O Centro Educacional Miraflores, em Laranjeiras, na Zona Sul, voltou a receber alunos - Reginaldo Pimenta
O Centro Educacional Miraflores, em Laranjeiras, na Zona Sul, voltou a receber alunosReginaldo Pimenta
Por Yuri Eiras
Rio - As escolas particulares do município do Rio puderam voltar a receber alunos nesta quinta-feira (1º), após decisão unânime do Tribunal de Justiça (TJ/RJ), no dia anterior. Segundo o Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe), cerca de 20% das instituições retomaram as aulas presenciais. O retorno é opcional e depende dos diretores. Entre os profissionais da educação, o clima ainda é de incerteza. O Sindicato dos Professores do Município do Rio (Sinpro-Rio) vai debater o retorno às salas de aula em assembleia, no próximo sábado. 
A Escola Nova, na Gávea, reabriu as portas na manhã desta quinta-feira para crianças do 1º, 4º, 5º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e para os jovens do 3º ano do Ensino Médio. "O retorno presencial continua sendo voluntário, tanto para as famílias dos alunos quanto para os profissionais. Todos têm a opção do ensino online. Professores acima de 60 anos, grávidas e outros profissionais de situações de risco continuam trabalhando de casa", informou a instituição, via nota.
Rio de Janeiro - RJ - 01/10/2020 - Geral - Retorno das aulas nas escolas particulares no Rio de Janeiro - na foto, Escola Nova, na Rua Major Rubens Vaz, na Gavea, zona sul do Rio - Foto Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
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Mãe dos pequenos Heitor, de 7 anos, e Lucas, 9, Viviane Arantes tem levado os filhos ao centro educacional Miraflores, em Laranjeiras. A escola abriu há duas semanas. "Ambos estão indo à escola desde o primeiro dia de aula pós pandemia. Estavam muito ansiosos e dispersos dentro de casa, desejando voltar para a escola e rever os amigos. O sentimento deles é que tinha muito mais aulas em casa do que na escola", conta Viviane. "Explicamos a eles a importância de cumprir os protocolos (máscara, lavar as mãos, não tocar no rosto nem nos amigos) e até o momento acho que está funcionando bem". 
Lucas Werneck, diretor do Sinepe-Rio, acredita que o retorno foi de 20%, dentro de um universo de cerca de 2.400 escolas particulares no Rio. Ele acredita que até a semana que vem todas já estarão com aulas presenciais. "As instituições tomaram pé da situação perto das 16h de quarta-feira, se preparando para a parte física. Nem todas tiveram tempo de voltar. O que eu tenho comentado é que no nosso entendimento, todas as escolas já estariam abertas hoje, embora a gente já um número significativo, por volta de 20%", comentou Werneck.
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Há duas semanas, algumas escolas particulares ensaiaram a reabertura, baseadas em uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Mas o município entendia que outra decisão, esta do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), determinava o fechamento. Na última quarta-feira (30), desembargadores da 3ª Câmara Cível do TJ autorizaram, enfim a volta às aulas. Em nota, a Prefeitura afirmou que "são os estabelecimentos privados que decidem se voltam às atividades. A Prefeitura somente autoriza o retorno aos locais do ensino privado, desde que cumprindo as rígidas regras sanitárias".
Na rede pública, a secretaria estadual de Educação ainda não tem previsão de volta às aulas, mas pretende priorizar alunos do 3º ano do Ensino Médio (de 15 anos a 18 anos) que se preparam para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), como antecipado pela Coluna do Servidor. A rede municipal ainda não tem data definida e depende do aval da secretaria de Saúde.
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Professores ainda inseguros para o retorno
Uma assembleia virtual no próximo sábado, convocada pelo Sinpro-Rio (Sindicato dos Professores do município do Rio), vai decidir as os profissionais continuam em estado de greve pela saúde. Por enquanto, a avaliação da classe é de que o retorno põe em risco funcionários e seus familiares. Muitos se sentem pressionados pelos diretores. "A pressão em cima dos professores é muito grande", comenta Osvaldo Teles, presidente do Sinpro-Rio. "Na assembleia, tudo pode acontecer. Estamos em greve desde julho, e a gente só sai da greve com assembleia. A orientação nossa é que os professores continuem. Os institutos de saúde dizem que o Rio de Janeiro ainda não está seguro. Escolas são aglomerações. É como se fosse milhares de praias abertas ao mesmo tempo. Alguns com mais condições, outros com menos", opina Teles. O sindicato estima que o Rio conte com 35 mil professores, 18 mil deles sindicalizados.
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Especialistas avaliam retorno
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A volta às aulas é vista com desconfiança também por especialistas. "A retomada das aulas presenciais nas escolas vai exigir um nível de atenção e cuidado que eu, sinceramente, não sei se é possível na rotina de crianças. Quanto menores são as crianças, mais risco, mais difícil é fazer essas crianças usarem a máscara corretamente, manter a máscara ao longo de todo o período escolar; além da lavagem das mãos, visto que é uma característica da criança tocar nos colegas, falar com as mãos, levar a mão à boca. Eu vejo como quase impossível, dentro de uma sala de aula, você conseguir manter o controle total e absoluto nessa situação. Acho temerário o retorno", explica a médica Roberta França.
A pediatra Daniela Piotto aponta que não se pode "ensinar para as crianças que a escola é a grande vilã da pandemia". "Recentemente, houve um aumento no número de casos no Rio, mesmo com as escolas fechadas. Isso só reforça que não existe um local livre do risco de contágio. O risco existe em todas as atividades que estão retomadas. Não podemos ensinar para as crianças que a escola é a grande vilã da pandemia. Os cuidados devem ser contínuos. É importante pais e professores conversarem sobre essa retomada sobre as mudanças da rotina escolar", afirma a médica.
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Pesquisadora em Saúde do CESS/UFRJ, Chrystina Barros ressalta a importância dos protocolos sanitários. "É fundamental que as famílias tenham clareza de quais planos as escolas estão colocando em prática para diminuir os riscos de infecção. É importante que as carteiras estejam separadas, a limpeza dos banheiros intensificadas. Crianças de turmas diferentes não devem conviver no mesmo horário de recreio. Brinquedos e áreas comuns também devem ter as limpezas especificadas. São estratégias que podem ser pensadas em conjunto".