Elisa Lucinda, poetisa, jornalista, escritora, cantora e atriz capixaba - DIVULGAÇÃO
Elisa Lucinda, poetisa, jornalista, escritora, cantora e atriz capixabaDIVULGAÇÃO
Por Gustavo Monteiro

Há pouco mais de um ano, a poetisa e atriz Elisa Lucinda declarava em entrevista à revista Veja: "A sociedade brasileira agora que parou para pensar sobre racismo e estamos falando de um racismo que existe há muito tempo. Esse tempo é nosso, é um tempo que não tem mais como seguir sem olhar para o que o povo negro produz. Foram 400 anos de tortura, tráfico de pessoas, assassinatos nas senzalas, tudo isso sem punição. Todo negro aqui tem que provar que não é ladrão, toda hora ele poderia ser confundido com alguém que está portando uma arma".

O tema nunca sai da pauta, especialmente para mulheres atuantes como Elisa, mas estará novamente em alta nesta semana, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, em 25 de julho. Nesta sexta-feira e sábado, uma série de lives no Instagram promoverá encontros entre divas pretas famosas e anônimas, moradoras da Zona Oeste do Rio, oriundas de favelas e conjuntos habitacionais da região. A mediação será realizada pelas Mulheres de Pedra, coletivo de mulheres pretas sediado em Pedra de Guaratiba.

O evento virtual foi batizado de "Novas Divas Pretas". Elisa participa no dia 25, às 12h, conversando com Cláudia Pereira Siqueira, da Coosturart, um coletivo de costureiras comunitárias que movimentam um espaço cultural com foco na juventude do conjunto João XXIII, em Santa Cruz. A iniciativa é da Trilhos Produções Artísticas, uma produtora cultural que conecta as periferias e favelas do Rio, sediada também em Santa Cruz.

Os interessados devem acessar as seguintes contas: @pablo.ramozz, @mulheresdepedra, @elisalucinda e @coletivoxxiii. Para o organizador, Pablo Ramoz, a ideia é reunir "mulheres pretas potentes, que realizam projetos sociais e culturais que melhoram as vidas das pessoas onde moram. Essas são as novas divas pretas".

Na sexta-feira (24), a partir das 18h, a escritora Conceição Evaristo encontra Jurema Duarte, da JAMDS Surdos, instituição que atende, gratuitamente, crianças e adolescentes com necessidades especiais, no conjunto Urucânia, em Paciência. Além dos já citados, os perfis @conceicaoevaristooficial e @jamdsurdos.jurema, do Instagram, estarão recebendo os interessados.

No sábado (25), às 14h, Luana Xavier (@luaxavier), atriz e apresentadora do GNT, encontra Adriana Veridiana (@adrianaveridiana), de As Mariamas, coletivo de mulheres da CEB-Conjunto Veridiana, em Santa Cruz, que realizam a manutenção da tradição africana com danças típicas de cirandas, rodas e missa afrobrasileira.

Às 15h, a cantora e atriz de Malhação, Gabz (@ahagabz), da TV Globo, bate papo com Mayara Mattos (@mayaramattos_18), do Movimento Territórios Diversos, coletivo de cultura que atua em Nova Sepetiba, um dos maiores conjuntos habitacionais do Rio, em Sepetiba.

"A série de lives ilumina com protagonismo as mulheres pretas anônimas da Zona Oeste. Todas fazem a diferença na vida das pessoas onde vivem. Elas merecem aplausos, precisamos ouvi-las, dar visibilidade e, principalmente, aprender com elas", acredita Ramoz.

 

Uma data histórica para fortalecer a luta diária
Publicidade
Em 1992, um grupo organizou o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas em Santo Domingo, capital da República Dominicana, na América Central, para discutir os problemas referentes à população negra e as alternativas para resolvê-los. De acordo com a Palmares Fundação Cultural, do Governo Federal, a partir desse encontro nasceu a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas.
A Rede, junto à Organização das Nações Unidas (ONU), lutou para o reconhecimento do dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.
Publicidade
O 25 de julho não é apenas uma data de celebração, é uma data em que as mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais refletem e fortalecem as organizações voltadas às mulheres negras e suas diversas lutas. No Brasil, em 2 de junho de 2014, foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando uma das principais mulheres, símbolo de resistência e importantíssima liderança na luta contra a escravização durante o século 18.
Publicidade
Vulnerabilidade e violência
Dados do IBGE revelam que a população negra no Brasil corresponde à maioria (54%). Segundo a Associação de Mulheres Afro, na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes.
Publicidade
Porém, tanto no Brasil quanto fora dele, essa parcela populacional também é a que mais sofre com a pobreza: três em cada quatro são pessoas negras, ainda segundo o IBGE. Os dados sobre violência e desigualdade, de acordo com o Mapa da Violência, demonstram essa e outras realidades que atingem massivamente a população negra.
"Toda pessoa negra é especialista, na sociedade brasileira racista, em achar alternativas, em julgamentos preconceituosos antes de você abrir a boca, em viver na berlinda, com um detector de metais pronto para te parar. Mas não se fará nenhuma revolução sem os artistas, sem os negros, e também sem as mulheres", declarou Elisa Lucinda à Veja em 2019.
Publicidade
'Black Lives Matter'
Publicidade
O movimento ativista internacional "Vidas Negras Importam" teve origem em 2013 na comunidade afro-americana e tem como um dos principais pilares realizar protestos em torno da morte de negros causada por policiais, e questões mais amplas de discriminação racial, brutalidade policial, e a desigualdade racial no sistema de justiça criminal dos Estados Unidos.
O start se deu há sete anos com o uso da hashtag #BlackLivesMatter em mídias sociais, após a absolvição de George Zimmerman na morte a tiros do adolescente negro Trayvon Martin, na Flórida. Em 2020, mesmo durante a pandemia, o movimento voltou a ganhar força em todo o mundo com centenas de protestos, depois da morte por asfixia de George Floyd, de 46 anos, em maio, pelo policial Derek Chauvin, em Minnesota. As últimas palavras da vítima, "Eu não consigo respirar. Por favor, eu não consigo respirar", vão ficar pra sempre na memória coletiva de todo o planeta.
Publicidade
Você pode gostar
Comentários