Henry Borel, de 4 anos, morreu em março após sofrer 23 lesões
Henry Borel, de 4 anos, morreu em março após sofrer 23 lesõesreprodução
Por Jorge Costa*
Rio - As investigações sobre a morte do menino Henry Borel, de quatro anos, constataram que o menino sofria agressões dentro de casa antes de falecer. Uma das reações do garoto horas antes de ser agredido e levado ao hospital, na madrugada de 8 de março, foi ter vomitado, chorado e ter pedido ao pai, o engenheiro Leniel Borel, para não voltar para casa em que morava com a mãe Monique Medeiros e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho. Jairinho e Monique foram presos na quinta (8) após a confirmação da investigação apontar os dois como suspeitos pela morte do menino. O DIA procurou as psicólogas Aline Saramago e Claudia Melo para apurar quais sinais podem indicar se uma criança é ou foi vítima de violência doméstica.

Claudia Melo alertou que a violência pode trazer prejuízos permanentes para o desenvolvimento da criança. Os sintomas iniciais podem ser sinais de segurança e, em casos graves, automutilação. Aline Saramago destacou que quando a criança desconfiar de um adulto, o ideal é afastá-la.

Como saber que a criança é vítima de violência?

"(Para saber se a criança é vítima de violência, é possível perceber) falando sobre violência com ela. Claro que a violência física é mais visível, porque vão aparecer hematomas, é mais fácil identificar. Mas existem outros tipos de violência, como a sexual, psicológica, mas entendendo sobre todos esses outros aspectos, há maneiras de perceber que a criança está vivendo algum tipo de violência, que ela não é tão natural como as outras em relação a inocência, a linguagem, ao comportamento mais acuado, dificuldade de se expressão, uma suposta timidez que se traduz em medo de se comunicar... Ela está sempre desconfiada, porque infelizmente a pessoa em quem confiava acabou a machucando de alguma forma", comentou Cláudia.

Aline completou: "A gente percebe quando a criança está sofrendo quando ela apresenta alguns sintomas ou sinais de ansiedade, como náuseas, vômito, quando ela treme, quando parece que ela não quer ter aquele contato. Muitas vezes ela fica irritada ou chateada, podendo desenvolver tiques e manias. Ela pode buscar um apego maior a um membro da família. De todo modo, a criança fala de sua maneira e é importante ouvir a criança, para que possamos também saber o que está acontecendo, conquistarmos sua confiança e sermos dignos disso. Se a criança diz que ela não gosta de um adulto, o ideal é afastar".

Como a violência pode influenciar no desenvolvimento de uma criança?
"A violência pode afetar o desenvolvimento de várias formas, afetando o relacionamento com pares e colegas, o desenvolvimento amoroso, a questão escolar também é um impacto importante. Os professores podem perceber isso e levar o problema aos pais. Às vezes, a perda de foco nos estudos tem a ver com a questão emocional, por conta da ansiedade, estresse ou até mesmo a depressão que a criança está vivendo, seja pelo fato da violência ou por ela não se sentir amada, acolhida ou ouvida", comentou Aline Saramago.

"Ela vai ter mais dificuldade em se comunicar. A violência pode gerar algum tipo de insegurança e medo nela, como não confiar no seu potencial. Então você percebe uma baixa autoestima, dificuldade de concentração, dependendo do tipo de violência isso traz uma dificuldade cognitiva, por exemplo, ou ela pode desenvolver também ansiedade e pânico. Em alguns casos mais graves, ela pode estar passando por uma situação de violência e começa a passar pelo processo de automutilação, aí vem os pensamentos suicidas. É muito delicado e é importante observarmos a criança, porque ela vai sinalizar e se o adulto ignorar os sinais, consequentemente isso vai trazer prejuízos no futuro", explicou Claudia Melo.

Quais são os canais disponíveis para denúncias de maus tratos?

O Disque 100 é um dos números de ouvidoria dos Ministérios Públicos. A família pode acessar também o Conselho Tutelar ou fazer o Boletim de Ocorrência na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.

A Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Defensoria Pública do Rio, também pode acompanhar o procedimento na Justiça e oferecer o acompanhamento necessário para que a criança seja amparada física, mental e psicologicamente.
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*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes