"Cada mãe, seja ela biológica ou a que reconhecemos nessa figura durante a vida, tem a sua própria fórmula mágica de cuidar dos filhos"
"Cada mãe, seja ela biológica ou a que reconhecemos nessa figura durante a vida, tem a sua própria fórmula mágica de cuidar dos filhos" Arte: Kiko
Por ANA CARLA GOMES
As matérias e os posts que antecediam a leitura do novo livro do poeta Fabricio Carpinejar, da Editora Planeta, já me davam a certeza de que eu gostaria de 'Coragem de viver'. É uma homenagem à sua mãe, a poetisa Maria Carpi, que chamou o filho de 48 anos de "arteiro" numa das reportagens que me atraíram para o lançamento. Uma das 57 reflexões da obra é intitulada 'Tomada de consciência' e se resume a um diálogo descrito por Carpinejar:
— Mãe, estava preocupado, não viu as minhas ligações?
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— Não tinha visto, deixei a minha alma carregando.
O papel das mães em nossa vida é tão essencial que me atrevo a dizer que elas também tomam suas decisões a partir de outro plano. E, às vezes, são até conjuntas. Como a minha e a do Kiko, meu talentoso colega no jornal, devem ter feito ao promoverem a união dos trabalhos de seus filhos. Com a sua arte, ele faz mágica ao transportar para o mundo das imagens as crônicas publicadas aqui aos domingos.
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Eis que me pego pensando na primeira vez em que fiquei doente após a partida da minha mãe. Não tive nada grave diante da pandemia que nos tira pessoas queridas dia a dia. Foi um tipo de gastroenterite viral, que me deixou de cama por dois dias. Se a minha mãe estivesse presente fisicamente, ela iria conferir o termômetro e dizer: "Viu, não está com febre!". Ou levaria algo para eu comer ou beber: "Minha filha, você precisa se alimentar". Ao fim do dia, diria: "É assim mesmo. Amanhã você já se sentirá mais disposta".
Foi aí que me dei conta de que a voz de mãe é medicamentosa. Pode não ser um remédio igual aos que compramos na farmácia. Mas ela sara vários tipos de machucados, ameniza até os do coração e dá ainda uma injeção de confiança para as curas de que tanto precisamos. E não adianta querer encapsular essa fórmula. Cada mãe, seja ela biológica ou a que reconhecemos nessa figura durante a vida, tem a sua própria fórmula mágica de cuidar dos filhos.
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Por tantas vezes, quando crescemos e nos vemos no papel de cuidar delas, desejamos ter esse poder único que acalma, afaga e praticamente tira todas as dores. Não está em potinho nenhum e, mesmo que a lei deste mundo nos mostre que os encontros por aqui terminam, haverá sempre uma história eterna: a que construímos com as nossas mães.