Dona Maria Melquiades, moradora de Mesquita, passa as noites em claro com a bomba ligadaLuciano Belford
Por Yuri Eiras
Publicado 02/12/2020 18:00
Rio - A imensa louça empilhada na cozinha de Maria de Jesus, moradora de Realengo, é o retrato do sufoco que a família passa há um mês: a casa está suja e a torneira seca, como nas residências de parte da população fluminense. O problema no fornecimento de água é consequência de uma falha na bomba na Elevatória do Lameirão. A estimativa da CEDAE é que a distribuição tenha sido afetada em mais de 20 bairros da capital, além de Mesquita, Nilópolis e São João de Meriti, na Baixada.
A semana é de calorão e as notícias dão conta de que a pandemia ganha força no município. Sem água para beber, lavar as mãos ou limpar a casa, Maria de Jesus resume a situação como "humilhante".
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"É caótico. Eu estou até nervosa, dá vontade de chorar. Durante a pandemia eu tinha um pequeno restaurante com meu marido. A gente fechou, e agora eu trabalho em casa, com quentinhas. Mas sem água não dá para cozinhar e isso está afetando nosso sustento. Sou do Maranhão e nunca vivi nada do tipo por lá", desabafou Maria, que já recebeu a conta de janeiro.
"Minha filha tem problemas e ela precisa de ajuda o tempo todo. Tenho outras três crianças em casa que estão tendo que tomar banho na casa do meu cunhado. Minha casa está imunda. Nunca fui assim. Dá até vergonha. Como vou sobreviver desse jeito?", questiona.
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A pergunta também está na cabeça dos moradores da Rua Magno Carvalho, em Mesquita, na Baixada Fluminense. Maria Melquíades, de 61 anos, troca o dia pela noite: a água chega apenas nas madrugadas, puxada pela bomba. Só quem 'pinga' é a conta, quitada em dia pelos moradores. Mesquita, São João de Meriti e Nilópolis são os três municípios da Baixada afetados pelo problema na Elevatória do Lameirão.
"Durante o dia a gente não tem água. Ficamos estressados porque passamos noites e noites puxando água. Pago em dia a conta, a de janeiro já até chegou. Pior é que eu gasto R$ 1 mil com luz, porque a bomba puxa muito", reclama Maria Melquíades. A vizinha Luciana Matos, 51, passa pelo mesmo problema.  "Moro aqui desde que nasci. Nunca tive isso de abrir a torneira e cair água. É uma verdadeira escravidão", resumiu.
Rio de Janeiro 02/12/2020 - Moradores do Rio e da Baixada Fluminense sofrem com falta de água. Na foto acima os moradores Leila jordão de Novas, Thamires Maria Santos, Jorge Luiz jordão, Leda jordão e Luciana Matos, que moram na rua Magna de Carvalho em Mesquita. Foto: Luciano Belford/Agencia O DiaLuciano Belford/Agencia O Dia
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Rio tem dificuldades para importar produto que vem do Chile
Durante coletiva de imprensa na terça-feira, o governador em exercício, Cláudio Castro, admitiu que a distribuição de água é um problema complexo, e explicou que o estado está com dificuldades para importar um produto que resolveria o problema. Castro afirmou que a previsão de normalização é o dia 20 de dezembro, às portas do Natal.
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"É uma coisa que tinha que ser resolvida antes. Estourou aqui, mas esse motor já vinha. A informação que eu tenho é que isso já tá licitado desde o ano passado. O material chegaria aqui durante a pandemia. Tem um cobre que só no Chile faz, e que por causa da pandemia lá a gente não tá conseguindo importar", disse. "Então, tudo isso gerou uma dificuldade, não é um problema simples, um erro simples, que a gente possa pegar uma chave e resolver". 
CEDAE dá prazo de 19 dias
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Em seu site, a CEDAE disponibilizou um mapa que mostra bairros da Região Metropolitana que devem ser afetados pelo rodízio de fornecimento de água. Um gráfico com a estrutura da Elevatória do Lameirão também foi divulgado. Segundo a companhia, "os reparos que estão em andamento na Elevatória do Lameirão permitirão que a unidade volte a operar com 100% de sua capacidade até o dia 20/12. Conforme amplamente divulgado, a elevatória está operando com 75% de sua capacidade, o que reduz o abastecimento para os municípios do Rio de Janeiro e Nilópolis". 
A companhia avalia ressarcir os moradores que se sentirem lezados pelo desabastecimento. Quem for prejudicado poderá procurar a CEDAE, que fará uma avaliação.
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Mapa da CedaeREPRODUÇÃO/GOOGLE EARTH
As medidas adotadas pela CEDAE são "realizações de ações operacionais para equilibrar a distribuição de água, como rodízios; atendimento prioritário para hospitais e outros serviços essenciais por meio de carros-pipa; disponibilização de carros-pipa para atendimento; e a criação de gabinete de crise para acompanhamento. Sobre o caso da moradora de Realengo, a CEDAE disse que uma equipe esteve no local e constatou que o imóvel está sendo abastecido.
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