Policiais civis realizam seguidas operações para tentar prender suspeitos de Narcomilícia em São Gonçalo. Na foto, operação no Complexo do AnaiaDivulgação / Polícia Civil
Por Thuany Dossares
Publicado 14/12/2020 08:28 | Atualizado 14/12/2020 13:12
Rio - "Já tive um carro da empresa incendiado. Também já aconteceu de amarrarem um funcionário no poste, no Jardim Miriambi e no Anaia. Então, não tenho outra opção, a não ser pagar". Esse é o relato de um empresário, dono de uma provedora de internet para diversos bairros de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, que teve funcionários seus agredidos por traficantes ligados à facção Comando Vermelho (CV), que obrigam o pagamento de taxas de segurança para permitir que o serviço seja instalado nas comunidades. Os pagamentos chegam a R$ 3 mil por mês.
Essa prática de extorsão, que era originalmente usada por organizações de milícia é o tema do segundo capítulo da série do O DIA sobre Narcomilícia.
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De acordo com a Polícia Civil, comerciantes e empresários de vários bairros têm sido obrigados a pagar taxas aos traficantes para poderem trabalhar. Quando o pagamento não é feito, os criminosos aterrorizam a população com ameaças de represálias.
"Todas as localidades onde tem o tráfico eles não permitem que a gente trabalhe sem pagar uma taxa. E se a gente não paga, eles são violentos, bastante agressivos mesmo", contou o dona da provedora de internet, que prefere não se identificar. Além do Jardim Miriambi e Anaia, ele também tem pontos de internet no Jardim Catarina.
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Com medo desta situação, o empresário afirma que pensa em parar de trabalhar no ramo por causa dos criminosos. "O que vai acontecer, em breve, é deixar de atuar no ramo aqui no município e, possivelmente, no estado. Viramos escravos do tráfico. É triste pensar em abandonar algo por conta da violência", desabafou.
Milícia como modelo, diz especialista
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Atividades criminosas originalmente de milícia vem sendo adotadas por traficantes de drogas há, pelo menos, quatro anos, de acordo com especialistas em segurança pública. De acordo com Paulo Storani, a adoção de táticas era previsível.
"O narcotráfico não está ali para atender só uma demanda, dos usuários de drogas, eles estão ali para atender um negócio. É óbvio que havendo outras oportunidades de lucros eles vão aderir, principalmente, com a observância da ação das milícias. Estão adotando estratégias de domínio territorial com exploração das pessoas deste território, que não é mais só dentro da comunidade, mas também o bairro onde essa comunidade está instalada. Sem dúvidas a milícia foi uma inspiração para o tráfico", afirmou Paulo Storani, especialista em segurança pública.
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Para Storani, a prática de extorsão, muito explorada pelas milícias, tornou-se vantajosa após a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que, apesar de terem entrado em declínio, conseguiram sufocar o tráfico em algumas comunidades.
Investigação

Policiais da 74ª DP (Alcântara) instauraram inquérito para investigar essas ações criminosas e têm ouvido testemunhas, além de realizar seguidas operações. Além disso, os criminosos das regiões do Jardim Catarina, Vista Alegre e Laranjal também estariam extorquindo pontos de mototáxi e depósitos de vendas de botijões de gás, segundo a polícia.
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A distrital ainda apura a cobrança de traficantes do Jardim Miriambi e do Vila Três à motoristas de vans, para permitir que eles passem por uma rua que dá acesso à comunidade, apenas para fazer um retorno. Essa prática criminosa acontece naquela localidade há, pelo menos, dois anos. Para denunciar e ajudar a polícia, basta ligar para o Disque Denúncia no telefone 2253-1717.
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