Ataque a tiros em bar deixa três mortos e três baleados em São João de Meriti. Na foto,ainda haviam muitas balas no chão próximo do bar onde o fato aconteceu.
Ataque a tiros em bar deixa três mortos e três baleados em São João de Meriti. Na foto,ainda haviam muitas balas no chão próximo do bar onde o fato aconteceu.Estefan Radovicz / Agência O Dia
Por O Dia
Rio - A virada do ano uma das datas mais esperadas pelos cariocas, depois de um 2020 turbulento por conta da pandemia da covid-19. O ano de 2021 chegava para renovar as esperanças. Não houve muitas festas, mas as famílias decidiram se reunir em suas casas. A tradicional queima de fogos de Copacabana, depois de muitos anos, fora cancelada. Naqueles primeiros segundos do novo ano, a pequena Alice Pamplona da Silva, de 5 anos, estava na laje de casa ao lado da família acompanhando a queima de fogos no Morro do Turano, Rio Comprido, quando foi atingida por um tiro e não resistiu. Alice se tornara a primeira das três crianças com idade inferior a 12 anos baleadas no mês de janeiro, na Região Metropolitana do Rio, segundo relatório da Plataforma Fogo Cruzado, divulgado com exclusividade ao O DIA. O documento, que compara o último mês de 2020, mostra que janeiro de 2021 começou mais violento.
Somente nos 31 primeiros dias do ano, o número de tiroteios ou disparos de arma de fogo aumentou em 35%, se comparado aos últimos 31 dias do ano passado, 412 tiroteios no total, contra 306 no mês anterior. O número de mortos e de feridos nesses tiroteios também foi maior em janeiro. Das 206 pessoas baleadas, 107 morreram e 99 ficaram feridas. Houve aumento de 149% no número de mortos e de 80% no de feridos em comparação com o mês anterior, que teve 43 mortos e 54 feridos. Entre crianças e adolescentes foram sete baleados, desses três morreram.
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"Essa onda de violência é assustadora. Infelizmente andamos com medo nas ruas, não sabemos o que pode acontecer a qualquer momento. A pessoa pode sair de uma loja e dar de frente com um criminoso armado fugindo da polícia. Um disparo pode acertar uma pessoa inocente. A realidade é ainda mais triste para quem mora em uma comunidade. Os tiros acontecem a todo momento. Acontecem quando tem uma guerra entre traficantes ou quando a polícia faz uma operação. Essas pessoas estão mais expostas", diz a dona de casa Elane Luíza da Conceição, 42 anos, moradora do bairro Pacheco em São Gonçalo, que teve um parente baleado neste mês.
Casos recentes que expõe a violência na Região Metropolitana ocorreram no fim de semana. No domingo (31), o gari Marcelo Almeida da Silva, de 39 anos, morreu atingido por um tiro de fuzil, na Vila Cruzeiro, na Penha, na Zona Norte do Rio, quando saia para trabalhar. Ele ficou no meio do fugo cruzado durante um confronto entre PMs e traficantes. No sábado, um ex-policial militar e seu segurança foram atacados por bandidos armados com fuzil, na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Eles estavam em um carro blindado atingido por mais de 25 tiros calibre 5.56. O ex agente de segurança é apontado como braço-direito de um chefe de quadrilha da Zona Norte do Rio e pode ter sido vítima de uma emboscada. Momentos antes, um motorista que passava pela Linha Amarela levou um tiro na cabeça, na altura de Del Castilho, durante uma perseguição policial.
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"2021 não começou bem. Além do medo causado pelo aumento dos casos de Covid, a violência armada volta a preocupar. Esses dados precisam servir como um sinal de alerta para as autoridades. Se 2021 seguir a tendência de janeiro, o ano ficará marcado não apenas pela alta de mortes por Covid, mas também pelo aumento de mortes a tiros", alerta Maria Isabel Couto, gestora de dados do Fogo Cruzado.

Rio lidera, seguido de São Gonçalo

Os dados da plataforma Fogo Cruzado revelam que a capital fluminense registrou o maior número de tiroteios, 224 no total. Em seguida, vieram São Gonçalo (71), Belford Roxo (31), Duque de Caxias (24) e Niterói (16).

A Vila Kennedy, bairro campeão de tiroteios em todo o ano de 2020, 2019 e 2018, permaneceu na primeira posição do ranking entre os bairros da capital com mais tiros em janeiro. Foram 29 registros, quase o dobro do segundo colocado Quintino Bocaiuva, com 17 registros. Na sequência vêm Complexo do Alemão, 12, e Madureira, 10.
Rio e São Gonçalo empatam no número de mortos por tiros, com 33 cada cidade. 
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Tiroteios com a presença da polícia caiu
Apesar do aumento nos indicadores da violência armada com relação a dezembro, se comparado com o início de 2020, quando o país não enfrentava a pandemia do coronavírus, houve queda de 4% nos registros: em janeiro de 2020 foram 430 tiros. O número de tiroteios com a presença de agentes de segurança também caiu 12%: dos 412 tiroteios que ocorreram no Grande Rio em janeiro de 2021, 127 deles tiveram participação de agentes. Já no mesmo período de 2020 foram 144 registros com presença de agentes.

Também houve queda de 9% na quantidade de mortos em comparação com o mesmo mês de 2020, quando, dos 211 baleados, 118 morreram e 93 ficaram feridos.

Veja mais alguns detalhes sobre a violência armada no Grande Rio em janeiro:

- Os dias 22 e 23 de janeiro tiveram tiroteios no mês: com 24 em cada. O dia 12 teve o maior número de mortos (12) e o dia 7 o maior número de feridos (8).

- Janeiro teve 51 tiroteios/disparos de arma de fogo em áreas com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Em 16 destes tiroteios houve participação de agentes de segurança. Ao todo, 7 pessoas foram mortas e 5 ficaram feridas nessas áreas. Complexo do Alemão (12), Andaraí (11) e Turano (4) foram as áreas com mais tiros.
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- A Zona Norte do Rio, com 130 registros, concentrou 32% do total de tiroteios/disparos de arma de fogo acumulados no Grande Rio em janeiro (412). Leste Metropolitano (95), Baixada Fluminense (93), Zona Oeste (70), Centro (19) e Zona Sul (5) vieram na sequência. 
- O ano de 2021 começou seu primeiro mês com aumento de 50% no número de chacinas: foram 6 em janeiro, com 23 mortos no total. Em 4 delas houve presença de agentes de segurança. No mesmo período de 2020 foram 4 casos que totalizaram 14 mortos, todos com participação de agentes
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- Quinze agentes de segurança foram baleados no Grande Rio em janeiro: destes, 5 morreram. Entre os mortos, todos estavam fora de serviço. Entre os feridos, 6 estavam em serviço e 4 estavam fora do posto de trabalho. Em janeiro de 2020, o número de agentes baleados foi quase o mesmo: dos 16 atingidos, 7 morreram. Entre os mortos, 4 estavam fora de serviço e 1 era aposentado. Entre os feridos, 4 estavam em serviço e 5 estavam fora de serviço.
- Onze pessoas foram vítimas de bala perdida no Grande Rio em janeiro: quatro delas não sobreviveram. Entre as vítimas estava Andressa Vianna, de 18 anos, atingida por uma bala perdida no Cebolô, no bairro Arsenal, em São Gonçalo, no dia 11. A jovem voltava para casa no momento em que agentes de segurança em patrulhamento foram alvo de tiros. Já em janeiro de 2020, foram 19 pessoas atingidas por bala perdida, 13 delas sobreviveram.
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- Em janeiro, três crianças (com idade inferior a 12 anos), quatro adolescentes (entre 12 anos e 17 anos) e três idosos (com idade a partir de 60 anos) foram baleados no Grande Rio. Destes, uma criança, dois adolescentes e um idoso morreram. Em janeiro de 2020, quatro crianças, cinco adolescentes e seis idosos foram baleados: destes, uma criança, dois adolescentes e cinco idosos morreram.