Biblioteca no Chapadão lança vaquinha para criar horta urbana
Projeto pretende arrecadar R$ 15 mil para quitação de terreno. Igreja dará lugar à sala multimídia. Em Antares, posto policial abandonado também vira biblioteca
Por RENAN SCHUINDT
Rio - Com mais de quatro mil títulos, a Biblioteca Paulo Freire, no Complexo do Chapadão, na Zona Norte, há 14 anos, é um oásis de cultura em meio ao cenário de violência. Na contramão do terror, a instituição, que utiliza a literatura como ferramenta de transformação socioeconômica, tenta agora arrecadar R$ 15 mil para a compra de um terreno ao lado da sede, onde será implementado um projeto de agricultura familiar. O expectativa é que pelo menos 250 famílias sejam beneficiadas. Com a verba, também será possível transformar uma antiga igreja em uma sala multiuso.
No total, os imóveis foram orçados em R$ 21 mil, sendo que a instituição já deu uma entrada de R$ 6 mil, restando agora quinze parcelas de R$ 1 mil, que serão pagas mensalmente. “Estamos recorrendo a amigos e parceiros que conhecem o nosso trabalho para que nos ajudem nesse projeto desafiador. Existe uma carência muito grande por aqui. Não temos tempo para esperar o poder público agir”, afirma o coordenador do espaço, Jocemir Reis.
Com as novas aquisições — um terreno de 35 metros de comprimento por 16 metros de largura, no qual será implementada uma pequena produção agroecológica e cursos de horta orgânica e sintrópica (prática de manejo regenerativa), e um espaço onde funcionava uma igreja, que dará lugar à uma sala de exibição de vídeos e palestras —, a biblioteca pretende ampliar ainda mais o alcance. E, claro, garantir conforto e conhecimento. Em junho, aliás, a biblioteca completou aniversário.
Segundo Reis, “a aquisição dos imóveis foi uma das formas de comemorar”, brinca. Professor de filosofia, ele tem papel fundamental na região e é responsável por ajudar diversos moradores a ingressarem na faculdade pública, por meio do pré-vestibular comunitário. É o caso de Diogo Oliveira, que quando chegou à biblioteca não havia nem terminado o Ensino Médio. “Fui o primeiro da minha família a cursar o ensino superior”, diz o estudante da UERJ, que está no 6º período de Artes Visuais.
AJUDA VEM DE LONGE Mineira radicada em São Paulo, Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM, é uma das parceiras da biblioteca. Embora ainda não conheça pessoalmente o trabalho desenvolvido no Chapadão, desde 2015 ela oferece apoio. “Isso me dá muita esperança. São pessoas que estão preocupados com o bem de todos”, diz Pilar. Interessados em ajudar a Biblioteca Paulo Freire podem entrar em contato pelo telefone (21) 97340-5772.
Literatura invade posto policial em Antares
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Recém-inaugurada, a Biblioteca Marginow, em Antares, na Zona Oeste, também está precisando de ajuda. De acordo com o responsável pelo espaço, o escritor Jessé Andarilho, estantes e prateleiras são muito bem-vindos. O local, que funciona em um antigo posto policial que estava abandonado, empresta cerca de 200 livros por mês. “Estou muito surpreso. Achei que a biblioteca fosse atender apenas a pessoas mais velhas, caras da minha idade. Mas, não. As crianças invadiram, os adolescentes idem. Vem gente de todas as idades. Não há burocracia para o empréstimo e, até agora, não tivemos baixa em nenhum livro”, conta Andarilho. Há cerca de dois meses, o rapaz ganhou uma banca de jornal que logo foi transformada em biblioteca. Os livros ficam expostos nela, à disposição dos moradores de Antares, além dos bairros vizinhos. “Os gostos são os mais variados. Um dos estilos que chama a atenção da garotada são os títulos de vampiros. Pensei que eles fossem curtir mais a literatura marginal. Mais uma vez me surpreendi”, confessa Andarilho. Informações pelo instagram.com/jesseandarilho.