Um quarto dos jovens de 14 a 29 anos residentes na Região Administrativa de Santa Cruz, que inclui Paciência e Sepetiba, estão fora da escola e do mercado de trabalho. Considerando a população total de quase 400 mil habitantes, apenas 5% frequentam o ensino superior. Uma em cada cinco meninas com idade entre 15 e 17 têm filhos vivos. Nesta área, se registra também a maior taxa de homicídios de jovens negros entre as cinco Regiões Administrativas da Zona Oeste. No quesito saúde, os índices também não são bons: a mortalidade por AVC, por exemplo, é 10 vezes maior em Santa Cruz do que na Gávea.
Essas informações nada animadoras fazem parte de um diagnóstico socioeconômico, intitulado Plano Santa Cruz 2030, que vem sendo construído desde 2017, ano da comemoração dos 450 anos do bairro. Trata-se de um programa de desenvolvimento sustentável que tem como objetivo principal garantir uma cidadania digna para moradores e um futuro mais amigável para a juventude.
Organizações da sociedade civil comprometidas como a redução das desigualdades socioterritoriais do Rio, como a Casa Fluminense e a ONG SerCidadão, promoveram este movimento para aproximar a iniciativa privada da região administrativa, a população e os coletivos da Zona Oeste. Desde 2017, reuniões, debates, cursos e seminários acontecem para encorajar a seleção de temas prioritários para a região administrativa de Santa Cruz.
Estiveram engajados na confecção do Plano uma série de entidades, como a Aedin (Associação das Empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz e Adjacências) e a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio), além de outros atores que apoiaram a iniciativa em diferentes momentos. Em 2019, o Conselho Britânico assumiu a parceria, possibilitando a realização das primeiras entregas do Programa, como o Curso Santa Cruz 2030, que apoiou a formação de 30 lideranças engajadas no movimento.
MUITAS METAS ATÉ 2030
A intenção do Plano Santa Cruz 2030 é encontrar respostas para a seguinte pergunta: "Como podemos construir um outro horizonte para o desenvolvimento humano na região até 2030?". E propor diretrizes para um desenvolvimento cultural e territorial socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente responsável. Um esforço coletivo para construir um horizonte mais inclusivo e sustentável a partir da revisão do passado e do diagnóstico dos desafios presentes.
O público-alvo é, prioritariamente, as cidadãs e os cidadãos ativos, organizações e empresas locais, que colaboraram para a construção coletiva do presente documento. A sua aplicabilidade deverá ser múltipla e diversa, podendo orientar planejamentos, projetos e ações locais e regionais.
A sustentabilidade é uma premissa transversal aos eixos de atuação do Plano. Consideraram-se os valores democráticos da garantia de direitos sociais universais e o alinhamento com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas, territorializados na Agenda Rio 2030. Os quatro eixos prioritários, definidos a partir do processo de escuta nos diversos eventos realizados são: emprego e renda, educação, saúde e cultura.
DESAFIOS A ENFRENTAR
Pensar Santa Cruz é lidar com muitos desafios. O documento alerta para o fato de que o direito de ir e vir é constantemente negado por diversas questões na região. Os longos deslocamentos, as enchentes, a violência são obstáculos para o exercício da cidadania plena.
Mais da metade do emprego formal da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (51%) está localizada no eixo que vai do centro da cidade até a Barra da Tijuca, via orla, incluindo os bairros da Tijuca e Jacarepaguá. Nessa área não reside nem um quinto (19%) do total da população metropolitana.
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