Prefeito do Rio, Marcelo Crivella é preso.Na foto, Crivella, deixa a cidade da Policia.Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Bernardo Costa
Publicado 22/12/2020 15:18 | Atualizado 22/12/2020 18:00
Os investigadores do Ministério Público estadual (MPRJ) e da Polícia Civil afirmaram, em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, que o suposto grupo criminoso que agia na Prefeitura do Rio, com o aval do prefeito Marcelo Crivella, usou o momento de crise financeira da prefeitura, com períodos mais severos em 2017 e 2018, como oportunidade para arrecadar propina de empresários, que variavam de 3% a 5% sobre valores de restos a pagar ou sobre licitações fraudulentas e contratos com a administração municipal. Os investigadores apuraram R$ 53 milhões em pagamentos de propinas.
"Um exemplo: se eles tinham 100 milhões a pagar e só tinham 70 milhões em caixa, foram aos empresários que tinham dinheiro a receber da prefeitura (restos a pagar) para saber quem estava disposto a pagar propina ao grupo para receber os valores de forma prioritária. Assim foi feito. E constatamos pagamentos sem qualquer lógica de prioridade, inclusive referentes a gestões anteriores, em detrimento até mesmo de organizações sociais que estavam administrando hospitais e não recebiam", disse Carlos Eugênio Greco, promotor de Justiça assistente do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça (Gaocrim/MPRJ).

Segundo os investigadores, foi apurado, com exatidão, a movimentação financeira de R$ 53 milhões em vantagens indevidas. As investigações tiveram início em 2018 e, de acordo com os agentes, o esquema teve início em 2016, como forma de arrecadar dinheiro para a campanha de Marcelo Crivella à Prefeitura do Rio e depois prosseguiu, durante o seu mandato, para enriquecimento pessoal dos envolvidos no esquema.
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Ainda de acordo com os investigadores, o esquema era coordenado pelo empresário Rafael Alves, que mantinha uma sala dentro da RioTur para negociar pagamento de propina com os empresários, mesmo sem ter nenhum vínculo formal com a prefeitura, seja como funcionário público ou funcionário. Porém, apesar disso, tinham penetração para intermediar pagamentos a empresários, mediante propina, em todas as secretarias do governo municipal. De acordo com os agentes do MPRJ e Polícia Civil, Rafael Alves "agia a mando do prefeito Marcelo Crivella".

"A organização criminosa começa a agir antes mesmo da ascensão de Crivella à prefeitura. Ela começa na campanha, com o aliciamento de empresários objetivando vantagens futuras na prefeitura mediante pagamento de propina. Tudo isso com a liderança de Marcelo Crivella, que agia por intermédio, principalmente, de Rafael Alves, que, já após a eleição, tinha poderes para interferir em diversas camadas da administração pública, oferecendo vantagens a empresários em troca de propina", explicou Ricardo Ribeiro Martins, subprocurador-geral de Justiça de Assuntos Criminais e Direitos Humanos.
Segundo Ricardo Martins, ainda não foi possível identificar quanto cada membro da organização recebeu em benefício próprio: a fatia de cada um no montante de R$ 53 milhões apurado. No entanto, ele afirmou que a prisão preventiva de Marcelo Crivella, de Rafael Alves e de outros membros do chamado "grupo rígido" da organização criminosa foi necessária diante do fato de o grupo ter prosseguido na prática dos crimes mesmo após duas operações de busca e apreensão, uma antes da pandemia e outra em setembro.
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"O esquema prosseguiu e temos certeza que, sem a prisão preventiva, ele prosseguiria após o prefeito deixar o cargo, em crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, pois os membros da organização sabiam que havia investigações em curso", disse Ricardo Martins.
CELULAR DE OUTRA PESSOA
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Outro fato que, para os investigadores, deu base para o pedido de prisão preventiva de Crivella foi a entrega aos agentes de um celular por parte do prefeito, durante a operação de busca e apreensão, em setembro, que não o pertencia. Segundo os agentes, a ação constituiu tentativa de atrapalhar as investigações, um dos requisitos para a concessão da prisão preventiva. 
"Ele entregou um celular, que estava desligado, e se recusou a dar a senha. Mas o nosso setor de inteligência usou um software para quebrar a senha e, dois meses depois, acessamos o aparelho, que estava em nome de uma terceira pessoa, uma mulher, que não era de sua família nem funcionária da prefeitura. Não tinha nenhuma troca de mensagens do prefeito com parentes ou membros da prefeitura, e ele havia dito que se tratava de seu aparelho pessoal. Com isso, entendemos que houve tentativa de atrapalhar as investigações por parte do prefeito", disse Carlos Eugênio Greco. 
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