposição para esclarecimentos 
Procurado, o delegado titular da DHNISG, Allan Duarte, garantiu que está a disposição da Defensoria Pública e do Ministério Público para quaisquer esclarecimentos. "Já foi feito contato com a Defensoria Pública e com o MP. Estou a disposição para qualquer esclarecimento e para que eles acompanhem as nossas diligências, inclusive in loco. Eles estão convidados a irem conosco e participar da reprodução simulado que iremos fazer no Salgueiro nos próximos dias", declarou Duarte.
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O Ministério Público do Rio informou que o GAESP irá para apurar, no âmbito da tutela da cidadania, a legalidade e a probidade da operação policial, realizada por agentes da Polícia Civil, em apoio à Polícia Federal.

“O GAESP/MPRJ já entrou em contato com o titular da Delegacia de Homicídios de Niterói informando que irá acompanhar o andamento do caso e com o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio, que assiste a família da vítima. Com a formalização do pedido de auxílio, será instaurado um Procedimento de Investigação Criminal (PIC) para apuração independente e autônoma do fato”, declara a coordenadora do GAESP/MPRJ, promotora de Justiça Andréa Amin.

Ministério Público Federal também entrará no caso
O Ministério Público Federal (MPF) também irá abrir um procedimento para apurar dados da operação, que resultou na morte do estudante João Pedro Matos Pinto, de 14 anos.
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Uma procuradora que atua na Procuradoria da República de São Gonçalo já instaurou um inquérito para apurar todas as circunstâncias da operação. O MPF/RJ agora está definindo se as investigações precisarão ser transferidas para o Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial, responsável pela apuração de dados de operações da Polícia Federal. A procuradora da República, inclusive, já teria feito contato com seu colega, Eduardo Benones, que atua nesses casos.
A morte de João Pedro e o sofrimento da família durante as 17 horas sem notícias sobre seu paradeiro ganharam repercussão nacional. Por conta disso, a Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e do Sistema Prisional do Ministério Público Federal (7CCR/MPF), de Brasília, também encaminhou um ofício solicitando que a Procuradoria Geral do Rio de Janeiro se atentassem para o caso.