Aglomeração no Leblon - Reprodução/Redes Sociais
Aglomeração no LeblonReprodução/Redes Sociais
Por Rachel Siston*

De um lado, trabalhadores se espremem nos transportes públicos para chegar a seus empregos. Do outro, a aglomeração que tomou conta da Rua Dias Ferreira, no Leblon, Zona Sul do Rio, na noite de quinta-feira, durante a reabertura dos bares, dentro do processo de flexibilização da quarentena, orquestrado pela Prefeitura do Rio. A polêmica tomou conta das redes sociais, com muitas pessoas criticando, mas também saindo em defesa dos frequentadores dos bares e fazendo referência a aglomerações em outras áreas da cidade.

Mas quem realmente entende do assunto acompanhou o caso com preocupação. "É uma bomba-relógio que começou a ser armada, em relação a um possível novo pico da infecção. Por mais que o município e o estado estejam equipados para receber doentes, o que realmente importa é que as pessoas tenham consciência que não podemos nos descuidar. A flexibilização é para a Economia e não para os cuidados de higiene e proteção contra o coronavírus", declarou Raphael Rangel, biomédico virologista do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação.

De fato, as duas cenas descritas no início do texto nem se comparam, já que nos transportes públicos não há alternativa, enquanto em bares ou outros eventos de entretenimento, como bailes funk, as pessoas, em tese, saem de casa conscientes dos riscos a que estão se expondo e também a terceiros.

Desrespeito às regras

Imagens compartilhadas na internet mostraram que alguns bares do Leblon não respeitaram a regra de funcionamento com apenas 50% da capacidade e outros ultrapassaram o horário determinado para o fechamento, às 23h.

Durante a madrugada, ainda era possível ver pessoas em alguns locais, mesmo com os estabelecimentos já fechados. Em alguns vídeos, pessoas lamentam o desrespeito às regras de distanciamento em prevenção à covid-19. "Rio de Janeiro no primeiro dia depois da descoberta da cura do coronavírus. Mentira!!! Isso é hoje! 2 de julho. Os casos da maior pandemia do século não param de crescer. Mas o Leblon nesse momento está assim", ironiza uma internauta, diante das imagens de aglomeração.
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"Parabéns a vocês que estão lotando a Dias Ferreira, no Leblon, durante a maior pandemia de nosso tempo. A imagem de vocês está rodando o mundo como exemplo surreal de ignorância, egoísmo e boçalidade. Vocês representam o pior da espécie", comentou outra pessoa.
O uso da máscara também é obrigatório para os funcionários e frequentadores, exceto no momento da refeição. Em um vídeo uma mulher debocha do uso do equipamento de proteção. "Hoje é dia 2 de julho, primeiro dia da liberação dos bares no Rio de Janeiro, a gente está aqui na Dias Ferreira, e está realmente todo mundo de máscara, olha", diz ela mostrando a maior parte das pessoas sem a máscara.
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Nos bares da Lapa, no Centro do Rio, a cena não se repetiu. Os estabelecimentos não tiveram aglomeração e o fechamento ocorreu às 23h como previsto pela prefeitura. Em nota, a Polícia Militar disse que segue à disposição para apoiar as necessidades dos órgãos municipais nas ações de fiscalização durante a pandemia. "Os policiais militares estão instruídos a priorizar a conscientização e o diálogo no contato com os cidadãos", continua a nota.

Portas fechadas

Para os bares, restaurantes e quiosques, o alívio por poder voltar a funcionar depois de mais de cem dias de portas fechadas precisou conviver com o descaso ou a impossibilidade de controlar o fluxo de clientes.

Outros bairros da cidade, como Copacabana, Tijuca, Vila Isabel e Barra também tiveram grande movimentação, mas o Leblon se destacou, já que não só os estabelecimentos, como as calçadas e até a rua foram tomadas por frequentadores.

A Guarda Municipal informou, em nota, que "os agentes determinaram o fechamento de diversos bares" e que vai intensificar a fiscalização no fim de semana. A Vigilância Sanitária também garantiu que vai reforçar a fiscalização.  

 

Relembre
A primeira morte por coronavírus no estado do Rio aconteceu no município de Miguel Pereira, no Sul Fluminense, no dia 19 de março. A vítima, uma idosa de 63 anos, sofria com hipertensão e diabetes. Empregada doméstica em uma casa no Alto Leblon, Zona Sul do Rio, ela teria contraído a doença da patroa, que havia voltado recentemente de uma viagem para a Itália, à época, país com o maior número de mortes pela covid-19.
No balanço disponível no painel da prefeitura, ontem, o bairro do Leblon contava com 967 casos confirmados da doença e 66 óbitos.

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Especialistas avaliam os efeitos do confinamento
A psicanalista Helena Watson explica que o longo período de isolamento provocou muito sofrimento psíquico e que as pessoas ficaram alteradas, com quadros severos de ansiedade e fobia. Segundo ela, a necessidade de sair pode ser motivada pelo desejo de reaproximação.
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"É como uma saída para se livrar da angústia e temores de morte desse período longo de confinamento. Para muitas pessoas, essa experiência foi tão penosa e muitos chegaram ao limite de exaustão emocional. Esse sentimento leva muitas pessoas a negar maciçamente os riscos e os perigos que ainda existem", afirma. A psicanalista diz, ainda, que é preciso mais rigidez nos protocolos de distanciamento, fiscalização e orientação por parte do poder público, para que as pessoas consigam ir aos locais que estão funcionando, evitando o risco ao máximo.
Já o virologista Raphael Rangel reforça: "A gente percebeu várias pessoas se aglomerando nos bares e ficando muito próximas umas às outras, e sem máscara. Isso pode trazer um dano muito grande, tanto para aquelas que residem próximo aos frequentadores, até mesmo para quem trabalha com eles. As pessoas usam muito o termo empatia, mas não estão utilizando na prática".
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* Estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro
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