Yara Soares resolveu sentar para esperar o demorado 435 - Cléber Mendes/Agência O Dia
Yara Soares resolveu sentar para esperar o demorado 435Cléber Mendes/Agência O Dia
Por Yuri Eiras
Rio - Yara Soares esperou sentada, literalmente, a chegada do 435 (Grajaú x Gávea) na manhã de ontem. Sem opção, ela firmou a cadeira de praia na calçada e aguardou o ônibus, que demorou para chegar e também para sair. "Todo dia é assim", confirmou a jovem. Diante do sumiço de algumas linhas de ônibus e da redução de frota de outras, a Prefeitura do Rio criou uma comissão para reorganizar o modal.
A comissão deverá apresentar em 30 dias um levantamento para readequação das linhas de ônibus, possibilitando alterações na rede municipal de transportes. Algumas podem aumentar ou diminuir a frota, outras serem extintas. A intenção é adequar a operação dos ônibus à atual conjuntura, de pandemia, principalmente com o retorno de parte dos trabalhadores ao regime presencial.
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Guilherme Braga, pesquisador da Casa Fluminense, estranha a formação da comissão. "Eu tenho monitorado, de casa, o sistema de ônibus do Rio, apenas com os dados de GPS. Só com as informações que eu tenho aqui, vejo que a frota de ônibus da cidade é de 7.978 ônibus. Antes da pandemia, havia uma média de 4.500 ônibus rodando no pico da manhã. Hoje nós tivemos 2.932 ônibus", comentou Braga. "Ou seja, dá pra saber que a frota em circulação já estava muito abaixo do determinado e ainda não voltou aos patamares pré-pandemia. Tudo isso com um monitoramento básico, usando um computador e alguns algoritmos. Certamente a Prefeitura tem uma capacidade técnica muito maior. É difícil compreender a necessidade dessa comissão".
Enquanto isso, os passageiros têm sofrido com a demora. "Saio antes das cinco horas da manhã de casa. Demoro de uma hora e meia até duas horas para pegar o ônibus. Na volta, também demora à beça", reclama Yara, que faz o trajeto do Grajaú, seu bairro, até a Lagoa, onde rema.
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Demair Fortes, que trabalha em um supermercado da Zona Sul, foi outro que chegou a pegar um bronzeado enquanto o ônibus não chegava. "Costumo pegar outras linhas, mas todas estão demorando mais de uma hora para passar. Vim pegar o 435, mas também está difícil. Vou ter que vir mais cedo e mudar minha rotina".  Na Tijuca, dona Eudileia Araújo, 70, foi buscar exames em uma clínica, mas penou para voltar para casa. "Eles deveriam administrar melhor os horários. Por horas, não aparece nenhum. Quando vem, chegam dois juntos".
Rio,11/08/2020 -COVID-19 -CORONAVIRUS,TIJUCA, linhas de onibus que podem ser extintas. Na foto,Eudileia Araujo.Foto: Cleber Mendes/Agência O Dia - Cléber Mendes
Além das linhas que estão operando com a frota abaixo do normal, a pandemia trouxe falências. Com o fechamento da empresa Transportes Estrela, a secretaria municipal de Transportes afirmou que "tomou medidas antes de ser notificada oficialmente". Os consórcios seguem com a operação das linhas da antiga empresa, como a 711 (Rocha Miranda x Rio Comprido) e 350 (Irajá x Passeio) - operadas pelas empresas Braso Lisboa e Ideal -, 363 (V. Valqueire x Candelária) e 678 (V. Valqueire x Méier) - operadas pela Vila Real - e 265 (Mal. Hermes x Castelo) - operada em conjunto pelas empresas  Vila Real, Caprichosa, Três Rios e Pavunense. A secretaria de Transportes afirmou que recebeu reclamações de 128 linhas, o que corresponde a 18% do total da cidade.