Marcello SicilianoGilvan de Souza / Agencia O Dia
Por Thuany Dossares e Bruna Fantti
Publicado 01/11/2020 01:00 | Atualizado 01/11/2020 07:54

A força-tarefa da Polícia Civil para investigar a relação de candidatos com organizações criminosas já avançou: há quatro inquéritos em andamento, sobre cinco candidatos.

O DIA apurou que o candidato a vereador do Rio Marcello Siciliano (Progressistas) está sendo investigado por possível formação de curral eleitoral na Zona Oeste. Além disso, para ganhar mais votos, a polícia apura ações como doações de brinquedos e a reforma de um campo de futebol na Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio. O candidato já prestou depoimento na Draco (Delegacia de Repressão às Ações Organizadas Criminosas) e negou a denúncia.

Procurado pela reportagem, o candidato disse que era alvo de perseguição: "Isso é uma perseguição. Sou um homem de bem, de família". Ele negou a distribuição de brinquedos, mas confirmou a reforma do campo. "Foi uma ação resultado de meu trabalho como vereador", disse.

O relato que chegou à especializada versa que Siciliano teria se aproximado de Lucas Nepomuceno, filho do traficante Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, para ser o único candidato a fazer campanha no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, área de domínio do Comando Vermelho. Lucas não é investigado por ligações com o tráfico, e já prestou depoimento sobre o caso. Siciliano disse que não tem nenhuma relação com Lucas.

Além de Siciliano, outros quatro candidatos são investigados com a suspeita de que tenham apoio de traficantes ou milicianos, para ter exclusividade de campanha nas áreas controladas por criminosos.

Três dezenas de denúncias

Até o momento, a Draco já recebeu a denúncia de 30 candidatos a prefeito ou vereador da capital e de municípios da Baixada Fluminense.

"Fazemos uma triagem dessas denúncias, porque nessa época é muito comum o famoso disque-vingança, um candidato falando mal do outro para que isso possa virar investigação. Então, a gente faz essa triagem, encaminha para o Ministério Público, que nos requisita as diligências", explicou o delegado Willian Pena Junior.

Em suas redes sociais, Siciliano publicou, na última terça-feira, a inauguração do Campo da Vacaria, na Vila Cruzeiro. "Atendendo uma antiga reivindicação dos moradores, solicitei a obra ao Prefeito e inauguramos o Campo da Vacaria, na Vila Cruzeiro. Levamos mais uma área de lazer para as crianças da comunidade. O campo ficou perfeito, com iluminação, novas grades e traves, além de uma moderna grama sintética. Contem sempre comigo!".

No dia 19, o candidato à reeleição a uma cadeira na Câmara Municipal do Rio também divulgou a entrega de um reservatório de água potável do Parque Proletário, na Comunidade da Vila Cruzeiro. Além disso, Siciliano teria promovido uma festa no dia das crianças na localidade, com distribuição de brinquedos, segundo a denúncia.

"Estamos na fase de depoimentos, alguns já foram colhidos, e já recebemos fotos e vídeos que estão sob análise, para que no final isso seja encaminhado ao Ministério Público Eleitoral", declarou Willian Pena Junior.

A mãe de Lucas Nepomuceno, Márcia Gama, também nega a denúncia. "Estão querendo dizer que o meu marido autorizou a campanha através do meu filho. Isso é mentira, porque nem contato com o pai o Lucas tem tido direito. Meu marido tá em presídio federal, em Catanduvas, e desde o início da pandemia ficamos praticamente sem contato. Eles se viram na semana passada, depois de meses, quando autorizaram uma visita virtual que foi acompanhada, foi uma videoconferência. Meu filho não é envolvido com o tráfico, não mora na comunidade e não tem nenhuma influência lá. Nem conhecemos o Siciliano também. O que estão fazendo com meu filho é uma covardia", falou Márcia Gama.

 

De vacina, brinquedos e cesta básicas: a caça aos votos
Marcello Siciliano divulgou em suas redes sociais que inaugurou um campo de futebol Reprodução internet
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Citado no caso Marielle
Essa não é a primeira vez que o nome do vereador Marcello Siciliano aparece em inquéritos policiais. Ele já chegou a ser apontado como suspeito de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018.
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Na época, uma testemunha prestou depoimento afirmando que Siciliano tinha uma relação próxima com o miliciano Orlando Araújo, conhecido como Orlando Curicica, que agia na Zona Oeste do Rio. À polícia, essa pessoa contou que os dois queriam a morte de Marielle.
Siciliano sempre negou seu envolvimento com o crime e expressou total repúdio às acusações sofridas.
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