04/03/2020 - AGENCIA DE NOTICIA - PARCEIROS - Carnaval 2020 - Desfile da Escola de Samba do Grupo de Acesso, G.R.E.S. IMPÉRIO SERRANO, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no centro da cidade do Rio de Janeiro nesta Sexta-Feira (21).Estefan Radovicz
Por Luana Dandara
Publicado 07/09/2020 00:00
Rio - Em uma fase de renovação e reestruturação, após um desastroso desfile em fevereiro, o Império Serrano lança hoje, em uma live às 15h, o enredo para o próximo Carnaval, ainda sem data definida. Com assinatura do premiado Leandro Vieira, atual campeão da Série A com a Imperatriz Leopoldinense e também carnavalesco da Mangueira, a agremiação de Madureira volta para suas tradições e apresenta um enredo ligado a negritude. "Mangangá" vai levar para a Sapucaí a história de Manuel Henrique Pereira, apelidado de Besouro Mangangá.

O personagem, envolto por um grande misticismo, foi um misto de herói e fora da lei, como define Leandro. Besouro liderou a luta negra no período pós-abolição, no Recôncavo da Bahia, quando a sociedade ainda persistia nos maus tratos aos negros e a não pagar por serviços realizados por eles. "É uma figura popular que se coloca como um valente em defesa do seu povo. Sobre a vida dele existe uma série de mitos e lendas, principalmente que ele teria o corpo fechado e que quando corria grande perigo, se transformava em um besouro e saía voando. Ele ainda é muito presente na história oral e musical do Recôncavo", explica o carnavalesco.

Segundo Leandro, o capoeirista baiano apareceu em suas pesquisas em 2015, quando ele estudava o enredo vencedor de Maria Bethânia para a Verde e Rosa.
"Resolvi guardar esse personagem, e chegou a hora de lançar luz sobre esse nome. Descobri que Besouro era filho de Ogum, um orixá que o Império tem intimidade, porque São Jorge é o padroeiro da escola. E ele tem toda essa ideia de luta, de resistência. O Besouro também dialoga muito com esses Carnavais que eu gosto de realizar, que apresentam nomes e histórias desconhecidas para o público, e valorizam a resistência negra no Brasil. As coisas foram casando", destaca.

O carnavalesco, dono de três campeonatos, conta ainda que fazer um desfile para o Império Serrano era um desejo antigo. "Tenho ligação com essas escolas tradicionalíssimas. E quando sonhava em fazer um dia o Império, pensava em uma história preta. Isso sempre foi muito vivo na escola. Quando o Império deixou de fazer dos seus Carnavais a vitrine do seu orgulho preto, ele foi perdendo um pouco a sua identidade. Ao apresentar um enredo que dialoga na intimidade das tradições e das matrizes do Império Serrano, isso tem um poder de transformação que pode ser grande", pontua ele.

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Mãos à obra: em breve, o cronograma dos trabalhos
Carnaval não pode ser mau exemplo como o futebol
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Com todas as fantasias já desenhadas e no fim da concepção das alegorias, Leandro Vieira conta que criar para a agremiação da Serrinha tem sido um alento em meio à quarentena. E não esconde sua opinião sobre a realização do Carnaval 2021.
"Eu não sou da turma que defende que o Carnaval seja realizado a qualquer custo. Particularmente, não quero que o Carnaval seja o mau exemplo do futebol e do carioca que lota a praia no domingo. É preciso considerar que podem não haver condições sanitárias para a festa", diz.
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Enquanto isso, na Mangueira, o carnavalesco e todos os funcionários seguem com os trabalhos interrompidos, por decisão da diretoria, assim como acontece com a maior parte das escolas do Grupo Especial.
"Esse período de incertezas, de alguma forma, criou duas rotinas diferentes. A concepção do Império está quase toda definida, 80% pronta, enquanto a Mangueira nem pensa em começar. Cada escola decidiu o que era melhor para si. Mas estou muito feliz, mergulhado em um ambiente artístico que gosto muito, de brasilidade. Quero aproveitar esse momento da minha carreira", finaliza Vieira.
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