Da esquerda para a direita: Alexandre, Lucas e FernandoArquivo Pessoal
Por Thuany Dossares
Publicado 10/01/2021 07:00 | Atualizado 10/01/2021 12:24
Rio - "É muito difícil e muito triste ficar sem nenhuma notícia, sem saber como a criança está, se está sendo maltratado. É difícil demais. Esses dias têm sido bem complicados para mim e toda minha família. Não estou conseguindo me alimentar direito por conta disso, nem dormir eu consigo". Esse é o desabafo de Hana Silva, 24, mãe do menino Alexandre, de apenas 10 anos, que desapareceu enquanto brincava em frente de casa, no último dia 27. Já são 14 dias sem respostas sobre o paradeiro de Alexandre, do seu primo Lucas Matheus, de 8, e do amigo deles, Fernando Henrique, 11.

O caso das crianças que desapareceram na comunidade Castelar, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no último dia 27, é um dos poucos de 2020 que ainda não foram solucionados pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).

A especializada tem um Setor de Descoberta de Paradeiros (SDP) para investigar desaparecimentos que acontecem nos 11 municípios da Baixada. No ano passado, o núcleo, composto por seis policiais, registrou 810 casos e encontrou 673 desaparecidos, o que representa uma taxa de elucidação de 83,3%. O número é similar ao registrado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, que também possui um um setor de descobertas e é responsável pelos casos nos municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.

Crianças fogem do perfil de desaparecidos

De acordo com o delegado Uriel Alcântara, titular da DHBF, registros de desaparecimento de crianças são atípicos e chamam atenção dos policiais. Desde de o início das investigações do sumiço de Alexandre, Lucas e Fernando Henrique, a especializada já realizou buscas em mais de 40 lugares, entre cidades da Baixada Fluminense e bairros do Rio.

"Não é comum criança desaparecer. Quando você fala que uma criança desapareceu, ela desapareceu mesmo, não saiu para dar uma volta, curtir e voltar uns dias depois. Desaparecimento de adolescente é comum, adolescente faz isso de sair e voltar, adulto faz, criança não e se torna uma prioridade para a delegacia", explicou.
Delegado titular da DHBF, Uriel AlcântaraLuciano Belford/Agencia O Dia


O levantamento feito pelos agentes do SDP da DHBF aponta que a maioria das pessoas desaparecidas tem idades entre 15 e 25 anos, que sumiram motivadas por conflitos familiares.

"Aqui temos muito registro de adolescentes desaparecidos, mas a maioria costuma aparecer. Meninas saem mais por conflitos familiares, meninos saem também para ir para festas. São poucos casos de crime em si, de pessoa raptada e mantida em cárcere. Muitos problemas são sociais. Mas também tem os casos de pessoas que desaparecem por problemas mentais, e que passam mal na rua, algum infarto, por exemplo, vem a óbito e ficam alguns dias como indigentes e desaparecidas para a família", esclarece Alcântara.

Dos 810 casos de desaparecimento investigados pela DHBF em 2020, apenas 48 foram encontrados mortos, seja por homicídio ou causa natural, e 26 se tornaram inquéritos de homicídios com ocultação de cadáver. 
Conflitos familiares são os que mais provocam os desaparecimentos, segundo a FIA
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Na DH de Niterói, a maior parte dos casos de desaparecidos são adolescentes que fogem de casa
Saiba como registrar um desaparecimento
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O registro de desaparecimento pode ser realizado em qualquer delegacia, independente da faixa etária da pessoa. Na Capital, os casos são encaminhados para serem investigados pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros.
Na Baixada Fluminense, as ocorrências serão transferidas para o Setor de Descoberta de Paradeiros da DHBF. Já nas cidades de Niterói, Itaboraí, São Gonçalo e Maricá, as investigações ficam por conta do SDP da DH de Niterói. 
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Em casos de desaparecimento de menores, o fato também pode ser notificado à FIA.
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