Casal que aplicava golpes em imóveis é indiciado pela polícia; prejuízo já ultrapassa R$ 430 mil Reprodução / Redes Sociais
Por Yuri Eiras
Publicado 31/05/2021 08:29
Rio - Depois de anos morando em uma comunidade carioca, adquirir aquele imóvel em Todos os Santos, Zona Norte do Rio, parecia um sonho para Sabrina Núbia: casa com terraço, rua tranquila e arborizada, localizada a poucos metros de um shopping e do estádio Nilton Santos. O preço oferecido pelo corretor Leonardo Guttemberg, de 40 anos - R$ 90 mil, com entrada de R$ 25 mil e parcelas a perder de vista - era atraente. O ano era 2018. Guttemberg, que jamais entregou a casa e embolsou parte do valor pago pela interessada, foi indiciado, junto com a esposa Juliana Pereira, 27, por aplicar dezenas de golpes na venda de imóveis. O caso está registrado na 21ª DP (Bonsucesso).
A delegacia identificou mais de 15 registros policiais nos quais Guttemberg agia com a esposa e eventualmente uma amiga. Ele, no papel de corretor imobiliário - com registro no Conselho Regional. Elas, como falsas proprietárias do imóvel. Somente os ganhos ilícitos identificados pela polícia passam de R$ 431 mil.
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Casal que aplicava golpes em imóveis é indiciado pela polícia; prejuízo já ultrapassa R$ 430 mil  - Reprodução / Redes Sociais
Casal que aplicava golpes em imóveis é indiciado pela polícia; prejuízo já ultrapassa R$ 430 mil Reprodução / Redes Sociais
"Depois de conseguir a autorização do proprietário para atuar como corretor, ele já tinha acesso ao imóvel para buscar as chaves e mostrar a casa. A partir daí, fazia o anúncio nas redes sociais e colocava um valor abaixo do padrão. Assim, atraía interessados. Nos encontros, ele levava a esposa, ou uma amiga, fingindo serem as donas do imóvel. Depois que fechava o negócio, eles levavam o comprador no cartório, redigiam o documento de sinal, e o cartório reconhecia firma. A pessoa que não está acostumada acredita que ter um documento formal do cartório, ao lado de um corretor, é sinônimo de segurança. Mas não é", explica o delegado titular da 21ª DP (Bonsucesso), Hilton Alonso.
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Sabrina Núbia foi enrolada pelo casal durante três anos, e nunca conseguiu as chaves do imóvel. A cada contato, Guttemberg dava uma justificativa diferente. "Ele postou um anúncio de uma casa em uma rede social, me interessei e liguei. Marcamos pessoalmente e fiquei apaixonada pela casa, tinha um bom terraço. Fechamos, e no cartório e ele me apresentou a Juliana como proprietária. Fomos para o banco e eu transferi R$ 25 mil, o valor da entrada, para a conta dela. Isso foi em 2018", conta Sabrina.
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"Ela falou que estava tudo certo, mas que precisava de uns dias para retirar alguns objetos do imóvel, como uma cama elástica infantil. E nesse período de tempo eles só estavam me enrolando. Foi quando comecei a desconfiar de alguma coisa. Isso durou anos. Nunca conheci a verdadeira proprietária", disse Sabrina.
"Ter uma casa própria fora da comunidade era muito importante para mim. Nesse meio tempo, minha mãe perdeu tudo durante uma enchente, foi uma série de dificuldades. Falei isso para ele, que não era justo, que gostaria pelo menos do reembolso. E ele sempre dava uma justificativa, pedia desculpas mas não resolvia. Depois de muito custo, eles me devolveram R$ 15 mil dos R$ 25 mil depositados. Ainda perdi R$ 10 mil", completou a compradora do imóvel.
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Vender e desaparecer: indiciado pela polícia teve ganhos de mais de R$ 600 mil com golpes
Um segundo caso de 'golpe da casa própria' investigado pela 21ª DP é o de Edmilson Soares, de 51 anos, também indiciado. A estratégia era parecida: após se apresentar como corretor e fechar negócio com o interessado, Soares pedia um depósito como sinal. Uma vez concretizada a transferência, o autor do golpe ficava incomunicável para as vítimas, bloqueando redes sociais e aplicativos como Whatsapp. Os verdadeiros proprietários, por sua vez, jamais recebiam os valores.
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Edmilson Soares, de 52 anos, se passava por corretor de imóveisDivulgação
Os 15 golpes registrados em ocorrências policiais renderam, segundo investigações, mais de R$ 600 mil para Soares. "A pessoa depositava o valor da entrada na conta dele e ele ficava com o dinheiro, e depois bloqueava qualquer tipo de contato. Autores de golpes desse tipo têm uma lábia, um tom de persuadir as pessoas", afirmou o delegado Hilton Alonso.
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Processos de cancelamento de matrícula dos indiciados tramitam no Conselho de Corretores de Imóveis: 54 registros foram cancelados nos últimos dois anos
O Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio (CRECI-RJ), afirmou, em nota, que de "forma incansável busca retirar de atuação aqueles que não seguem as diretrizes previstas no Código de Ética Profissional". O conselho expressou "indignação perante os casos", e "solidariedade e apoio às vítimas".
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Segundo o conselho, "encontra-se tramitando no Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis) o julgamento de reexame necessário proveniente de três decisões de cancelamento de inscrição" em relação a Leonardo Guttemberg dos Santos, um dos indiciados. Segundo o Creci, houve três decisões de cancelamento de inscrição contra ele. Também tramita no Conselho Federal de Corretores (Cofeci) o julgamento de reexame "proveniente da decisão de cancelamento de registro" de Juliana Pereira de Andrade, esposa de Leonardo.
Também há contra Edmilson Soares processos éticos em fase final de julgamento para a cassação do registro. O caso deve ser definido em junho. Nos últimos dois anos, o Creci registrou 54 decisões de cancelamento de inscrição, em primeira instância.
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