Luciana Avelar discorda de aprovação automática para as filhas Maria Clara, 17 anos e Cecília, 13 anosAcervo Pessoal
Por Gabriel Sobreira
A aprovação automática para alunos do terceiro ano do Ensino Médio que farão o Enem, como avalia a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), tem gerado polêmica. Em nota, a Seeduc diz que no caso destes estudantes "seria garantida a oportunidade de conclusão de seus estudos e ainda, aos que desejarem, de retornarem em 2021 para aprofundar os seus estudos", explica a pasta. Na rede municipal, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME), responsável pela educação do 1º ao 9º ano, não há decisão sobre aprovação automática.

"A SME vai aplicar uma avaliação no retorno presencial às aulas, que ainda não tem data definida, com a finalidade de verificar o estágio de aprendizagem do aluno para que os professores realizem um planejamento de aula de acordo com as necessidades. Essa recomendação é referendada pelo Conselho Nacional de Educação", diz em nota.

Para Camila Neves, de 36 anos, a justificativa da pasta não convence. "A pandemia começou logo no retorno às aulas após o Carnaval, não tem como avaliar o aluno sabendo que nem todos acompanharam as aulas online. Isso eu digo pelo meu filho! No começo peguei no pé mas depois não tive como acompanhar devido o meu trabalho", diz ela, que é mãe de Yan, aluno do 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Castelnuovo, localizada em Copacabana, na Zona Sul.

Moradora de Ipanema, Luciana Fernandes Avellar, 34, é mãe de Maria Clara, de 17; Cecília, 13 e Tiago, de oito. "Como a minha filha mais velha vai passar para o terceiro ano se não estudou nada no segundo? A outra filha, que está no oitavo, vai passar para o nono e não teve o conteúdo do oitavo. E o meu filho que vai passar para o quarto ano sem ter tido conteúdo do terceiro. Não concordo", reclama. "No colégio do meu filho, estou até conversando com a diretora, que falou que a Prefeitura do Rio disse que não vai reprovar ninguém. Ela (a diretora) falou que são ordens da prefeitura. É para passar todo mundo". Procurada, a SME negou a medida.

Mãe de uma menina de 10 anos, que está na quarta série na rede municipal, a também manicure Maíra de Souza Penha, de 39 anos, não é nem a favor da aprovação e nem da reprovação. "No ano que vem eu prefiro que ela continue na quarta série. Não quero que ela avance. A criança deveria ficar na mesma série e ano que vem retorna tudo de novo. É um ano perdido. Vai fazer o quê? É melhor um ano perdido do que ficar doente, pegar covid-19, é muito mais seguro assim", avalia.
O que dizem as especialistas
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Professora estadual faz desabafo
Sem condições de avaliação
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Para Gustavo Miranda, coordenador do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro, não há condição de fazer nenhum tipo de avaliação no atual cenário. “Estudantes não tiveram acesso a um ensino que permitisse que o profissional ou o aprovasse ou o reprovasse. O debate não é só sobre aprovação, é também sobre reprovação, é um debate avaliativo. Para o SEPE, não tem nenhuma condição da gente produzir avaliação nesse momento. Aliás, essa é uma das demandas que a gente está levando tanto para o governo municipal quanto estadual para que não pressione os educadores a fazer a avaliação”, pondera Miranda.
Segundo o coordenador do SEPE-RJ, no que diz respeito à formação dos estudantes, a situação é catastrófica. “Perderam o ano quase todo. Talvez o ano todo se as aulas a gente não conseguir retornar, o que tudo indica. Mas sabemos que a diminuição desse prejuízo vai ser de maneira de garantir pelos próximos dois anos a reposição desse conteúdo. Não vai ter saída que implique numa rápida reposição desse conteúdo”, explica ele. “Não é acabando com as férias de janeiro, ou tendo aula no Carnaval, entre outras propostas que, às vezes, surgem que vai resolver esse problema. O ensino de alguns meses só pode ser reposto ao longo de alguns anos. A verdade é essa. Uma reposição de conteúdo com estratégia avaliativa posterior”, defende Miranda.