Meme com a entidade do Zé Pelintra viraliza após a prisão do prefeito afastado Marcelo CrivellaReprodução/Twitter
Por Yuri Eiras e Gabriel Sobreira
Publicado 27/12/2020 14:12 | Atualizado 27/12/2020 14:17
De terno branco, gravata vermelha, chapéu panamá e, às vezes, uma bengala. A figura do Zé Pelintra está prestes a virar patrimônio cultural imaterial do estado do Rio de Janeiro. Isso graças ao projeto de lei, publicado no Diário Oficial do Município no dia último dia 2, de autoria do deputado estadual Átila Nunes (MDB). "Seu Zé já é patrimônio imaterial. Talvez não seja reconhecido pela elite branca que domina. Mas ele, cada dia mais, é a quem as pessoas pobres e que perderam trabalho, condições, tudo, pedem ajuda", esclarece Zeca Ligiero, autor do livro 'Malandro Divino, a vida e a lenda de Zé Pelintra' (2004).
Para Ligiero, que é pesquisador das performances afro brasileiras e professor da Unirio, como Seu Zé aparece de formas diferentes em vários terreiros e em qualquer circunstância, esse jogo de cintura o aproxima do estilo de vida do fluminense e do carioca. "Pois nós somos sempre os reis das improvisações diante das dificuldades que temos cada dia. O Rio de Janeiro passando por uma situação mais complicada e a gente tendo que enfrentar, tendo jogo de cintura para sobreviver, acho que por isso, Seu Zé é a cara do carioca, ele é uma entidade que, embora veio do Nordeste, se adaptou tão bem, que se tornou mais carioca das divindades, entidades", defende.
"O Zé Pelintra é ligado à encantaria do Nordeste, que veio trazida para o Rio de Janeiro junto com os imigrantes nordestinos. E ele acabou ganhando essa conotação popular e tem um papel importante de diálogo com o Rio. Zé Pelintra está além da representação religiosa, está na cultura social", esclarece o professor e babalawô (sacerdote de grande respeito na cultura yorubá) Ivanir dos Santos.
Segundo o ator e dançarino, Jefferson Duarte, se aprovado, o projeto de lei seria um divisor de águas. Para quem não está ligando o nome à pessoa, ele, que adotou o nome artístico de 'Malandro Encantado', fez um ensaio fotográfico vestido como a entidade da Umbanda e acabou viralizando durante as eleições ao substituírem - sem sua autorização - o rosto dele pelo de Crivella em uma das fotos.
"A cultura negra, marginalizada, ganharia mais espaço. E há um interesse maior em desmistificar essa figura. Zé Pelintra é praticamente um santo nosso. Se fosse católico, já estaria canonizado. O projeto de lei pode enaltecer uma figura que é nossa", opina Duarte.
Recentemente, com a prisão do prefeito afastado Marcelo Crivella, a entidade da umbanda ganhou ainda mais destaque. É que, durante as eleições, durante um debate, Crivella disse: "Eduardo Paes não vê a hora de colocar seu chapeuzinho de Zé Pelintra para desfilar no Carnaval". Dois dias depois da declaração, eleitores usaram chapéu panamá para votar, Crivella perdeu a eleição, foi preso e desde o dia 22, cumpre prisão domiciliar na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
"Não diria que é castigo do Zé Pelintra. Quem puniu ele foi a forma mentirosa como ele usa a mentira para falar coisas que não deve. Esqueceu que tem o revés. A malandragem que o Crivella atribuía ao Zé Pelintra se revelou no prefeito afastado, que é um grande malandro e mentiroso. O Zé Pelintra não o castigou, apenas revelou quem o Crivella era", pontua o professor Santos.
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