Publicado 05/04/2021 15:36
Rio - O guia de turismo Cosme Felippsen passeava pela Gamboa, no último domingo, mostrando a um casal de visitantes a rica história da Zona Portuária do Rio. Resolveu levá-los até o Cais do Valongo, mas lá se espantou com o que viu: o sítio arqueológico, reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, em 2017, havia de transformado em uma verdadeira piscina.
"Estava com um casal de visitantes e eles me contrataram para mostrar o Morro da Providência. Passei no Cais e vinha dizer da importância desse achado (o local foi redescoberto em 2011, durante escavações das obras de revitalização do Porto). Quando cheguei aqui, me deparei com essa piscina. Domingo já estava cheio, mas nesta segunda-feira o nível da água está ainda maior", contou Cosme.
Segundo a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (CDURP), houve um "problema pontual na alimentação de energia elétrica da Light que mantém as três bombas submersas de drenagem no Cais do Valongo". "Assim que foi informada, a CDURP atuou no diagnóstico do problema e acionou técnicos da Light para a retomada da alimentação elétrica. O Cais fica abaixo do nível de Lençol Freático e, por isso o trabalho de drenagem é constante no sítio arqueológico", completou a companhia, em nota.
Não é a primeira vez que o Cais do Valongo sofre com alagamentos. Em julho do ano passado, um funcionário da secretaria de Conservação da prefeitura chegou a ficar submerso durante um trabalho de reparo. Um repórter da TV Globo que fazia uma entrada ao vivo ajudou a tirá-lo da água.
Local era porta de entrada de escravizados
O Cais do Valongo, bem próximo ao Porto do Rio, era o ponto de chegada de homens e mulheres vindos da África para serem escravizados no Brasil, principalmente no século XIX, período de maior movimentação do sistema escravista. Historiadores calculam que quase um milhão de escravizados passou pelo Cais, dos mais de cinco milhões explorados no Brasil. O local foi aterrado em 1904, durante obras de modernização da gestão do prefeito Pereira Passos, e redescoberto mais de cem anos depois.
"Estamos diante de um dos pouquíssimos patrimônios da humanidade do mundo. Aqui foi um dos maiores portais que receberam escravizados no planeta. O Brasil escravizou cerca de cinco milhões de pessoas, e só aqui passaram um milhão deles, aproximadamente. A partir do momento que tentamos resgatar esse legado, nossa história vai literalmente por água abaixo", lamenta o guia de turismo, nascido e criado no Morro da Providência.
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