Metade dos 18 meses de vida de Gabriella e Raphaella foram vividos dentro do Hospital Estadual da Criança (HEC), em Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio. As meninas nasceram unidas pela região abdominal, com fusão do fígado e uma pequena parte do osso esterno, após um parto de trigêmeas. Foram cinco meses de preparação para a realização da cirurgia, que completa um ano hoje.
Além do período que antecedeu a cirurgia, as irmãs precisaram ficar mais quatro meses na unidade para acompanhamento pós-operatório. Em novembro de 2019, nove meses após chegar ao Hospital da Criança, a família deixou a unidade e voltou para casa em Rio Claro, na região do Médio Paraíba. Era a primeira vez que o casal teria juntas as trigêmeas Gabriella, Raphaella e Isabella.
A mãe, Sara Domiciano, ainda se emociona ao lembrar dos dias difíceis que as filhas passaram. "Foram muitas horas de cirurgia. Quando a gente voltou para o hospital, a Raphaella já tinha saído da operação e ainda estavam tentando deixar a Gabriella estável. Quando vimos as duas separadas foi outra emoção. A recuperação delas foi melhor do que a gente podia imaginar. Eu olho para elas hoje, conto a história para as pessoas e elas não acreditam. As duas passaram por isso tudo e hoje são saudáveis, espertas como qualquer criança", vibra Sara.
Segundo a mãe, o desenvolvimento das meninas é normal, sem restrição médica alguma. "As três já andam e uma é diferente da outra. Uma aprende uma coisa e as outras imitam. Estão no mesmo nível de desenvolvimento. As três já falam algumas palavrinhas e fazem muita bagunça", conta Sara.
Ela e o marido, Agnaldo Oliveira, descobriram no quinto mês de gestação das trigêmeas que duas delas eram xifópagas. Ou seja: tinham partes dos corpos unidas. O caso atípico se torna ainda mais raro por envolver uma gravidez de trigêmeos, algo inédito na literatura médica brasileira.
"Nunca foi relatado no país um caso com duas crianças siamesas e uma não siamesa juntas na mesma gravidez. Eu só vi na literatura mundial 13 relatos dessa forma, o que torna o caso ainda mais raro", explica o médico Francisco Nicanor, chefe do serviço de Cirurgia e Urologia Pediátrica do Hospital da Criança.
A unidade é referência para tratamentos de média e alta complexidade em crianças e adolescentes, de zero a 19 anos. O procedimento exigiu uma estrutura de pré e pós-operatório que movimentou mais de 50 profissionais de diversas especialidades.
Gabriella e Raphaella foram acompanhadas no hospital, durante cinco meses, por uma equipe multidisciplinar com pediatras, cirurgiões, nutricionistas, entre outros, até que crescessem mais e ganhassem peso para, então, estarem aptas à cirurgia.
Após a cirurgia, em julho, veio a fase das gêmeas aprenderem a viver separadas, experimentando novas impressões, sensações e orientações espaciais. Outras especialidades entraram em ação: fisioterapia e fonoaudiologia, até que Gabriella e Raphaella tivessem mais independência para comer e se movimentar.
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