Distribuição de botijões de gás e de cestas básicas da Cufa, nas comunidades de Acari e Vigário Geral Gil Cunha / CUFA / divulgação
Por Thuany Dossares
Publicado 24/05/2020 20:00

Rio - O governador Wilson Witzel determinou que as polícias Civil e Militar evitem realizar operações de busca e apreensão ou ações de inteligência nas favelas, no momento que estiverem acontecendo ações sociais nesses locais. A decisão foi tomada, na última sexta-feira. Serviços humanitários tem sido muito frequentes nas comunidades, principalmente, durante a pandemia do novo coronavírus.

Na semana passada, incursões policiais interromperam, pelo menos, duas doações de cestas básicas, no Morro da Providência, na Zona Portuária do Rio, e na Cidade de Deus, na Zona Oeste. Os confrontos entre agentes de segurança e traficantes resultaram em duas mortes, entre elas, a de Rodrigo Cerqueira, de 19 anos, que buscava os alimentos, quando foi baleado.

Na reunião, Witzel pediu que as polícias ampliem o diálogo com lideranças comunitárias para evitar que as operações sejam feitas nestes momentos de doações. Entretanto, para a representante da Anistia Internacional, Jurema Werneck, a comunidade não tem que contar para a polícia quando terá ação social, para evitar tiroteios nessas ocasiões.

"Estamos chamando atenção do governador para 17 mortes, em cinco comunidades, em uma semana. A mensagem desta reunião era: ninguém está dizendo para a polícia parar de trabalhar, mas que a polícia precisa trabalhar dentro da lei, respeitando o direito à vida das pessoas. Nós não queremos que a comunidade tenha que informar à polícia que vai fazer ação social, a comunidade tem sua vida própria e tem seu direito de fazer suas ações. A gente quer que a polícia não ameace a vida das pessoas", explica.

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Um levantamento sobre operações policiais realizadas no período da pandemia, feito pela Rede de Observatórios da Segurança do Rio de Janeiro, apontou que, após o decreto de medidas de isolamento social, em março, as incursões nas favelas diminuíram. No entanto, essas ações voltaram a acontecer em abril e maio.
De acordo com os dados do observatório, de 15 de março à 19 de maio, ocorreram 209 operações com 69 pessoas mortas. Entre os dias 15 e 22 deste mês, houve 17 mortes durante ações das polícias Civil e Militar, no estado.
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"É surpreendente que o governo do estado não tenha tomado antes uma decisão sobre regulação e interrupção dessas operações. É mais chocante ainda o fato de que, enquanto políticas públicas de outros setores estejam tentando minimizar o sofrimento da população mais vulnerável durante a pandemia, policiais insistam em fazer operações muito violentas, brutais, que deixam moradores acuados durante os tiroteios e que ao mesmo tempo, produzem vítimas, algumas delas inocentes. Já é tarde o gesto do governador, fazendo um primeiro sinal de tentativa de controle. Não haver tiroteios durante ações sociais é o mínimo. Durante a pandemia, é uma boa hora para a polícia mudar a sua forma de ser.", declara Silvia Ramos, cientista social e coordenadora do Observatório da Segurança.

O jornalista Rene Silva, do Voz das Comunidades, espera que após a reunião de Witzel com outras autoridades, as operações nas comunidades cessem.
"É lamentável que o governador não tenha entendido o momento de pandemia que estamos vivendo, pessoas passando fome, por que não levar ajuda aos mais necessitadas agora ao invés de fazer operações policiais? Não ajudam e ainda atrapalham quem está ajudando e fazendo alguma coisa", falou.

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