Por ANA CARLA GOMES
Publicado 13/12/2020 09:00
Nesses tempos difíceis em que nossas máscaras não são fantasias, mas escudos vitais para a saúde de todos, ficamos sabendo que o Carnaval de 2021 pode ganhar ares de festa junina ou julina. O inverno deve tomar o lugar do verão na Sapucaí, já fazendo os carnavalescos pensarem em novas texturas para as fantasias. Tudo muito atípico, como vem sendo a nossa (não) rotina há nove meses.
Em dezembro de 2019, o Rio já vivia um clima de pré-Carnaval, com ensaios de escolas de samba, blocos e shows. A cidade estava no compasso da folia, fervilhando no frenesi de preparativos para a Sapucaí. Saudosista, me pego num passeio pelo Instagram do fotógrafo Estefan Radovicz, que comanda o projeto ‘Carnavalesca’, em que ele empresta a sensibilidade do olhar para captar os momentos que antecedem à festa. Num vaivém incansável pela Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, ele clica detalhes dos carros alegóricos horas antes de entrarem no Sambódromo.
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As cenas registradas por ele me remetem ao universo do filme “Toy Story”, em que os brinquedos ganham vida, mas fingem ser inanimados quando os humanos estão por perto. Nos cliques do Estefan, vejo o olho bem atento e expressivo do palhaço à espera de virar realidade na Sapucaí. Também me chama a atenção o inseto gigante de asas coloridas, captado num ângulo que mostra toda a sua imponência diante dos prédios do centro financeiro do Rio.
As fitas de Senhor do Bonfim também estão ali numa fotografia, em detalhes, simbolizando uma crença. A vivacidade de uma alegoria verde, que parece não resistir ao seu próprio reflexo na porta de vidro do VLT, é impressionante. Como dizer que não há vida nessas artes, a dos carnavalescos e a do Estefan?
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Na quarta-feira passada, bem cedinho, o craque das lentes voltou o seu olhar novamente para o universo do samba na zona portuária e nos arredores da Rodoviária do Rio. Não mais com as alegorias prestes a ganharem vida na Sapucaí. Num simbolismo dos nossos tempos difíceis, elas são apenas lembranças de outros Carnavais. Parecem à espera da liberdade para a folia.
A imaginação, assim, contrasta com a realidade quando nos damos conta de que os tempos de festa não fazem parte do mundo dos desenhos animados. Embora, lá no fundo, a gente guarde o sonho de que os brinquedos do samba, como o caubói Woody e o herói das galáxias Buzz Lightyear, possam ganhar logo vida. E bem diante dos nossos olhos.