Alunas Julia Neves (alto), de Jacarepaguá, e Ana Carolina Félix, da Barra, concordam que a matéria do professor Pablo Spinelli ajuda a desenvolver o pensamento crítico - Arquivo pessoal
Alunas Julia Neves (alto), de Jacarepaguá, e Ana Carolina Félix, da Barra, concordam que a matéria do professor Pablo Spinelli ajuda a desenvolver o pensamento críticoArquivo pessoal
Por O Dia

Enquanto o mundo assistia às manifestações pela morte de George Floyd, um grupo de 20 alunos do Colégio Inovar Veiga de Almeida se reunia virtualmente para discutir o racismo na sociedade norte-americana a partir da linguagem cinematográfica de Frank Darabont, em À Espera de um Milagre. O paralelo traçado entre Floyd e o personagem John Coffey, o outro "gigante" vivido pelo ator Michael Clarke Duncan, ajudou os estudantes a refletir sobre os efeitos do preconceito na prática.

Tem sido assim desde fevereiro, quando a escola da Barra da Tijuca introduziu na rotina de jovens do nono ano do fundamental ao segundo ano do ensino médio a disciplina eletiva Cinema e Sociedade, criada a partir dos itinerários formativos previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). "Mostramos a eles que o cinema não é somente entretenimento. É uma manifestação artística complexa, que envolve roteiro, fotografia, iluminação, figurino, arquitetura, referências socioculturais. Nosso objetivo é despertar o senso crítico nos alunos e fazê-los olhar o outro a partir do gatilho disparador dos filmes", explica Pablo Spinelli, professor de História e da nova matéria no Veiga.

Adeptos a séries do Netflix e games, os alunos de classe média têm estudado não apenas Hollywood, mas também o início do cinema, a nouvelle vague, o neorrealismo italiano e o Cinema Novo brasileiro. As avaliações, ainda sem peso no currículo, são feitas a partir das resenhas e debates. De maneira indireta, os estudantes do Colégio Inovar Veiga de Almeida também aprendem História ao pesquisar o contexto em que cada filme trabalhado foi criado.

No retorno às atividades presenciais, eles devem produzir um canal no YouTube e divulgar as análises em um blog. E, é claro, ainda aproveitar 2020 para mergulhar na obra de Federico Fellini, que completaria 100 anos. "Alfred Hitchcock, Fellini... O que os filmes desses cineastas têm a nos dizer hoje? A essa pergunta nossos jovens estão aprendendo a responder", conclui Spinelli.

Enxergando muito além da tela
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A aluna  do Inovar Veiga de Almeida, Ana Carolina Félix, de 16 anos, que mora na Barra, está encantada: "Muito interessante porque todos os filmes têm algo par nos dizer, levam à reflexão sobre temas atuais e importantes na nossa sociedade. Além disso, aprendemos a enxergar a maneira diferenciada com que o cinema aborda os mesmos temas e desperta um interesse maior para novos debates", relata.
Moradora de Jacarepaguá, Júlia Neves, também de 16 anos e aluna do segundo ano do ensino médio, garante que a experiência está sendo ótima. "Não aprendemos apenas a ver posicionamento de câmeras, analisar os diálogos, saber dividir um filme em início, meio, reviravolta e fim, por exemplo. Vai muito além disso e, na verdade, foge do óbvio porque as aulas mostram como os filmes estão inseridos em um contexto que pode ou não ser atual".
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Outra questão citada por Júlia sobre a disciplina é o aprendizado sobre o mundo cinematográfico que, segundo ela, é, na maioria das vezes, um reflexo da sociedade. "Passei a entender que devemos ser expectadores ativos e analisar toda a conjuntura do filme, e não apenas assistir e dizer se foi bom ou ruim baseando-se apenas em se eu gostei ou não da trama".
A jovem conclui garantindo que aprendeu que o filme vai muito além do que sê vê nas telonas. "Tem outra história por trás daquilo que nos é apresentado. E é justamente essa história por trás que a gente aprende a analisar na aula", encerra Julia.
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