Enquanto o mundo assistia às manifestações pela morte de George Floyd, um grupo de 20 alunos do Colégio Inovar Veiga de Almeida se reunia virtualmente para discutir o racismo na sociedade norte-americana a partir da linguagem cinematográfica de Frank Darabont, em À Espera de um Milagre. O paralelo traçado entre Floyd e o personagem John Coffey, o outro "gigante" vivido pelo ator Michael Clarke Duncan, ajudou os estudantes a refletir sobre os efeitos do preconceito na prática.
Tem sido assim desde fevereiro, quando a escola da Barra da Tijuca introduziu na rotina de jovens do nono ano do fundamental ao segundo ano do ensino médio a disciplina eletiva Cinema e Sociedade, criada a partir dos itinerários formativos previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). "Mostramos a eles que o cinema não é somente entretenimento. É uma manifestação artística complexa, que envolve roteiro, fotografia, iluminação, figurino, arquitetura, referências socioculturais. Nosso objetivo é despertar o senso crítico nos alunos e fazê-los olhar o outro a partir do gatilho disparador dos filmes", explica Pablo Spinelli, professor de História e da nova matéria no Veiga.
Adeptos a séries do Netflix e games, os alunos de classe média têm estudado não apenas Hollywood, mas também o início do cinema, a nouvelle vague, o neorrealismo italiano e o Cinema Novo brasileiro. As avaliações, ainda sem peso no currículo, são feitas a partir das resenhas e debates. De maneira indireta, os estudantes do Colégio Inovar Veiga de Almeida também aprendem História ao pesquisar o contexto em que cada filme trabalhado foi criado.
No retorno às atividades presenciais, eles devem produzir um canal no YouTube e divulgar as análises em um blog. E, é claro, ainda aproveitar 2020 para mergulhar na obra de Federico Fellini, que completaria 100 anos. "Alfred Hitchcock, Fellini... O que os filmes desses cineastas têm a nos dizer hoje? A essa pergunta nossos jovens estão aprendendo a responder", conclui Spinelli.