Deputado Daniel Silveira (PSL)
Deputado Daniel Silveira (PSL)BETINHO CASAS NOVAS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Por Thuany Dossares
Rio - As câmeras da Superintendência da Polícia Federal do Rio, na Praça Mauá, flagraram o momento em que os dois assessores do deputado federal Daniel Silveira entregaram celulares ao parlamentar, enquanto ele estava preso em alojamento da delegacia, que foi usado como uma cela improvisada. A Polícia Federal (PF) encaminhou um relatório com as imagens do flagrante e o depoimento dos envolvidos para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que decretou a prisão de deputado na noite do dia 16 de fevereiro.

De acordo a instituição, os responsáveis por repassar os celulares foram os assessores Mário Sérgio de Souza, Pablo Diego Pereira da Silva, que passaram a ser investigados. Um terceiro assessor Rafael Fernando Ramos também estaria envolvido. Nas imagens em que O DIA teve acesso, é possível ver que os aparelhos foram entregues separadamente por cada assessor, durante audiências com o advogado de Daniel Silveira, André Benigno Rios, no dia 17 de fevereiro, que presenciou tudo. 
Assessores foram flagrados entregando os celulares para o deputado - Reprodução
Assessores foram flagrados entregando os celulares para o deputadoReprodução
O primeiro aparelho foi entregue por Mário, às 9h05, durante a reunião com o advogado, na sala de visitas, também improvisada numa recepção da Superintendência da PF, que não pode ser acompanhada por policiais por conta do sigilo profissional. Às 9h40, ao pegar o celular mais uma vez, segundo a Polícia Federal, Daniel Silveira colocou o celular no bolso e depois, em uma atitude considerada dissimulada pelos agentes, foi até o balcão e pegou o carregador do aparelho.

O assessor passou toda madrugada do dia 17 na delegacia e foi embora apenas no final da manhã daquele dia, depois de falar com Daniel Silveira.

Em depoimento, Mário Sérgio falou que o parlamentar deixou seus celulares com ele após a prisão e chegou a anotar a senha do aparelho iPhone num pedaço de papel, para que ele mexesse no celular caso precisasse pegar algum contato na agenda. No entanto, ao ser questionado sobre o porque ter passado o aparelho, o assessor afirmou que não se recordava da situação.

Ao ser confrontado com as imagens das câmeras de vigilância, Mário Sérgio disse que deu o telefone para Daniel apenas fazer uma ligação, mesmo sem autorização dos policiais.

Segundo celular foi entregue no final da tarde

Na tarde do dia 17, Daniel Silveira teve mais uma audiência sigilosa com seu advogado André Rios, que foi acompanhada por seus assessores e também pela deputada federal Fabiana de Souza. Eles se encontram na sala de reunião por volta das 16h45, e cerca de uma hora e vinte depois o parlamentar custodiado recebe o segundo celular, entregue por um assessor, que a Polícia Federal acredita ser Rafael Fernando Ramos.
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Segundo o documento feito pela instituição, Rafael teria sido identificado por Pablo Diego, em depoimento. "Que perguntado quem era a outra pessoa que não aparece no print da imagem, mas que estava na sala, respondeu que acha que era o assessor RAFAEL;". 

Desta vez, o deputado federal coloca o aparelho dentro de sua calça para depois voltar ao alojamento feminino que estava sendo usado como cela. 
No relatório da PF, os agentes afirmam que as imagens analisadas não deixam dúvidas a respeito dos responsáveis por entrar com os celulares na delegacia e entregá-los ao deputado federal Daniel Silveira.
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"As imagens deixam evidente que os aparelhos foram entregues pelos seus assessores Mário Sérgio de Souza, Pablo Diego Pereira da Silva e outro ainda não perfeitamente qualificado, mas provavelmente se tratando de Rafael Fernando Ramos, (...) os quais, provavelmente, se aproveitaram da presença, de comum acordo com ele ou não, do advogado André Benigno Rios na sala de visita, para fazer a entrega dos aparelhos.", informa o documento. 
Segundo a PF, Pablo Diego e Mário Sérgio negaram, em seus termos de declaração, terem sido os responsáveis pela entrega dos aparelhos celulares. 
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Em relatório, a Polícia Federal também afirma que chegou a intimar o advogado de Daniel, André Benigno Rios, para prestar esclarecimentos, no dia 22, sobre o momento que os celulares foram entregues ao deputado em sua presença, mas ele não compareceu na data marcada. 
"As imagens revelam, claramente, que o advogado ANDRÉ BENIGNO RIOS viu, nas duas ocasiões, os aparelhos sendo entregues para o Deputado preso provisoriamente, sendo certo que a sua presença na visita a torna uma audiência privada com o cliente custodiado, ou seja, a garantia do sigilo da conversa entre o advogado e o cliente, possivelmente, foi utilizado pelos assessores do Deputado, para entrada e entrega dos aparelhos.", diz o ofício. 
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A Deputada Federal Major Fabiana, informou através de sua assessoria, que esteve presente na Polícia Federal para visita ao Deputado Federal Daniel Silveira na condição de amiga, seguindo então todos os protocolos determinados pela própria Polícia Federal, não tendo contato algum com nenhum celular do Deputado.
Procurado, o advogado André Benigno Rios ainda não respondeu a reportagem sobre o relatório da Polícia Federal. O DIA tenta contato com a assessoria jurídica dos assessores do parlamentar citados no documento da PF. 
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Para Polícia Federal, Daniel Silveira participou diretamente na entrega dos celulares 
Os celulares foram encontrados, às 12h do dia 18 de fevereiro, por policiais do Setor de Inteligência da Polícia Federal, no alojamento onde o deputado federal Daniel Silveira estava custodiado. A revista foi designada pelo Superintendente Regional. De acordo com o relatório, os eletrônicos estavam bloqueados e em modo avião, escondidos na mala do parlamentar, entre as roupas. Os aparelhos foram apreendidos, mas o deputado se negou a fornecer as senhas. 
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De acordo com o relatório, Daniel Silveira declara que os aparelhos foram entregues por um de seus visitantes, mas ele se negou a citar o nome do responsável. O parlamentar ainda teria afirmado, segundo o documento da PF, que os celulares chegaram até ele por volta das 14h do dia 17, o que não foi comprovado pelas imagens de câmeras de vigilância da delegacia. 
"As imagens analisadas não deixam dúvidas que houve um conluio entre o Deputado Federal custodiado e seus assessores, para a promoção da entrada dos aparelhos no cômodo restrito à custódia do Deputado Federal", informa o ofício. 
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Para os policiais, o parlamentar teve participação fundamental na ocasião. "As imagens também revelaram que o próprio Deputado Federal custodiado teve participação fundamental no ingresso dos aparelhos celulares apreendidos, no cômodo onde ficara custodiado, já que fora ele mesmo quem escondera os telefones no bolso de sua calça, na primeira ocasião, e dentro da calça, na segunda oportunidade, aproveitando- se de audiências privadas com seu advogado", afirma o relatório.
A Polícia Federal ainda informou que foram realizadas oitivas dos delegados chefes das três equipes que estiveram de plantão enquanto Daniel Silveira ficou custodiado na delegacia, antes de ser transferido para o Batalhão Especial Prisional da PM, em Niterói, no dia 19. Segundo a instituição, não ficou constatada a participação de nenhum agente da PF na entrada dos celulares no local. 
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Os celulares encontrados com o deputado federal Daniel Silveira foram encaminhados ao Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, no dia 22 de fevereiro, para perícia de desbloqueio e extração conteúdo, com posterior remessa do laudo diretamente para o Supremo Tribunal Federal, conforme determinação Ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Em nota, a assessoria de imprensa do parlamentar informou que ratificou como ocorreram os fatos, tanto na sede da Polícia Federal quanto no relato dado ao procurador. Ainda segundo a nota, Daniel afirmou nos relatos que, desde o momento da prisão em sua casa até a chegada na superintendência da Polícia Federal, não houve revista pessoal ou solicitação de recolhimento de aparelho.

"O relatório apresentado pela Polícia Federal é parcial, omite a questão de não ter ocorrido revista pessoal do deputado, nem dos itens que portava, como também é tendencioso ao exibir uma imagem de um assessor que apenas devolve o aparelho para o parlamentar, que havia passado anteriormente a ele para checar os grupos de trabalho. Não houve em nenhum momento entrada dissimulada de aparelho", declarou a assessoria.
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