Luana Génot, diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR)Jorge Bispo/Divulgação
Por Gabriel Sobreira
Publicado 17/07/2020 11:54
Rio - Em tempo de #BlackLivesMatter ('Vidas Negras Importam'), quantos pretos em cargos executivos você conhece, seja em grandes empresas ou como empreendedores? O DIA conversou com quatro executivos negros que falam um pouco sobre liderança negra no mercado de trabalho, empreendedorismo e desafios.
Uma pesquisa divulgada ano passado pelo Instituto Ethos afirma que entre as 500 maiores empresas do país, os negros são de 57% a 58% dos aprendizes e trainees. Na gerência, eles chegam a 6,3%. Já no extrato mais elevado do organograma, dentro da diretoria executiva, o número é ainda mais escasso: somente 4,7% são pretos.
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“Especialmente os cargos de liderança são cargos que apesar de serem ditos verbalmente que são pautados pela meritocracia, na verdade é pelo quem indica, e quem indica você só vai fazer se tiver estudado com essa pessoa, conhecer essa pessoa e geralmente esses círculos brancos se autoindicam. Então, a gente tem muitas lideranças brancas que indicam outras lideranças brancas que foram com quem eles estudaram, com quem já trabalharam e desenvolveram laços de confiança”, explica Luana Génot, diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), que possui foco na promoção da igualdade racial no mundo corporativo.
Luana frisa que falta intencionalidade em contratar pessoas negras, apesar do número delas ter aumentado em termos de qualificação profissional exigida. Ainda assim, quando se trata de empreendedorismo, ela diz que pode ser uma opção.
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“Sempre vou sugerir um olhar menos romantizado do empreendedorismo e com a separação do empreendedorismo de necessidade. O primeiro é onde maioria dos negros está, onde por não conseguir entrar no mercado de trabalho se vê forçado a empreender para sobreviver. O de oportunidade é das pessoas que querem empreender e entendem que não faz sentido para elas se encaixarem em uma estrutura pré-pronta porque têm novas ideias”, conta a carioca de 31 anos. "A representatividade entre os investimentos também faz parte para que quem queira empreender por oportunidade possa se ver contemplado e estimulado a fazê-lo com estrutura e não com migalha", acrescenta.
Sergio All, CEO e fundador da Conta Black
Sergio All, CEO e fundador da Conta BlackMonica Silva/Divulgação
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Ianda Lopes, diretora jurídica da GE Renewable Energy na America Latina
Ianda Lopes, diretora jurídica da GE Renewable Energy na America LatinaDivulgação
Carlos Eduardo Santos, gerente de projetos de tecnologia do Citi
Carlos Eduardo Santos, gerente de projetos de tecnologia do CitiPaulo Vitale/Divulgação
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Mineiro da cidade de Corinto, Carlos Eduardo Santos, de 40 anos, e foi o primeiro da família a completar o ensino superior. Formado em Ciência da Computação, começou a trabalhar no banco Citi, em 2009, como analista programador de Java. Hoje, é gerente de projetos de tecnologia e lidera 15 pessoas de diversos países, sendo responsável pelo projeto de inovação do banco para América Latina. No ano passado, a empresa criou um grupo chamado ‘Blacks at Citi’, que atua no recrutamento, desenvolvimento e retenção de talentos negros dentro do banco, como com o programa de mentoria.
"Os Blacks at Citi é uma ação afirmativa fundamental para trazer luz e gerar oportunidades para preenchimento das lacunas que temos em termos de representatividade negra na organização, dando voz a esta minoria de maneira a mobilizar e buscar alternativas para a transformação", afirma Santos.
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O cientista da computação diz que não consegue mensurar o que poderia ter sido diferente se o grupo, Blacks at Citi, tivesse começado quando ele entrou no banco. Mas tem um palpite: "Eu teria uma consciência melhor e me engajado antes no sentido de ter atitudes proativas e efetivas para que eu não seja uma exceção", explica ele. Quando questionado sobre qual sonho ele tem, Carlos Eduardo diz que deseja que possamos evoluir enquanto ser humano e definitivamente conseguirmos olhar um para outro de maneira igual. "Trata-se de um processo longo e progressivo, que as gerações que estão por vir possam viver em harmonia e ter as devidas oportunidades por serem humanos", pontua.