Portões trancados no acesso ao tomógrafo da Rocinha. Os exames, que foram interrompidos por falta de pagamento, voltaram a ser feitos na última semana
Portões trancados no acesso ao tomógrafo da Rocinha. Os exames, que foram interrompidos por falta de pagamento, voltaram a ser feitos na última semanaDaniel Castelo Branco
Por Bernardo Costa
Rio - Três tomógrafos dos 12 que tiveram operação interrompida, no último dia 31, voltaram a funcionar na quarta-feira passada. Eles ficam no estacionamento da Igreja Universal, na Rocinha, na Clínica da Família Otto Alves de Carvalho, em Jacarepaguá, e no CMS Harvey Ribeiro, no Recreio dos Bandeirantes. Conforme O DIA noticiou com exclusividade no dia 4, todos os equipamentos foram desativados após a empresa AMO-RX Imagens Rio Radiologia LTDA. deixar a operação alegando dívida de R$ 3 milhões da prefeitura referente a dois contratos firmados na gestão Crivella.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde (SMS), os nove tomógrafos que ainda continuam fora de operação serão reativados "nos próximos dias". Já os outros três que voltaram a realizar exames agora estão sob operação da Organização Social (OS) Instituto Gnosis. Os serviços estão contemplados em dois contratos: um firmado no dia 1º deste mês, referente ao gerenciamento, operacionalização e execução das ações e serviços de saúde na área da AP 2.1 (Zona Sul) e UPA Rocinha, e que inclui a operação do tomógrafo da Rocinha; e outro da gestão anterior, homologado em 23 de julho de 2020, para o mesmo serviço na AP 4.0, onde estão os equipamentos das unidades de Jacarepaguá e Recreio. 
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Os dois contratos têm valores aproximados de R$ 200 milhões e R$ 230 milhões, respectivamente, e duração pelo prazo de dois anos. Segundo a SMS, o contrato firmado na gestão do ex-prefeito Marcelo Crivella sofreu ajuste para incluir a operacionalização do serviço de tomografia, cujo pagamento será realizado de acordo com a prestação de contas por exame realizado.
O DIA apurou que a OS Instituto Gnosis contratou a empresa RM Scan Serviços Médicos Ltda. para operar os três tomógrafos que voltaram a funcionar. Uma funcionária que atuava na operação de um dos tomógrafos quando a AMO-RX era responsável pelo serviço chegou a pedir emprego na RM Scan, e conta que estranhou o modelo de contratação: 
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"Antes era tudo certinho, com carteira assinada. Já o funcionário da RM Scan disse que não assinam carteira, que os contratos seriam via pessoa jurídica, sem depósito de fundo de garantia. Para ser admitido, a gente tinha que ser Microempreendedor Individual (MEI), e não precisaríamos declarar imposto de renda. Achei isso estranho... A empresa não presta contas?", disse a profissional, que não quis se identificar.  
O DIA procurou a RM Scan para esclarecimentos sobre a contratação de profissionais e prestação de contas, mas ainda não obteve resposta.
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Contratos em análise 
Segundo a SMS, a pasta ainda analisa de que forma irá proceder para colocar os outros nove tomógrafos em operação. 
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Os equipamentos que continuam parados são os que ficam na UPA Cidade de Deus, no estacionamento do Shopping Via Rio Pavuna; Clínica da Família Adib Jatene, na Maré; Policlínica Rodolpho Rocco, em Del Castilho; UPA Madureira; Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá; Policlínica Guilherme Manoel da Silveira, em Bangu; CMS Belizário Penna, em Campo Grande; e Policlínica Lincoln de Freitas Filho, em Santa Cruz. 
Além da empresa AMO-RX, a Telelaudo, que era responsável pela emissão dos laudos dos exames de tomografia, também deixou o serviço por falta de pagamento no contrato firmado com a gestão Crivella. A empresa alega cerca de R$ 1 milhão em dívidas
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"Se a atual gestão não se sensibilizar e não regularizar essa situação, teremos que tentar o pagamento pela via jurídica", diz Flávio Lanes, diretor-executivo da Telelaudo. 
Der acordo com a SMS, foram verificadas inconformidades nos contratos firmados com essas empresas na gestão passada, como ausência de cotação e de tomada de preços. Segundo a secretaria, esses contratos estão passando por rigorosa auditoria, e qualquer pagamento só poderá ser executado após o término desse processo. 
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Equipamento essencial 
Segundo uma técnica de radiologia que trabalhava na operação de um dos tomógrafos desativados, os equipamentos são essenciais no combate à covid-19: 
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"A grande maioria dos diagnósticos e controle da covid é feita pelos exames de tomografia, pois não tem teste de PCR para todo mundo. É pelos tomógrafos que se vê o quanto os pulmões estão comprometidos pela doença e, só por meio desse diagnóstico, as pessoas conseguiam internação de vaga zero, que são aquelas de extrema urgência, em que o paciente nem passa pela central de regulação por conta do risco iminente de morte. Esses tomógrafos ajudaram a salvar muitas vidas na pandemia".