Publicado 12/04/2021 05:00 | Atualizado 12/04/2021 10:04
A imagem é forte. O menino Henry Borel, 4 anos, está com seu pijama, pálido, com os olhos abertos, braços soltos, lábios azulados, parte do corpo enrolado em uma manta, no colo da mãe, que desce no elevador, na madrugada do dia 8 de março, às 4h09, acompanhada de Jairo Souza, o Jairinho.
A foto, que a reportagem não irá veicular em respeito à criança, consta no laudo de reprodução simulada que concluiu: Henry foi morto dentro do apartamento, entre 23h30 e 3h30 da manhã. Ou seja, quando o casal resolve levar o menino ao hospital, ele já estava morto havia, pelo menos, 39 minutos.
A polícia possui todas as filmagens do suposto socorro a Henry, por Monique Medeiros, sua mãe, e Jairinho. "São vídeos que fazem qualquer pessoa chorar copiosamente", disse um investigador à reportagem. A análise das imagens contradiz, segundo os peritos, a versão do casal de que a criança estava com vida ao ser levada à emergência hospitalar.
"(...)nota-se que Henry está extremamente pálido, devido ao choque hipovolêmico, e que o lábio está cianótico (...). A vítima tem abolição de motilidade e de tônus muscular, com consequente fácies hipocrática, sendo esse um sinal abiótico ou imediato de morte, o que significa que o óbito tinha ocorrido há pouco tempo", diz trecho do laudo.
O documento, com 36 páginas, assinado por oito peritos, relata o passo a passo da simulação da versão do casal sobre o que teria ocorrido na noite até a saída ao hospital. Um boneco, com peso e altura de Henry, foi usado. Dois policiais simularam ser Monique e Jairinho, já que eles não quiseram participar da reconstituição. Eles, inclusive, não atenderam sequer as ligações feitas pelos peritos, durante a simulação, para tirar dúvidas sobre a posição em que Henry estava ao ser encontrado, na versão deles, no chão do quarto.
Seguindo o depoimento do casal, após dar banho em Henry, eles o colocam na cama para dormir e passam a assistir a série Narcos, na sala. A criança acorda pelo menos três vezes e vai até o cômodo. Investigadores acreditam que as agressões possam ter começado quando Henry se dirigia à sala, interrompendo a série. No total, o documento enumera que a criança sofreu 22 lesões em diferentes partes do corpo. A causa da morte foi laceração hepática.
Poltrona evitava queda
No quarto do casal, onde Monique diz ter encontrado o filho caído no chão, de madrugada, com dificuldade para respirar, a polícia encontrou uma poltrona perto da cama.
De acordo com o depoimento da responsável pela faxina no imóvel, a poltrona era colocada virada para a cama, com um travesseiro em sua parte traseira, sempre que Henry pedia para dormir com a mãe. Isso era feito para evitar uma queda acidental da criança. E, ainda no depoimento, essa mesma empregada doméstica disse que, na manhã do dia 8, ao chegar para trabalhar, a poltrona estava encostada na cama.
A perícia, após medir a altura da cama, e altura da poltrona, disse que, mesmo que ocorresse uma queda da cama, ela não acarretaria as lesões sofridas pelo menino. E concluiu: "(...) peritos Legistas constituíram elementos técnicos de convicção que descarta a possibilidade de um acidente doméstico (queda), visto que todas as lesões citadas anteriormente apresentavam características condizentes com aquelas produzidas mediante ação violenta (homicídio)".
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