Pela primeira vez, em 35 anos, a cidade do Rio terá um candidato a prefeito com uma decisão de inelegibilidade tomada por unanimidade no Tribunal Regional Eleitoral, mas concorrendo com aval judicial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Supremo Tribunal Federal (STF). Quem atesta é o cientista político e sociólogo Paulo Baía. "Isso nunca aconteceu na cidade. É uma novidade desde 1985, quando voltaram as eleições diretas para as capitais", aponta o professor da UFRJ, se referindo à decisão do TRE que tornou o Marcelo Crivella (Republicanos) inelegível até 2026.
O prefeito informou, anteontem, que vai recorrer da decisão e que estuda um pedido de anulação da votação. Procurados, a prefeitura e o TRE-RJ não se manifestaram até o fechamento da matéria. Baía afirma que a inelegibilidade de Crivella - que continua no pleito - traz, sim, um impacto nas eleições. Para o sociólogo, se Crivella ganhar, toma posse, já que a decisão do TRE-RJ não o tira da disputa. "A inelegibilidade de Crivella será usada como peça de marketing dos demais candidatos", afirma ele.
Baía lista três nomes de concorrentes que podem se beneficiar, em especial: "Martha Rocha (PDT), Luiz Lima (PSL) e Benedita da Silva (PT). Cito a Benedita porque ela tem uma faixa muito próxima à de Crivella, que é a de evangélicos", analisa o sociólogo. "Ela tem uma certa autonomia de votos, independentemente de ser PT, por ser uma militante evangélica desde a década de 1970", completa.
Chances remotas
Para o advogado Luiz Paulo Viveiros de Castro, as chances de Crivella derrubar a decisão do TRE são remotas: "O abuso do poder político é flagrante e a decisão foi por unanimidade. As provas são irrefutáveis".
Quando a questão é o julgamento do recurso no TSE, o tema é uma incógnita. "Não dá para prever quando vai julgar esse caso, apesar de ter o costume de julgar rápido", frisa Michael Mohallem, professor de direito da FGV-Rio.
Mohallem avalia, ainda, o ambiente eleitoral como conturbado devido às últimas denúncias e prisões. "Já era uma eleição muito particular por causa da covid-19, agora virou um ambiente muito conturbado com essas complicações".
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