Moradores de favelas serão os mais prejudicados, aponta a pesquisa - Luciano Belford
Moradores de favelas serão os mais prejudicados, aponta a pesquisaLuciano Belford
Por Rachel Siston* e Anderson Justino
As comunidades cariocas já registram mais de mil casos de contaminação por covid-19. Um levantamento feito pelo jornal' Voz das Comunidades' aponta que já são mais de 1.081 moradores infectados e 254 mortos em 13 favelas do Rio de Janeiro. Os dados são baseados no painel divulgado pela prefeitura, informações de clínicas da família e do Comitê SOS Providência.

Conforme o levantamento, há ainda 686 cados de pacientes recuperados, entre eles, pessoas que fizeram ou não o teste para o coronavírus, mas que não estão mais com os sintomas. A favela da Rocinha, na Zona Sul, é a mais afetada pela doença até agora. Lá, foram registrados 206 casos e 55 mortos pela covid-19.
Em seguida, estão Maré, com 187 infectados e 47 óbitos, e o Jacaré, com 119 registros e 18 mortes. A maioria dos casos de contágios ocorreu em comunidades da Zona Norte e afetou também as favelas de Manguinhos (119), Alemão (80), Jacarezinho (64), Mangueira (52) e Acari (54).

Na Zona Sul, há infectados ainda no Vidigal (37) e no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (22). Na Zona Oeste os casos foram registrados na Cidade de Deus (78) e Vila Kennedy (24). A região Central tem o menor número de comunidades afetadas. São 34 pessoas com sintomas de covid-19 no Morro da Providência. Os dados são atualizados todos os dias, às 18h. 

Os números são os mesmos disponíveis no painel da Prefeitura do Rio, mas a plataforma não inclui dados sobre as comunidades do Jacaré, Providência, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, porque não são considerados bairros oficiais, mas parte de outros bairros.
“O motivo da criação do painel é a falta de esclarecimento dos casos nas favelas do Rio. O 'Voz das Comunidades' é um veículo de comunicação comunitária, com isso, decidimos ter o próprio painel para mostrar a situação das favelas do Rio”, explicou o jornal.

Na última sexta-feira, a Comlurb promoveu uma  ação de higienização em 40 favelas de todas as regiões da cidade, para reduzir os riscos de contaminação pelo novo coronavírus pelos moradores das localidades. A campanha já passou por 556 comunidades.
No início da semana, a Secretaria Municipal de Saúde anunciou um projeto de investigação nas comunidades, para entender a imunidade sorológica nas comunidades. A pesquisa vai auxiliar no acompanhamento da curva de transmissão e de quantas pessoas estão se contaminando.
Comunidades recebem ajuda
Famílias com idosos dos dez maiores complexo de favelas do Rio já receberem 3.199 kits de higiene, dos cinco mil doados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) à Prefeitura do Rio. A doação tem o objetivo de evitar a expansão do novo coronavírus.

O kit inclui álcool em gel, sabonete líquido, desodorante, xampu, escova de dentes e lenços de papel. A Unicef também vai distribuir 250 mil sabonetes e a comunidade chinesa no Rio vai doar máscaras. Além disso, o material é distribuído junto com cestas básicas, pelo programa Territórios Sociais. Têm direito ao benefício famílias inscritas no programa.

Cada família tem direito a um kit, independente da quantidade de idosos. Os complexos contemplados pelo projeto são Alemão, Chapadão, Cidade de Deus, Jacarezinho, Lins, Maré, Pedreira, Penha, Rocinha e Vila Kennedy.

Outro projeto, dessa vez desenvolvido por médicos, também leva ajuda aos moradores de comunidades mais afetados pela pandemia. Uma turma de médicos formados pela Universidade Federal do Rio (UFRJ) iniciou a campanha “Ciência e Humanidade” que leva informação de médicos atuando na linha de frente do combate à covid-19 para outros profissionais de Saúde, para arrecadar doações para distribuição de cestas básicas.

A ideia surgiu durante uma conversa, por videoconferência, entre os médicos, preocupados com os danos causados pela pandemia, que além de afetar a saúde, também deixou famílias em situação de vulnerabilidade. A campanha já conseguiu arrecadar cerca de R$ 60 mil e distribuiu cestas para famílias e pessoas que preparam quentinhas e oferecem para os mais necessitados. O objetivo é conseguir doar as cestas por três meses.

“Começamos com o nosso próprio dinheiro, até que decidimos aproveitar as reuniões online para pedir doações. É uma troca, ajuda quem precisa de alimento e quem precisa de informação”, afirmou um dos integrantes do projeto, o médico Alfredo Maio.

A campanha já ajudou moradores das comunidades de Curral das Éguas, Magalhães Bastos, Rocinha, Senador Camará e Parque da Cidade. “Precisamos olhar para as pessoas que estão ao nosso lado”, completou a médica Soraya Alves. Os interessados em doar, podem entrar em contato com os organizadores pelos telefones (21) 98239-6633 e (21) 996487-8298.


*Estagiária sob supervisão de Max Leone






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Moradores de ocupação dos Jesuítas sem acesso à higienização
Rio de Janeiro 21/05/2020 - Covid-19 - Os proprios moradores fazem a dedetização da comunidade Jesuitas em Santa Cruz. Na foto acima a moradora Joilma Freitas com sua filha no colo. Foto: Luciano Belford/Agencia O Dia
Rio de Janeiro 21/05/2020 - Covid-19 - Os proprios moradores fazem a dedetização da comunidade Jesuitas em Santa Cruz. Na foto acima a moradora Joilma Freitas com sua filha no colo. Foto: Luciano Belford/Agencia O DiaLuciano Belford/Agência O Dia
Isolamento social e higienização das mãos, duas das principais recomendações das organizações de saúde para impedir a propagação do novo coronavírus. Tarefa quase impossível para as cerca de 200 famílias que moram na ocupação dos Jesuítas, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. A região é uma das mais pobres da cidade e conta com espaço comunitário como dois banheiros e uma cozinha de uso coletivo e encontra dificuldades para enfrentar a covid-19.

A comunidade contabiliza dois casos suspeitos da doença, segundo os próprios moradores. “Quem mora na ocupação não tem como cumprir as regras de isolamento. Se uma pessoa se contaminar com a covid-19, todos nós corremos o risco de ficar doentes. Somos 200 famílias, com apenas dois banheiros e duas pias coletivas. Nos preocupamos com nossas crianças com os idosos. Essas duas suspeitas não estão aqui por enquanto”, diz a dona de casa Joilma Freitas da Silva, de 31 anos, que vive com a família na ocupação.

São centenas de barracos de madeira, amontoados um ao lado do outro, sem saneamento básico e com esgoto a céu aberto. O abastecimento de água é feito por imóveis vizinhos, através de doações. O medo não é apenas da covid-19, mas também de doenças como a dengue e a leptospirose.

A vendedora de balas Carla Viviane, de 20 anos, conta que falta itens de higienes pessoais, como sabonetes e álcool gel, para ajudar no combate a pandemia e na higienização de sua filha, de oito meses. “A gente aqui Jesuíta está lutado sozinho. Precisamos muito de ajuda pra combater esse vírus. Nossa comunidade precisa muito de ajuda”, desabafa a jovem que mora com o esposo, também desempregado.

Anteontem, os becos e vielas da ocupação passaram por sanitização, através de uma iniciativa do empreendedor Thiago Firmino, morador do Santa Marta, que vem realizando trabalho de higienização em várias comunidades do Rio.
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"Como não podemos nos isolar, por conta do uso coletivo dos banheiros e cozinha, essa higienização vai trazer um pouco de tranquilidade pra gente. Mas não podemos fingir que a doença não existe", completa a dona de casa Joilma Freitas.
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