"Se pulamos sete ondas, se comemos lentilha ou se vestimos branco, amarelo ou qualquer outra cor na busca de termos algum desejo atendido, 2020 não quis saber de nada disso" - Arte Kiko
"Se pulamos sete ondas, se comemos lentilha ou se vestimos branco, amarelo ou qualquer outra cor na busca de termos algum desejo atendido, 2020 não quis saber de nada disso"Arte Kiko
Por ANA CARLA GOMES
Chegamos à reta final de 2020. Um ano que desfez todos os nossos planejamentos e colocou em xeque os pedidos feitos no Réveillon passado. Se pulamos sete ondas, se comemos lentilha ou se vestimos branco, amarelo ou qualquer outra cor na busca de termos algum desejo atendido, 2020 não quis saber de nada disso. Ele veio para nos mostrar que não há projetos imunes ao imponderável da vida. A pandemia surgiu de forma arrasadora, nos fazendo ficar cada vez mais em casa — a nossa física e a nossa interior — da qual muitas vezes fugimos quando estamos na rua. E justificamos assim: o trabalho nos toma muito tempo, precisamos nos divertir ou procurar lá fora uma resposta que só está mesmo dentro da gente.

Imagino quantos compromissos foram remarcados inúmeras vezes até entendermos que ainda não é hora de planejarmos um evento. Viver se mostrou a urgência dos nossos tempos, que ganharam o status de "novos". Assim, as semanas foram passando e a gente carregando angústias à espera da boa notícia da vacina.

Foi no dia 12 de março que aconteceu a primeira morte por covid-19 no Brasil. Era verão. A estação ensolarada se foi, o outono surgiu, mas nada parecia muito demarcado no calendário. Quem mais se perguntou em algum momento do isolamento social em que dia da semana estávamos? Também vieram o inverno e a primavera, e nada de o tempo mudar em relação às nossas angústias.

Enfim, dezembro, comprovando que tudo segue muito diferente. Até a tradicional campanha dos Correios se transformou em virtual. Aliás, o abraço do Papai Noel não entrou na tradição de shoppings, festas ou projetos sociais. Para acalmar os mais novos, Maria van Kerkhove, encarregada de supervisionar a gestão da pandemia na Organização Mundial de Saúde, afirmou que o Bom Velhinho é imune ao coronavírus e poderá viajar pelo mundo para entregar presentes. Mas alertou: é preciso respeitar a distância física com ele. No fim de 2020, descobrimos que, para preservar a magia da vida, até o Papai Noel nos acena de longe.