Publicado 10/02/2021 17:59
Rio - Três vigilantes do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) que estavam de plantão na madrugada desta quarta-feira foram demitidos do serviço no hospital por, segundo eles, terem sido responsabilizados no caso da morte do motorista de aplicativo Alexandre Jorge Monteiro de Souza, de 40 anos. Ele faleceu, vítima de facadas, na porta da emergência da unidade, para onde teria se dirigido em busca de socorro. O DIA ouviu um dos vigilantes, que alega ter sido dispensado injustamente.
A emergência do HFB está fechada desde o incêndio que atingiu, em 27 de outubro do ano passado, o prédio 1 da unidade, onde funcionava o serviço.
"O portão da emergência está lacrado, com corrente e cadeado e uma placa dizendo que o setor está fechado. Não há nenhuma placa informando que o atendimento foi transferido para outro local do hospital. Essa situação não pode cair na nossa conta. Se a emergência não está funcionando, isso não é culpa nossa. Estamos sendo bode expiatório nessa história", diz Fernando Alberigues da Silva, de 43 anos, que foi demitido depois de 13 anos de serviço no hospital.
Os outros vigilantes dispensados são Dezanias Nascimento e Josivaldo Alves. Eles tinham 16 anos e 14 anos de serviço no hospital, respectivamente.
"Nós, vigilantes, ficamos dentro do hospital. E há um vidro fosco que impede de vermos o que acontece do lado de fora. E quem está do lado de fora não consegue ver a parte de dentro. A função dos vigilantes que ficam na emergência é impedir que funcionários do hospital entrem no setor sem autorização da direção. Após a morte do motorista, nos ligaram do setor de zeladoria e hotelaria do hospital dizendo para nos apresentarmos na empresa terceirizada, que está avaliando se vamos trabalhar em outro local ou se seremos demitidos mesmo. Mas o hospital nos dispensou", explica Fernando, acrescentando que a orientação que recebem caso alguém procure a emergência é informar que o paciente deve procurar atendimento nos hospitais mais próximos: Souza Aguiar, no Centro, ou Getúlio Vargas, na Penha.
Porém, mesmo com a emergência do HFB fechada, as pessoas continuam buscando atendimento no setor. Na quinta-feira passada, um ônibus entrou pela contramão na rua do hospital, a Avenida Londres, para socorrer um passageiro de 63 anos que havia tido um mal súbito no coletivo.
Uma viatura da PM acompanhava o ônibus. Policiais entraram no hospital em busca de atendimento para o senhor. Comerciantes da região que presenciaram a cena contam que uma médica que deixava o serviço na hora ordenou a um maqueiro que levasse o paciente para o interior do hospital. Os médicos tentaram reanimá-lo numa sala improvisada como emergência no prédio 2 para atender exclusivamente à demanda do ambulatório do hospital, mas o homem não resistiu.
Quem trabalha na região conta que, há cerca de duas semanas, uma viatura policial chegou ao HFB para tentar socorrer um policial civil baleado. O atendimento foi negado e os colegas tiveram que levá-lo para outro hospital.
Já no caso mais recente, nesta quarta-feira, mesmo dia da morte de Alexandre Jorge Monteiro de Souza, um homem com o braço ensanguentado procurou a emergência e foi orientado a buscar outra unidade de saúde. Porém, segundo testemunhas que trabalham na região, ele foi atendido após a imprensa, que estava no local, registrar a negativa no atendimento.
"Só aí foram atendê-lo, porque ligaram as câmeras e começaram a filmar", diz Esmeraldo Jesus de Matos, de 59 anos, que trabalha na região.
Segundo ele, praticamente todos os dias pessoas chegam à unidade buscando atendimento de emergência mesmo após o incêndio, que matou três pacientes. A Polícia Federal apura o caso: "Mesmo antes da tragédia já não atendiam por falta de profissionais. Só facada e tiro, aí entrava. Mas se o paciente estivesse passando mal ou com dores tinha atendimento negado".
Policial que atua na região, um militar comenta de que forma a falta da emergência, que está situada praticamente na esquina da Avenida Brasil, prejudica o trabalho da polícia na região e consequentemente a segurança da população.
"Em casos de acidentes, confrontos armados ou mesmo algum cidadão que passa mal, nós temos que nos deslocar para longe para podermos atender a ocorrência, ou no Souza Aguiar, no Centro, no Salgado Filho, no Méier, ou no Evandro Freire, na Ilha do Governador. É um risco maior para a população e aumenta o nosso estresse", diz o PM.
EMERGÊNCIA IMPROVISADA
Segundo profissionais do HFB ouvidos pelo DIA, haveria condições de atender os casos de risco de morte na emergência que foi montada exclusivamente para atender os pacientes do setor ambulatorial do hospital. São seis leitos de ressuscitação no prédio 2, que poderiam atender à demanda externa à unidade caso fossem ativados leitos de UTI disponíveis no edifício.
De acordo com um médico da unidade, a ativação desses leitos não é viável no momento porque, após o incêndio, 17 médicos intensivistas e cerca de 30 médicos que atuavam na emergência foram transferidos para outros hospitais.
Há, ainda, um segundo fator. Segundo um profissional que atua no hospital, a direção da unidade não ativa outros espaços devido a incertezas quanto à capacidade da rede elétrica.
"Praticamente tudo está funcionando à meia bomba no hospital, pois ninguém sabe exatamente as condições da rede elétrica. A direção tem medo de sobrecarga de energia, o que poderia ocasionar um novo incêndio", relata o profissional.
O DIA procurou o Ministério da Saúde e a direção do HFB, e aguarda respostas sobre as denúncias apresentadas nesta reportagem.
A emergência do HFB está fechada desde o incêndio que atingiu, em 27 de outubro do ano passado, o prédio 1 da unidade, onde funcionava o serviço.
"O portão da emergência está lacrado, com corrente e cadeado e uma placa dizendo que o setor está fechado. Não há nenhuma placa informando que o atendimento foi transferido para outro local do hospital. Essa situação não pode cair na nossa conta. Se a emergência não está funcionando, isso não é culpa nossa. Estamos sendo bode expiatório nessa história", diz Fernando Alberigues da Silva, de 43 anos, que foi demitido depois de 13 anos de serviço no hospital.
Os outros vigilantes dispensados são Dezanias Nascimento e Josivaldo Alves. Eles tinham 16 anos e 14 anos de serviço no hospital, respectivamente.
"Nós, vigilantes, ficamos dentro do hospital. E há um vidro fosco que impede de vermos o que acontece do lado de fora. E quem está do lado de fora não consegue ver a parte de dentro. A função dos vigilantes que ficam na emergência é impedir que funcionários do hospital entrem no setor sem autorização da direção. Após a morte do motorista, nos ligaram do setor de zeladoria e hotelaria do hospital dizendo para nos apresentarmos na empresa terceirizada, que está avaliando se vamos trabalhar em outro local ou se seremos demitidos mesmo. Mas o hospital nos dispensou", explica Fernando, acrescentando que a orientação que recebem caso alguém procure a emergência é informar que o paciente deve procurar atendimento nos hospitais mais próximos: Souza Aguiar, no Centro, ou Getúlio Vargas, na Penha.
Porém, mesmo com a emergência do HFB fechada, as pessoas continuam buscando atendimento no setor. Na quinta-feira passada, um ônibus entrou pela contramão na rua do hospital, a Avenida Londres, para socorrer um passageiro de 63 anos que havia tido um mal súbito no coletivo.
Uma viatura da PM acompanhava o ônibus. Policiais entraram no hospital em busca de atendimento para o senhor. Comerciantes da região que presenciaram a cena contam que uma médica que deixava o serviço na hora ordenou a um maqueiro que levasse o paciente para o interior do hospital. Os médicos tentaram reanimá-lo numa sala improvisada como emergência no prédio 2 para atender exclusivamente à demanda do ambulatório do hospital, mas o homem não resistiu.
Quem trabalha na região conta que, há cerca de duas semanas, uma viatura policial chegou ao HFB para tentar socorrer um policial civil baleado. O atendimento foi negado e os colegas tiveram que levá-lo para outro hospital.
Já no caso mais recente, nesta quarta-feira, mesmo dia da morte de Alexandre Jorge Monteiro de Souza, um homem com o braço ensanguentado procurou a emergência e foi orientado a buscar outra unidade de saúde. Porém, segundo testemunhas que trabalham na região, ele foi atendido após a imprensa, que estava no local, registrar a negativa no atendimento.
"Só aí foram atendê-lo, porque ligaram as câmeras e começaram a filmar", diz Esmeraldo Jesus de Matos, de 59 anos, que trabalha na região.
Segundo ele, praticamente todos os dias pessoas chegam à unidade buscando atendimento de emergência mesmo após o incêndio, que matou três pacientes. A Polícia Federal apura o caso: "Mesmo antes da tragédia já não atendiam por falta de profissionais. Só facada e tiro, aí entrava. Mas se o paciente estivesse passando mal ou com dores tinha atendimento negado".
Policial que atua na região, um militar comenta de que forma a falta da emergência, que está situada praticamente na esquina da Avenida Brasil, prejudica o trabalho da polícia na região e consequentemente a segurança da população.
"Em casos de acidentes, confrontos armados ou mesmo algum cidadão que passa mal, nós temos que nos deslocar para longe para podermos atender a ocorrência, ou no Souza Aguiar, no Centro, no Salgado Filho, no Méier, ou no Evandro Freire, na Ilha do Governador. É um risco maior para a população e aumenta o nosso estresse", diz o PM.
EMERGÊNCIA IMPROVISADA
Segundo profissionais do HFB ouvidos pelo DIA, haveria condições de atender os casos de risco de morte na emergência que foi montada exclusivamente para atender os pacientes do setor ambulatorial do hospital. São seis leitos de ressuscitação no prédio 2, que poderiam atender à demanda externa à unidade caso fossem ativados leitos de UTI disponíveis no edifício.
De acordo com um médico da unidade, a ativação desses leitos não é viável no momento porque, após o incêndio, 17 médicos intensivistas e cerca de 30 médicos que atuavam na emergência foram transferidos para outros hospitais.
Há, ainda, um segundo fator. Segundo um profissional que atua no hospital, a direção da unidade não ativa outros espaços devido a incertezas quanto à capacidade da rede elétrica.
"Praticamente tudo está funcionando à meia bomba no hospital, pois ninguém sabe exatamente as condições da rede elétrica. A direção tem medo de sobrecarga de energia, o que poderia ocasionar um novo incêndio", relata o profissional.
O DIA procurou o Ministério da Saúde e a direção do HFB, e aguarda respostas sobre as denúncias apresentadas nesta reportagem.
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