Prefeito Marcelo CrivellaCléber Mendes
Por Bruna Fantti
Publicado 05/09/2020 08:03 | Atualizado 05/09/2020 13:22
Rio - Em entrevista ao O DIA no Palácio da Cidade, ontem, o prefeito Marcelo Crivella (Republicamos) negou que o grupo ‘Guardiões do Crivella’ fosse usado para organizar ataques à imprensa na porta de hospitais, conforme a TV Globo denunciou.
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O procurador-geral do Município, Marcelo Marques, que também estava no grupo e acompanhou o início da entrevista, corroborou a versão: “Não saí, porque não tem nada de errado”, disse.  Segundo assessores, as postagens de intimidação à imprensa e ações nas portas dos hospitais, se ocorriam, eram em outro grupo.
As denúncias afirmam que Marcos Paulo de Oliveira Luciano, pastor, assessor especial de Crivella, seria coordenador do esquema de organizar servidores públicos para intimidar jornalistas nas portas de hospitais. Além de estar como administrador no grupo 'Guardiões do Crivella', ele atuava em outro, que organizava as escalas dos servidores para ir às unidades. 
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Crivella afirmou que somente criou uma equipe, via decreto, para auxiliar pacientes. Indagado a respeito dos servidores que se organizavam para xingar a emissora de TV, disse não saber se eram da prefeitura,
apesar de a polícia confirmar o fato.
O DIA: Um prefeito precisa de guardiões?
CRIVELLA: De bons guardiões. Que sejam do prefeito e da democracia. Que sejam da probidade, da honestidade, da defesa da família, dos valores da nossa sociedade, dos princípios cristãos. Se forem bons guardiões, acho que não só o prefeito, não. O governador, o presidente da República... Todos precisam
de companheiros.
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DIA: E ‘Guardiões do Crivella’? Do que se trata esse grupo de WhatsApp?
CRIVELLA: São manifestações espontâneas. Não organizei e fiquei apenas lisonjeado. Agora, todo o político tem (manifestações), quer exerça funções no Legislativo ou no Executivo. Dezenas. Se você olhar na internet, o presidente Jair Bolsonaro é o campeão.
DIA: O senhor chegou a ver, no grupo, ações organizadas para intimidar jornalistas em portas de hospitais?
CRIVELLA: A grande maioria das pessoas que está comigo é de evangélicos. Marcos (Luciano, o ML, apontado como organizador e chefe do grupo) foi pastor comigo na África. Anos e anos e anos. A filha
dele, de que levaram o computador (a polícia apreendeu), nasceu no Zimbábue. Você acha que alguém que
passa anos na África, cuidando dos pobres, tem índole, vocação ou natureza para violência? Não. Conversa
fiada da Globolixo.
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DIA: Então, o senhor não viu essas postagens?
CRIVELLA: Não vi e não há. Isso é uma fantasia da TV Globo, com um setor do Ministério Público que é anti-Bolsonaro. Une-se com a Globo, que é anti-Bolsonaro. Cria-se uma história para desestabilizar o governo, o prefeito. Mas a Câmara derrubou, não aceitou essa hipótese.
DIA: O senhor viu as imagens veiculadas pela TV Globo? Nelas, alguns servidores públicos, integrantes do grupo ‘Guardiões’, interrompiam as entrevistas e xingavam a emissora...
CRIVELLA: Xingavam de quê?
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DIA: De “Globolixo”, que é um xingamento.
CRIVELLA: Você acha que é um xingamento?
DIA: Mas o senhor concorda com esse comportamento? De interromper as entrevistas daquela forma?
CRIVELLA: Acho que temos que respeitar (abre os braços e olha para o alto) o sagrado direito
de expressão. O que é pior: alguém dizer Globolixo ou inventar mentiras de funcionários em rede nacional?
Concordo que as pessoas tenham o direito de chamar Globolixo. Eu, particularmente, não faria. Mas é como
uma torcida xingar um juiz, nem por isso um juiz deixa de ser juiz.
DIA: A respeito desses servidores públicos, o senhor sabia qual a função que eles exerciam nas portas
dos hospitais?
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CRIVELLA: O que fiz foi nomear uma equipe para acolhimento de pacientes em hospitais (o prefeito se refere ao Projeto Acolher, criado por decreto). Esses trabalhavam, sim. Sobretudo para que não ocorresse mentiras da Globo de que os hospitais estavam fechados. O treinamento era para atender as pessoas, um tratamento humanizado nos hospitais. O que fiz foi esse decreto. Agora, esses outros, que iam de manhã, eram voluntários, pessoas, cidadãos. 
DIA: Mas eram pessoas pagas para intimidar jornalistas?
CRIVELLA: Isso, eu não sei. Se eu fosse saber de todo mundo que
grita Globolixo... Ninguém sabe, é uma voz corrente. Pessoas gritando Globolixo na rua é algo comum, são
manifestações em todo canto. E esse direito é sagrado. Mais violência é criar um factoide para ter um processo de impeachment.
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DIA: No grupo de Whatsapp que organizava os plantões nos hospitais, a denúncia diz que servidores públicos eram pagos para interromper entrevistas e intimidar cidadãos que quisessem
fazer queixas. O senhor compactuava com isso?
CRIVELLA: Isso, não. Eu repito: escolhi pessoas para trabalhar no tratamento humanitário.
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DIA: E são as mesmas que interrompiam as entrevistas?
CRIVELLA: Certamente que não. Essas pessoas iam porque estavam cansadas da manipulação da TV Globo.
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DIA: E qual a função delas na Prefeitura?
CRIVELLA: Eu nem sei se são da Prefeitura...
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DIA: São, sim. São comissionados.
CRIVELLA: Isso é uma entrevista ou um interrogatório? Se você pergunta e responde, aí já é um interrogatório. Se você já tem a resposta, não precisa me perguntar.
DIA: É uma entrevista, senhor prefeito. E Marcos Luciano, ele é uma das pessoas treinadas para
trabalhar nos hospitais?
CRIVELLA: Não, Marcos, não. Sei que ele é um dos administradores do grupo 'Guardiões do Crivella'. Ele é um amigo, como se fosse um filho para mim. Essa é uma maneira de fazer política.
DIA: Ontem, na Câmara, o placar foi apertado. O processo de impeachment não foi aberto por 25 votos contra 23. O senhor acha que perdeu apoio político?
CRIVELLA: Ganhar de 25 a 23, com toda a força da Globo, foi uma grande vitória.
DIA:  O senhor, durante quatro anos de mandato,recebeu três pedidos de impeachment...
CRIVELLA: Sim, estou pensando em pedir uma música no Fantástico (risos).
DIA: O senhor está tranquilo para tentar a reeleição?
CRIVELLA: Eu confio muito em Deus. Eu sei que ganho a eleição.